O bancário e escrevente Joseph K. acorda pela manhã e espera que Anna, a
cozinheira da Senhora Grubach lhe traga o café da manhã, como de costume.
Sentido a demora, Joseph K. vai à porta, encontra dois policiais que
estão ali para cumprir uma ordem de prisão contra ele. Joseph
K. exige uma
explicação, mas os mesmos aconselham-no a manter-se calmo e aguardar novas
instruções. Quando serviam o café, estes policiais o tomam, e com ar de
deboche, aconselham-no a dar-lhes seu pijama e suas roupas íntimas. Indignado
com as atitudes dos policiais, exige uma audiência com o Inspetor, que lhe é
negado. Confinado em seu quarto, fica impaciente. Fica sabendo que está preso,
na primeira audiência, que foi acusado pelo Tribunal e nem o próprio inspetor
sabe explicar o porquê, podendo trabalhar normalmente, desde que acompanhado
por outras três pessoas que o estarão vigiando.
No Banco, recebe um telefonema, informando a decisão
de que seria ouvido em audiência no domingo próximo. É recebido por uma bela
mulher, que o conduz a uma sala onde se encontram muitos homens, o Tribunal.
Revoltado com sua situação de prisioneiro, indaga o porquê da acusação, diz que
não os reconhece como autoridades, não entende como pode estar sendo mal
tratado, escoltado e vigiado por homens inescrupulosos e corruptos. Foi
aplaudido pela plateia. De repente, todos se voltam para a mulher bonita que
adentra o salão e é seduzida por um jovem. Joseph K. pede para que os separem,
nada fazem, um dos membros diz a Joseph K. que ele perdera a oportunidade de ser ouvido.
Em outro dia, volta ao tribunal, encontra-o vazio,
apenas a bela mulher estava lá. Joseph K. vendo alguns livros sobre
a mesa do juiz, folheia-os, estavam repletos de fotos pornográficas, e ele
revolta-se. Novamente aparece o rapaz, e seduz a mulher. Fora do salão, chega o
marido da tal mulher, que diz a Joseph K. não suportar mais essa
situação, mas que nada poderia fazer. Ela gostaria que Joseph
K. pudesse
fazer algo. Entra com o oficial nas salas do Tribunal, onde pode ver muitos
homens, aguardando preocupados e inconformados com os resultados de seus
inquéritos. No outro dia, ao sair do Banco, Joseph K. depara-se com os dois policiais que o
escoltavam sendo açoitados por um carrasco, por causa das acusações feitas por
ele no tribunal. Pedem então que não os castigue, tenta suborná-lo e ele não
aceita. Chega ao Banco seu tio e tutor, Albert K, o leva a casa do amigo e
advogado de renome, Dr. Huld, que os apresenta ao chefe dos assistentes do
Tribunal.
Conhece Leni, acompanhante do Dr. Huld, que o seduz.
Durante uma conversa diz a Joseph K. que não existe meio de
defender-se quando é acusado pelo Tribunal. Fica por horas com Leni. Na saída é
repreendido por Albert, que diz não ter conseguido a ajuda do chefe dos assistentes
do Tribunal, devido sua ausência. Joseph K. volta ao Dr. Huld e diz
que fará sua própria defesa. Leni dá um bilhete a Joseph K. com o endereço de
Titorelli, o tio que pintava os retratos dos juízes. Chegando lá, o pintor diz
que poderia ajudá-lo que ele tinha a chance da absolvição real onde todos os
documentos desapareceriam e o processo fosse arquivado; na ostensiva, se
livraria da pena, mas os documentos permaneceriam, podendo ser utilizados
novamente pelo Tribunal e o adiamento seria indeterminado e o processo
interrompido. Joseph K. não se interessou. Voltou à casa do Dr. Huld
decidido a demitir o advogado.
Joseph K. recebe um telefonema do Sr. Daimen, do Banco,
pedindo-lhe para que sirva de guia turístico a um importante cliente que visitava
a cidade. Ele vai a Catedral, onde estaria lhe esperando o Sr. Ross. Decide
entrar e fica aguardando sentado em um banco. Quando decide ir embora é chamado
pelo sacerdote. Vira-se e o sacerdote diz a ele que queria falar com Joseph
K. já que
era o capelão da prisão, disse que deveria modificar sua atitude, uma vez que o
veredicto vai sendo formado com o decorrer do processo e que até aquele
momento, não tinha feito nada em seu favor. Joseph K. parecendo confiar no
sacerdote, queixa-se de tudo. O sacerdote tenta convencê-lo de que está sendo
enganado. Joseph K. afirma que confia no sacerdote, que é o único membro
do Tribunal que inspira confiança.
