Utterson era um sujeito
tranquilo, de respeito, além de um competente advogado. Sua integridade era
notória e seus hábitos, louváveis. Mas era, como qualquer um, movido por
curiosidades. E uma das que mais lhe incomodava era o testamento de seu cliente
e amigo, Dr. Henry Jekyll.
Havia um tal Sr. Hyde na vida do
médico, um sujeito que, estranhamente, era herdeiro de Jekyll, ainda que não
tivessem nenhum parentesco, ainda que Utterson jamais tivesse visto o amigo
acompanhado desse tal Hyde. E o advogado ouvira bastante sobre esse misterioso
homem.
Os relatos das atrocidades
provocadas pelo Sr. Hyde parecia aumentar. A princípio, uma crueldade
"leve", a ponto de escandalizar um grupo de pessoas, mas não o
suficiente para torná-lo perigoso aos olhos da cidade. No entanto, suas
atitudes tornavam-se cada vez mais sádicas, como se um monstro sem moral e
limite aflorasse noite após noite, provocando dor e crime sem nenhum resquício
de remorso na manhã seguinte.
Utterson ficava cada vez mais
curioso a respeito dessa estranha relação entre o médico e um desconhecido com
má fama. Havia algo naquela história que o incomodava e, seguindo seus
instintos, decidiu que era hora de descobrir. E era nas respostas que o terror
se abrigava, longe da luz e de qualquer bondade que o coração humano pudesse
sentir.
Dr. Jekyll era, na verdade, o
próprio Dr. Hyde. A história em si é famosa, quando as pessoas usam a expressão
"médico e monstro" ao se referir a alguém de personalidade dupla, uma
boazinha e outra horrenda. Hyde era o monstro.
Utterson, no entanto, precisava
chegar a essa informação por conta própria e, ao receber Poole, o criado do seu
amigo, pôde perceber que a situação estava cada vez pior. Ao que parecia,
ninguém na casa de Jekyll queria aproximar-se do patrão.
"- Agora caminhe o mais silenciosamente
possível - disse Poole - é necessário que o senhor ouça sem, contudo, ser
pressentido. E, se ele o convidar a entrar, não o faça, em absoluto."
Utterson, depois de muita
dificuldade, obteve documentos que resolveriam todo o mistério. Dr. Hery Jekyll
desenvolvera uma droga capaz de transformar um homem, literalmente. Não apenas
sua personalidade, como seu próprio corpo sofria drásticas mudanças. A
transformação era dolorosa, mas ao fim dela, a sensação era libertadora. A nova
personalidade era desprovida de moral, de senso ou limite. Era capaz de fazer
tudo o que queria, até mesmo sentir prazer em causar sofrimento.
À princípio, segundo o diário de
Jekyll, o experimento era maravilhoso. Durante a noite, transformava-se em Hyde
e vivia uma vida sem barreiras ou peso de consciência. Era apenas ele e suas
vontades. Mas o controle de uso da droga fora negligenciado. Logo, Hyde
tornou-se a mente dominante e, para manter viva a aparência e sanidade de
Jekyll, era preciso tomar os remédios. O médico fora substituído pelo monstro
e, para mantê-lo latente, a droga era, agora, uma necessidade.
O fim, como toda história de
terror, não tem um final feliz, mas é de longe um fim trágico. Acho que podemos
dizer que a história termina com um grande nevoeiro e sombras ao pé da escada,
e ninguém nunca saberá o que há por trás disso.
Resumo por capítulos:
Capítulo 1: A história começa em um domingo, com o advogado Mr. Utterson e seu amigo Enfield caminhando pelas ruas de Londres. Enfield, em certo ponto da caminhada, aponta para uma porta e pergunta se Utterson conhecia o local. Utterson diz que não e Enfield conta que certa madrugada de inverno, presenciou uma garotinha sendo pisoteada ali perto. Após agarrarem o pisoteador, calmo e frio diante da multidão que se formou, e exigirem reparação, ele entrou por aquela porta e voltou com moedas de ouro e um cheque cuja conta pertencia a um cavaleiro de prestígio da cidade. Pensaram que o cheque era falsificado, mas aguardaram o banco abrir e descobriram que o cheque tinha fundos e o malfeitor podia ser libertado. O fato levou-os a pensar que o cheque tivesse sido obtido por meio de chantagem. Utterson fica sabendo que Hyde era o nome da pessoa que tinha a chave daquela porta e Enfield já havia visto-o entrar outras vezes lá. Os dois selaram um pacto, de não falarem mais sobre o assunto.
