Contratado pela revista “Outside” para fazer uma reportagem a respeito da crescente comercialização da montanha, Krakauer, um alpinista experiente, foi ao Himalaia como cliente de Rob Hall, o guia de alta montanha mais respeitado do mundo. Nascido na Nova Zelândia, 35 anos, Rob Hall escalou o Everest quatro vezes entre 1990 e 1995, e nesse período levou 39 pessoas até o topo. Em 1996, subindo a montanha ao lado do grupo de Hall havia uma outra expedição, guiada por Scott Fischer, um americano de força e determinação lendárias que em 1994 alcançou o pico sem oxigênio suplementar.
Nos anos 70, o famoso alpinista tirolês Reinhold Messner surgiu como o principal proponente da escalada sem oxigênio suplementar, declarando que ou escalava o Everest "da forma correta" ou não escalava, e pronto. Pouco depois disso, ele e seu velho parceiro, o austríaco Peter Habeler, surpreenderam a comunidade internacional de alpinistas cumprindo a promessa: às 13h 00 do dia 8 de maio de 1978 eles chegaram ao cume pela trilha do colo sul e da crista sudeste sem usar oxigênio suplementar. O feito foi saudado em alguns círculos de alpinistas como a primeira verdadeira escalada do Everest.
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O Jornalista Krakauer relata a tragédia que abalou a história do alpinismo no Himalaia quando quase uma dezena de pessoas morreram ao tentar atingir o cume do Everest, graças a decisões equivocadas tomadas exclusivamente por razões financeiras, sem levar em conta o rigor do clima a mais de 8 mil metros de altitude.
O objetivo era a maior montanha de todas, o Everest. Os escaladores não eram experientes; eram pessoas que queriam apenas atingir o topo do mundo. Mas o clima não foi favorável.
No começo da tarde do dia 10 de maio de 1996, Jon Krakauer alcançou o cume do Everest, a 8.848 metros de altitude. Ele não dormia há mais de 56 horas e estava zonzo pela falta de oxigênio.
No caminho da volta para começar a longa e perigosa descida, outras 20 pessoas ainda se arrastavam em direção ao topo. Ninguém percebera que o tempo ameaçava piorar. Seis horas depois, à mil metros abaixo e exposto a um vento terrível, Krakauer finalmente chegou a sua barraca e ali se estatelou, congelando, sofrendo alucinações advindas da exaustão e da hipoxia. Mas estava vivo e salvo!
Na manhã seguinte Krakauer ficou sabendo que 6 de seus companheiros de escalada não tinham conseguido voltar ao acampamento e que tentaram desesperadamente sobreviver debaixo da tempestade. Mas quando o tempo por fim melhorou, ficara sabendo que 5 desses companheiros estavam mortos e o sexto tinha as mãos e o rosto quase completamente comprometidos pelo congelamento.
Enfim, depois dessa grande tragédia Krakauer conta toda a história, inclusive relatando vários casos de outros alpinistas que tentaram escalar a montanha. Krakauer faz uma reflexão sobre o encanto avassalador que o Everest exerce sobre as pessoas - inclusive ele mesmo -, levando-as a arriscar a vida, a ignorar os temores dos entes queridos e se aventurar numa tarefa duríssima e caríssima.
A história é contada com emoção, e por alguns momentos até nos sentimos envolvidos como se ali estivéssemos próximos dos acontecimentos. Um exemplo é o caso do sherpa Ngawang que em alta altitude teve um edema pulmonar com sangramentos e que uma luta muito grande pela equipe médica se travara para tentar salvá-lo. Mas o sherpa acabara morrendo mais para frente pelas sequelas ocorridas.
Outros casos também foram relatados por Krakauer como o da socialite Sandy Hill Pittman a qual chamava muita atenção por suas extravagâncias em levar tudo que tinha direito para a montanha: Iguarias finíssimas, televisão portátil, vídeo cassete, ou seja, cheia de estilo.
