Cabeleira é o apelido de José de
Gomes, um dos primeiros cangaceiros de Pernambuco. José era naturalmente bom,
mas foi ensinado pelo pai, Joaquim Gomes, a ser cruel. Junto com o pai e
Teodósio, o traiçoeiro amigo, assim como vários outros comparsas, Cabeleira
aterroriza a província de Pernambuco em 1776 (exatos 100 anos antes da
publicação do romance). Mas quando ele reencontra Luísa (que conhecia desde a
infância) foge com ela e começa a se reformar, apesar de instintivamente ainda
tentar se defender violentamente. Luísa acaba morrendo logo após a fuga, pois
estava ferida, e Cabeleira é preso, fraco, faminto e desarmado, num canavial.
José Gomes é executado (enforcado) junto com seus antigos comparsas apesar dos
apelos da mãe de que a ele servia melhor a penitenciária pois estava reformado.
O romance acaba com o autor atacando a pena de morte:
“Se a sociedade não tem em caso
nenhum o direito de aplicar a pena de morte a ninguém, muito menos tem o de
aplicá‑la aos réus ignorantes e pobres, isto é, aqueles que cometem o delito
sem pleno conhecimento do mal, e obrigados muitas vezes da necessidade. O
Cabeleira pode acaso comparar‑se em culpabilidade a Lapomerais, médico
ilustrado, ou a esse negociante alemão ou americano, Tomás ou Thompson, que,
com intuito de enriquecer do dia para a noite, ocasionou com a perda do paquete
Moselle a morte de oitenta, e os ferimentos de cem passageiros" ?
“Condena‑se à forca o escravo que
mata o senhor, sem se atender a que, rebaixado pela condição servil, paciente
do açoite diário, coberto de andrajos, quase sempre faminto, sobrecarregado com
trabalhos excessivos, semelhante criatura é mais própria para o cego
instrumento do desespero, do que competente para o exercício da razão. Ainda em
28 de abril do corrente ano, em uma cidade da província das Alagoas um destes
infelizes padeceu o suplício capital. Por honra da civilização, um dos
primeiros órgãos da imprensa do Norte, o Diário de Pernambuco lavrou
contra essa cobardia jurídica o seguinte protesto: «Registramos este
acontecimento com a mágoa que sói causar àqueles que amam a pátria e a
humanidade a continuação entre nós da bárbara pena de morte, que, infamando,
nem ao menos corrige".
A obra inicial da "literatura do Norte"
que o autor pretendia fazer, O Cabeleira começa o Regionalismo na nossa
literatura e apresenta marcantes qualidades tanto do Romantismo quanto do
Naturalismo. Cabeleira é um homem naturalmente bom (como acreditavam os
românticos) que é corrompido pelo pai e pelo meio (característica dos
naturalistas), age várias vezes por instinto (Naturalismo), mas reforma-se pelo
todo-poderoso amor (Romantismo). As mulheres são todas boas (Romantismo), os
homens reúnem defeitos e qualidades (Naturalismo) e o protagonista vive
perseguido pelo conflito interno. (Uma tendência mais realista esta última; os
realistas tinham preocupações sociais como o anteriormente referido ataque a
pena de morte.)