Há a descrição de Utterson.
Capítulo 2: Naquela noite, Utterson, advogado, analisou o testamento do Dr. Henry Jekyll, manuscrito, que estava guardado em seu cofre. O testamento deixava claro que Hyde era o beneficiário dos bens do médico cientista em caso de desaparecimento ou ausência inexplicável. Pensando na história contada por Enfield, fica preocupado e decide fazer uma visita ao ex-colega de escola e grande amigo, Dr. Lanyon, para tentar entender por que Hyde está incluído no testamento. Lanyon, afastado de Jekyll há quase uma década, por achar que o médico assumiu uma postura que não o agrada, não ajuda. Utterson vigia a porta por alguns dias, encontra Hyde e conversam. Utterson como Enfield tem sensação ruim e teme pela vida de Jekyll. Utterson vai à casa de Jekyll, o mordomo Poole diz que Jekyll não está, mas confirma para Utterson que o Sr. Hide tem a chave da edícula dos fundos e que todos os criados são orientados a obedecê-lo. Utterson sai convencido de que Jekyll está sendo chantageado por Hyde, talvez por coisas que tenha feito no passado. Utterson sai preocupado com Jekyll.
Capítulo 3: Duas semanas depois, Jekyll convida alguns amigos para jantar e entre eles, Utterson, que é o último convidado a ir embora e aproveita para perguntar a Jekyll sobre o testamento e desaprovar os termos do documento, pois soube algumas coisas sobre Hyde. Jekyll fica pálido ao ouvir o nome de Hyde e diz que sua relação com Hyde é estranha e dolorosa. Utterson insiste, e Jekyll diz que pode se livrar de Hyde quando quiser e Utterson não deve se preocupar mais. Assegurou-se de que os termos do testamento serão respeitados e conclui que apenas se faça a justiça, se for necessário.
Capítulo 4: Quase um ano se passa, numa noite de outubro, há o assassinato de Sir Danvers Carew, respeitado cavalheiro londrino, presenciado por uma empregada que reconheceu o Mr. Hyde como o assassino. A empregada desmaiou ao presenciar a agressão. No bolso da vítima, a polícia encontrou uma carta endereçada ao advogado Utterson, que, chamado, identificou a vítima. Utterson reconheceu uma bengala quebrada, que foi usada como a arma do crime, pertencendo ao Dr. Jekyll.
Utterson leva os policiais até à casa de Hyde e a revistam. Percebem que o mesmo saiu às pressas e atrás de uma porta encontram a outra metade da bengala usada no crime. O inspetor quis colocar cartazes de “PROCURADO” pela cidade, com o rosto de Hyde estampado neles, mas descobre ser impossível pois Hyde nunca fora fotografado e as pessoas que o viram são incapazes de descrevê-lo.
Capítulo 5: Mr. Utterson (O advogado) é recebido por Poole (mordomo) na casa de Dr Jekyll e é levado ao laboratório do lado de fora da casa e encontram Jekyll doente. Utterson quer saber se Jekyll esconde Hyde e este garante que nunca mais colocou ou colocará os olhos nele. Utterson continua preocupado com os termos do testamento e o que podem representar para a segurança de Jekyll. Utterson parte levando o bilhete que recebeu de Jekyll, escrito supostamente por Hyde, dizendo que não mais causará problemas ao doutor.
Ao chegar em casa, Utterson mostra o bilhete ao seu contador e especialista em grafologia, Mr Guest. Este acha que o bilhete foi escrito de modo estranho. Nesse momento, um empregado traz um convite de Jekyll para Utterson. Analisando e comparando ambas as caligrafias, Guest conclui que são similares, com pontos em comum, mas com inclinação oposta. Após ficar sozinho, Utterson guarda o bilhete no cofre, certo de que seu amigo Jekyll forjou o bilhete para encobrir Edward Hyde.
Capítulo 6: Ninguém deu a Scotland Yard informações sobre o assassinato de Carew. Hyde nunca mais foi visto. Jekyll, saudável, voltou a receber os amigos. De uma hora para outra, Poole impede Utterson de visitar Jekyll. Utterson preocupado com a saúde de Jekyll, resolve visitar o Dr Lanyon, mas este está doente, em profundo estado de terror e diz que nunca mais quer ouvir falar de Jekyll e que o considera morto.
