Quem poderia imaginar que aquela senhora de quase 70 anos tenha feito tanta sacanagem na vida?
Pois esse é o tema do livro do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, “A Casa dos Budas Ditosos”.
Segundo ele, não se sabe o quanto de verdade há nisso, que recebeu os originais dessa narrativa colocados em fitas cassetes e deixadas na portaria do seu prédio. Tratando-se de Ubaldo, pode ser verdade, ou não.
O livro faz parte dos “Sete pecados Capitais”, uma série de livros feitos por autores famosos sobre encomenda de uma Editora. A Ubaldo coube falar sobre a luxúria; e, nem poderia ser de outra forma.
Os relatos desta senhora fariam corar um frade de pedra, isso, se os frades ainda corassem...
O livro cheira a suor, a prazer desmedido, a sexo selvagem. Sexo por sexo, sem amor, tudo para fazer horrorizar os puritanos. E a boa velhinha topa tudo, não respeita nem os parentes.
Mas, não pense que você vai ler um texto vulgar, pornográfico, como certos vídeos postados no Youtube.
O livro trata principalmente do machismo, do desprezo pela velhice, da hipocrisia social, do “faça o que eu mando, não faça o que eu faço”, denuncia o mau - caratismo social, a repressão contra as mulheres – “já estou cansada de não poder dizer o que me vem à cabeça” - queixa-se a suposta protagonista.
“Sou um grande homem – fêmea”, diz a personagem. Ser uma mulher e pensar como um homem!
Sou assim, também, portanto, desse sofrimento, sou conhecedora.
Somos uma sociedade de reprimidos. Por isso tantas neuroses, tantas depressões, tantos psicopatas soltos pelo mundo.
“A Casa dos Budas Ditosos” é um grande livro.
Boas verdades são esfregadas nas fuças dos moralistas, não agressivamente, mas, temperada com o humor cáustico do Ubaldo, uma pitada de pimenta malagueta própria da Bahia, onde não existe pecado que não possa ser vivido ou contado.