“Nas seis semanas anteriores antes das mortes já tinha havido uma série de acidentes sérios: a queda de Tenzing numa greta antes mesmo de ter chegado ao acampamento-base; o edema pulmonar de Ngawang Topche e a subsequente deterioração de seu estado; um alpinista inglês jovem e aparentemente em forma, chamado Ginge Fullen tivera um sério ataque cardíaco perto do topo da cascata de gelo; um dinamarquês chamado Kim Sejberg fora atingido por um serac na cascata de gelo e quebrara várias costelas. Só que até aquele momento ninguém tinha morrido, ainda”. “
"O alpinismo costuma atrair homens e mulheres que não abandonam seu objetivo com facilidade. Para chegar tão longe, é preciso obstinação. Infelizmente, o tipo de pessoa que é programada para ignorar desconfortos físicos e para continuar avançando rumo ao topo também é, com frequência, programada para ignorar os sinais de perigo iminente e grave. Aí está o nó do dilema que todo alpinista no Everest acaba tendo que enfrentar: para ter sucesso, você precisa estar bastante motivado, mas, se a motivação for excessiva, é provável que você morra”.
“Tinha que me lembrar, a todo momento, que havia 2133 metros de céu de ambos os lados, que ali era tudo ou nada, que eu pagaria com a própria vida por um único passo mal dado”.
“E aí me vi no topo de uma cunha delgada de gelo, adornada com um cilindro usado de oxigênio e uma surrada vara de medição de alumínio, sem ter mais o que subir. Uma fileira de bandeirinhas budistas agitavam-se ao vento com fúria. Chegar ao topo do Everest supostamente desencadeia uma onda de intensa alegria; apesar de todos os pesares, eu atingira uma meta cobiçada desde a infância. Porém o topo era, na verdade, apenas a metade do caminho. Qualquer impulso que eu pudesse ter sentido de autocongratulação foi eliminado de imediato pela apreensão horrenda que eu sentia diante da longa e perigosa descida que tinha pela frente”.
O piloto Adams, mais tarde explicara para Krakauer: “Quando você vê um cúmulo-nimbo do avião", explicou ele, "sua primeira reação é dar o fora dali o mais rápido possível”! Porém Krakauer quando ainda estava descendo a montanha, como não estava acostumado a olhar por cima os cúmulos-nimbos começou a descer a montanha ignorando a tempestade que naquela altura estava se formando.
“A luz do dia estava sumindo, o tempo piorando, minhas reservas de força estavam quase no fim. Ainda assim não tive nenhum pressentimento de que havia uma catástrofe se aproximando”.
Krakauer estava acabando de voltar às barracas do acampamento 4 quando “naquele brevíssimo período de tempo a tempestade se convertera repentinamente em um furacão de extrema violência”. Grãos de neve e gelo, açulados pelo vento, batiam no rosto dos alpinistas com força violentíssima, machucando-lhes os olhos e tornando impossível enxergar por onde estavam indo. "Estava tão difícil e penoso"!
Com a tempestade, Krakauer muito esgotado já estava a salvo na barraca, porém um grupo de alpinistas ainda estava preso na montanha.
"O vento estava tremendo, com força balística", ele conta. "A neve levantada pelo vento parecia um jato de areia ou algo assim”.
“A essa altura ninguém conseguia sair para ir resgatar os alpinistas, uns doentes, outros muito debilitados, outros com medo de ajudar. Foi então que Boukreev, um guia Russo resolveu sair sozinho bravamente na tempestade em busca de todo o grupo. Não encontrara ninguém. Voltou ao acampamento para obter mais indicações de outros e saiu novamente à procura. Foi então que encontrou os alpinistas deitados no gelo sem movimentos”.
“O vento continuava feroz — forte o bastante para me derrubar várias vezes”. Assim Jon Kraukeur saíra no outro dia a procura de seu amigo Andy Harris (Guia da Nova Zelândia), o qual não voltara pois havia morrido. Outros como Beck Wheathers (Cliente dos EUA), Doug Hansen (Cliente dos EUA) e Rob Hall (Nova Zelândia) também morreram. A esposa de Rob estava grávida de uma menina e antes de morrer Rob pediu à ela que colocasse o nome dela de Sara. Yasuko Namba (Cliente do Japão) de 47 anos, a mais velha do mundo a escalar o Everest e Beck Wheathers (Cliente dos EUA) foram deixados pela equipe de resgate sob a neve mas ainda estavam respirando. A tentativa de resgate colocaria em vida os outros alpinistas.