O sacerdote conta-lhe uma história sobre os portões
da Lei. Diante da Lei está um porteiro. Um homem do campo dirige-se a ele e
pede para entrar na Lei. O porteiro diz que não pode permitir-lhe a entrada. O
homem do campo reflete e pergunta se poderia então entrar mais tarde, o
porteiro disse que era possível. Uma vez que a porta da Lei continua sempre
aberta, o homem se inclina e olha o interior através da porta; o porteiro ri e
diz: “Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem:
Eu sou o poderoso! E sou apenas o último dos porteiros”.
Passado anos, cansado, dos seus pedidos, o porteiro aceita
até suborno dizendo: “Eu só aceito para
que não ache que deixou de fazer alguma coisa”.
O sacerdote explica a Joseph K. que o Tribunal não precisa
dele, que o acolhe quando vem e o deixa quando vai embora.
Na véspera de seu aniversário, dois senhores chegam
à casa de Joseph K. de surpresa.
Carregam-no pelos braços. Preocupado com a atitude deles, Joseph
K. começa a
criar dificuldades para a locomoção. Conservou o discernimento tranquilo, já
que sempre quis abarcar o mundo com as pernas, deveria suportar as
consequências. Foi conduzido por eles à pedreira onde seus algozes cravaram-lhe
uma faca no coração.
Sobre o livro:
Conta a história de Joseph K.
bancário que é processado sem saber o motivo. A figura de Joseph K. nos faz
lembrar daquela pessoa que sofre sem que tenha dado motivo para isso. Embora
Kafka tenha retratado um autoritarismo da justiça ao se ver com o poder nas
mãos para condenar alguém, sem lhe dar chance para se defender, ou ao menos
saber por que estava sendo punido; podemos levar a figura de Joseph K. bem como
de seus acusadores, para vários campos da vida humana: trabalho (quem nunca se
viu cobrado ou perseguido, sem que seus acusadores lhe dissessem em que estaria
sendo negligente), religião (quem nunca se viu pego, de surpresa, como K. por
um fanático encolerizado, dizendo que teríamos ferido às leis divinas, sem que
nos dissessem por que), na escola (quem nunca se viu como Joseph K. ao ser
criticado por seu desempenho, sem que soubesse em que havia falhado, não nota,
mas há críticas vagas, às vezes de colegas, às vezes dos próprios mestres).
A história se resume em poucas
linhas. Na manhã em que completava 30 anos, Joseph K. é detido em sua própria casa. A acusação?
Desconhecida. O tribunal? Obscuro. O processo? Inatingível. Apesar de estar
detido, ele pode viver normalmente, trabalhar. Mas toda a sua vida é
transformada de acordo com os trâmites. Os juízes, assim como todos os
integrantes desse tribunal aparentemente “paralelo”, são corruptos. Os termos e
os usos do processo são inteiramente herméticos, só se conhece pequenas partes,
e de forma indireta. Ainda assim, o processo mantém sua coerência interna, com
os funcionários, lugares e acusados movendo-se infinitamente sem chegar a
nenhuma conclusão.
É assim que começa mais um dos alucinantes – para
não dizer alucinógeno – pesadelo kafkaniano. Conhecido por fazer os seus
personagens viverem episódios angustiantes e insólitos, como em um medonho
pesadelo, Kafka ataca novamente, fazendo seus leitores refletirem sobre as
incertezas humanas.
De início, o protagonista de O Processo demonstra
não se preocupar com o fardo judicial que se abate sobre si. Todavia, com o
desenrolar da prosa, Joseph K. passa a se envolver crescentemente com o caso,
prejudicando inclusive a sua promissora carreira profissional. Joseph K. é
procurador de um banco. O motivo do processo segue sinistro até as últimas
linhas do livro. Tal como o acusado, os leitores também não ficam a par, embora
sejam colhidas informações importantes sobre a obscura justiça no decorrer da
penosa saga de Joseph K.
Por fim, Joseph K. é novamente abordado em casa,
por funcionários da justiça - altamente burocrática e inacessível - diga-se de
passagem. Seu processo está no fim. Acabamos por nos solidarizarmos com o
personagem, após nos comovermos com a sua incessante luta pela liberdade plena.
Infelizmente o desfecho é chocante. Joseph K. é
morto com uma brutal facada no peito. Absurdamente, em caráter oficial, foi
feita a justiça! Do ponto de vista moral, o que se vê é o assassinato de um
indivíduo de bom caráter.
Mais uma vez, o surrealismo literário do
fantástico Franz Kafka nos leva a uma pungente reflexão.