O conto Negrinha, escrito em 1920, durante a transição do Pré-Modernismo para o Modernismo, relata a história de uma pobre órfã negra, filha de escrava, que é criada por Dona Inácia, uma senhora da aristocrata, dona de uma fazenda, viúva e sem filhos.
Inconformada com a abolição da escravatura, Dona Inácia conservava a menina unicamente para extravasar à sua crueldade, aplicando na criança os mais severos maus tratos, tantos verbais (xingamentos, ordens duras e palavras rudes) como físicos (beliscões, tapas e “crocres”, etc), como se ela fosse seu “brinquedinho”.
Dona Inácia descarregava sua amargura na menina, e deleitava-se com isso, a ponto de seu rosto ganhar um brilho especial só em imaginar a aplicação de um castigo na criança.
Quando Dona Inácia recebe em sua fazenda suas sobrinhas vindas da capital para uma temporada de férias, ocorre uma reviravolta no cotidiano de Negrinha.
As meninas, com suas vestes elegantes eram alegres e agitadas e Negrinha pensava que seriam castigadas pelas balbúrdias, assim como ela era castigada se fizesse barulho. Não houve castigo, pois ficara claro para Negrinha a diferença que existia entre ela e aquelas meninas.
Estas, ao perceberem que Negrinha poderia ser uma companhia de brincadeiras durante a temporada na fazenda oferecem-lhe uma boneca, e acham graça quando vêem que Negrinha nunca havia pegado em uma boneca.
Nesse período de estadia das meninas na fazenda Dona Inácia poupa Negrinha do rude tratamento habitual, pois estava vendo que suas sobrinhas tinham com quem brincar.
Ao final das férias, Dona Inácia, mais serena, já não castigava a criança, mas algo se transformara para Negrinha pois uma vez que pôde vislumbrar um outro tipo de vida, ela teve a liberdade de exercer seu lado criança, brincando, sem medos dos castigos.
Depois da partida das meninas Negrinha fôra tomada pela tristeza e pela melancolia, e em seu canto, ficara até morrer, esquecida por todos.
Na cidade grande as meninas riam e lembravam de Negrinha como uma menina “bobinha” que não sabia nem o que era uma boneca.
Dona Inácia fora tomada pela nostalgia, por ter perdido seu “brinquedinho” e por não ter mais em quem descarregar as suas maldades.