Scott Fischer (EUA, líder da expedição da Mountain Madness, um americano de força e determinação lendárias que em 1994 alcançou o pico sem oxigênio suplementar) atingira o cume mas estava muito debilitado. Ao lado de seu fiel e sidar sherpa Lopsang Jangbu, Scott Fischer tentava descer a montanha debaixo da tempestade com raios mas não conseguia mais andar. Lopsang, muito cansado, não tendo forças para carregar Scott Fischer teve que deixar o amigo há 365 metros acima do colo sul e descer para pedir ajuda. Porém quando alguns sherpas foram auxiliá-lo Scotty já estava morto. Os que tinham sobrevivido estavam em estado de choque, cegos, fracos, sem falas, congelados, com hipotermia, com delírios, etc.. Mais adiante Lopsang que voltara ao Everest novamente acabara morrendo também engolido por uma avalanche. Especula-se que Fischer tenha sofrido de uma forma avançada do mal de altitude, desencadeando um edema cerebral ou pulmonar. Foi construído um memorial para Scott Fischer, que pode ser encontrada no topo de uma colina chamada Dugla Pass, perto da aldeia de Dugla, na trilha para o acampamento base do Everest.
Yasuko Namba, a mulher japonesa de 47 anos acabara também morrendo. E Beck Wheathers (Aquele que estava quase morto debaixo da neve) impressionantemente conseguiu se reerguer sozinho e conseguiu chegar nas barracas andando. Depois disso a equipe chamou o helicóptero para levar ele e Makalu Gau Ming-Ho (Líder Tawan) ao hospital, pois ambos não conseguiam nem andar. Beck teve o braço direito amputado por causa da necrose por congelamento e todos os dedos da sua mão esquerda foram removidos, além do nariz amputado.
Neal Beidleman (Guia dos EUA) voltou a escalar o pico do everest em abril de 2011. Em 1997, Anatoli Boukreev (Guia da Rússia) morreu em uma avalanche enquanto escalava o Himalaia.
Heróis sonhadores que deliram com o Everest precisam ter em mente que, quando as coisas dão errado acima da zona da morte - e mais cedo ou mais tarde elas sempre dão -, nem o melhor guia do mundo consegue salvar a vida de um cliente; na realidade, como ficou provado com os acontecimentos de 1996, os melhores guias do mundo às vezes são impotentes para salvar até sua própria vida. Falhar, no Everest, faz parte da natureza dos sistemas, e de forma violenta..
Mensagem de um sherpa colocada na internet em 1996
Sou um órfão sherpa. Meu pai morreu na cascata de gelo do Khumbu enquanto transportava carga para uma expedição, no final dos anos 60. Minha mãe morreu logo abaixo de Pheriche, quando seu coração acabou cedendo sob o peso da carga que levava para uma outra expedição, em 1970. Três de meus irmãos morreram de causas variadas, minha irmã e eu fomos mandados para casas de adoção, na Europa e nos Estados Unidos.
Nunca mais voltei à minha terra natal porque acho que está amaldiçoada. Meus ancestrais chegaram à região do Khumbu fugindo de perseguições nas terras baixas. Ali encontraram um santuário, à sombra do "Sagarmathaji", "deusa mãe da terra". Em troca, meu povo deveria proteger o santuário dos estranhos.
Porém, eles foram pelo caminho oposto. Ajudaram os estranhos a encontrarem um caminho até o santuário e violar cada membro de seu corpo, ao se postarem em cima da deusa, bradando vitória, sujando e poluindo seu seio. Alguns se sacrificaram, outros escaparam por um triz ou ofereceram outras vidas em seu lugar.
[...]
Portanto, acredito que até os sherpas são responsáveis pela tragédia de 1996 em "Sagarmatha". Não lamento nunca mais ter voltado, porque sei que o povo da região está condenado, assim como estão aqueles ricos e arrogantes forasteiros que acham que podem conquistar o mundo. Lembrem-se do Titanic. Até mesmo o que não poderia ser afundado afundou, e o que são tolos mortais como Weathers, Pittman, Fischer, Lopsang, Tenzing, Messner, Bonington perante a "Deusa Mãe"? Como tal, jurei
nunca mais regressar e participar desse sacrilégio.