Em seu quarto romance, As três
Marias, a escritora cearense Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema
que já estava presente em todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na
sociedade. A história tem início nos pátios e salas de aula de um colégio
interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são
amigas inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de
"As Três Marias". À noite, deitadas na grama e olhando para o céu, as
meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. A estrela de
cima é Maria da Glória, resplandecente e próxima. Maria José se identifica com
a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é
Maria Augusta - ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada.
Com o passar do tempo, Maria da
Glória se transforma em uma dedicada mãe de família e Maria José se entrega por
completo à religião. Guta, por outro lado, não se sente capaz de seguir os
passos de nenhuma de suas velhas companheiras. Apesar de sua formação
conservadora e rígida, ela sempre desejou ir muito além dos portões e muros
daquele internato. Seus instintos a instigavam a procurar e explorar novos
mundos. Assim, Guta termina a colégio e corre em busca de sua independência.
Seu ideal é viver sozinha, seguir seu próprio caminho, livrar-se da família,
romper todas as raízes, ser completamente livre. A realidade, no entanto, se
mostra muito diferente daquilo que estava descrito nos romances açucarados e
livros de poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras.
Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e à
morte.