Em casa, escreve uma carta a Jekyll querendo saber o que houve entre os dois ex colegas. No dia seguinte, a resposta de Jekyll, em forma de carta enigmática, vem afirmando que também não quer ver Lanyon nunca mais. Lanyon morre três semanas depois e Utterson recebe uma carta com dois envelopes, sendo instruído a abrí-la após a morte ou desaparecimento de Henry Jekyll. Fiel ao pedido, coloca o envelope no cofre. A partir desse terceiro dia, tenta reencontrar Jekyll mas o mordomo Poole não permite sua entrada à casa. Jekyll está vivendo sozinho em seu laboratório e não quer ver ninguém.
Capítulo 7: É domingo e o advogado Mr. Utterson e seu amigo Enfield estão caminhando pelas ruas de Londres. Eles passam novamente pela porta de Hyde (Aquela que haviam combinado de nunca mais falar) e voltam a falar sobre Hyde e a repulsa que se sente ao olhar para ele. Ambos decidem virar a esquina e tentar conversar com Jekyll. O encontro dos três é bastante DRAMÁTICO: Jekyll à janela, doentio e desanimado, diz aos dois que sente que sua morte está próxima e que será um grande alívio para ele mesmo. Recusa-se a caminhar com os dois e diz aos dois que os convidaria a subir, se não fosse a desorganização. Após dar um rápido sorriso aos amigos, muda sua fisionomia e sua face torna-se aterrorizada e desesperada, o que deixa os observadores assustados. Jekyll fecha a janela violentamente e os dois vãos embora pálidos e perturbados.
Capitulo 8: Mr. Utterson estava sentado junto à lareira certa noite após o jantar quando foi surpreendido pela visita de Poole.
"- Agora caminhe o mais
silenciosamente possível - disse Poole - é necessário que o senhor ouça sem,
contudo, ser pressentido. E, se ele o convidar a entrar, não o faça, em
absoluto."
Capítulo 9: Segundo Lanyon escreve, Jekyll mandou a ele uma carta pedindo-lhe o favor de ir à sua casa, entrar no laboratório e pegar todo o conteúdo de uma determinada gaveta. Depois Lanyon deveria levar tudo para a casa dele e entregar a uma pessoa que iria buscar.
Contrariado, Lanyon fez o favor a Jekyll. Um homem pequeno, deformado, usando roupas que ficavam muito grandes para ele foi à casa de Lanyon buscar o conteúdo da gaveta. Pegou o frasco e perguntou se Lanyon queria ver o que iria acontecer. Amedrontado, mas curioso aceitou ver. Ao beber a poção, a figura deformada deu um grito, contorceu-se e seu corpo como se derreteu, dando lugar a figura esguia e alta que Lanyon reconheceu ser Henry Jekyll.
Presenciar a transformação e ouvir os relatos de Jekyll fizeram que Lanyon ficasse totalmente descrente da medicina, da humanidade e de seus conhecimentos científicos. A criatura que havia entrado em sua casa era Edward Hide, o assassino de Sir Carew, e se transformara em Jekyll.
Capítulo 10: Em um relato em primeira pessoa, Jekyll fala de sua infância, de como se tornou um médico famoso, distinto e de suas primeiras experiências tentando estudar a natureza dual do ser humano. Jekyll afirma que estudou e refletiu muito antes de começar seus primeiros experimentos. Ele diz ter tomado a poção pela primeira vez e ter experimentado a sensação de ser uma pessoa totalmente má. Ele afirma que ao olhar-se no espelho, sua aparência física ficou mudada.
Ao voltar a ser Jekyll, ele passa a sentir necessidade de tomar novamente a poção, para viver a liberdade de ser outra pessoa, de estar no corpo de Hyde, pois este era jovem e vigoroso. Jekyll sentia que mesmo que Hyde fizesse coisas erradas, ele estaria isento de culpa, já que eram pessoas diferentes.
Aos poucos, a transformação em Hyde passou a fugir do controle do médico e Jekyll começou a temer o contato com as pessoas e a possibilidade de ferí-las sem querer, caso se transformasse em Hyde subitamente. Jekyll afirma que tentou abandonar Hyde após descobrir que havia assassinado uma pessoa, mas não conseguiu manter sua decisão. Hyde começou a lutar para assumir a vida de Jekyll. Certo dia, mesmo sem tomar a poção, transformou-se em Hyde e teve de pedir ao amigo Lanyon para ir ao laboratório pegar o antídoto. Naquela noite, Lanyon presenciou a transformação de Hyde em Jekyll, e isso foi demais para o amigo, que veio a falecer.
Jekyll não era mais capaz de controlar Hyde, que assumia seu corpo quando bem quisesse. Assim, Jekyll planeja eliminar Hyde da maneira mais drástica possível: Suicídio!