É o quinto romance de Aluísio Azevedo, que escreveu também O Mulato, O Cortiço e Casa de Pensão considerados os romances mais importantes do autor.
Por ser visto como o 'pai' do naturalismo no Brasil, influenciado pelos escritores Eça de Queirós e Émile Zola, fundadores do naturalismo na Europa, Aluísio Azevedo busca em seus romances uma representação mais ou menos fiel do observado, fugindo assim da tendência romântica de idealização da realidade. Em seus livros, o cotidiano da vida na cidade, com alguns de seus personagens mais típicos, é elemento constante.
Neste romance encontramos o casal Borges e Filomena: esta, ambiciosa, busca através do casamento uma forma de ascender socialmente. Borges, no entanto, embora possua bens, é pacato, dócil cidadão sem muitas ambições. Assim, não corresponde ao ideal de marido que Filomena tem em mente.
Esta buscará, então, modificá-lo a todo custo. Um incidente na primeira noite mostra para Borges como será difícil seu casamento: Filomena o expulsa do leito nupcial, obrigando-o a dormir fora do quarto. Durante muito tempo a situação permanece sem alteração, apesar dos agrados constantes de Borges à esposa do cumprimento de todas as exigências dela, as quais, finalmente, acabarão por modificar profundamente o pacato marido, além de levá-lo à ruína econômica.
Borges faz tudo pelo sentimento que dedica à esposa, mas nunca chegará a desfrutar do que deseja acima de tudo: paz e tranqüilidade ao lado de sua Filomena.
Segundo o crítico Antônio Cândido, deve-se ler Filomena Borges "pelo viés do divertimento".
De fato, o autor cria situações hilariantes com o casal Borges e Filomena. Ainda, diz Cândido, "este romance é importante para a compreensão da personalidade literária de Aluísio Azevedo, que se caracteriza por uma mistura de bom humor e melancolia".
O grande número de palavras francesas de que se utiliza o autor, decorre da tendência vigente na época, quando a nossa literatura não só fazia uso abundante de termos franceses como tinha nela seu principal modelo.
Características:
Porém, como é de conhecimento daqueles que admiram a obra do escritor maranhense, Azevedo não escreveu somente obras influenciadas pelo movimento Naturalista. O autor, que também era caricaturista, redigiu diversos folhetins românticos, e um desses foi “Filomena Borges”. Grande parte dessa produção romântica do autor de “O Cortiço” é, nos dias de hoje, esquecida por boa parte dos críticos. De fato, os romances que não compõe a tríade “O Mulato”, “Casa de pensão” e “O Cortiço”, essa com características mais evidentes do movimento naturalista.
“Filomena Borges” traz para o leitor uma história narrada em terceira pessoa em que João Touro, o Borges, um homem de 40 anos, contrai núpcias com Filomena. O mestre-de-obras, que possuí também vários negócios na Corte, na noite de núpcias vai dormir no sofá, uma vez que a esposa não permite que ele consume o matrimônio. Para que ela lhe conceda alguns simples beijos, Borges tem que tomar ares de aristocrata. Sendo assim, ele é obrigado a tornar-se, praticamente, um dândi. O homem que nunca esteve acostumado às roupas, às danças e à etiqueta passa a ter que dar bailes em casa; em suma, tem que renegar todo o seu passado como um bom comerciante, um burguês. As coisas ficam mais desgostosas para Borges, quando Filomena decide viajar para Europa. O marido, apaixonado pela esposa, acompanha-a. Desse modo, o narrador conduz o leitor por diversos países do velho continente. No local, Filomena, leitora de romances e poemas, sente-se desgostosa em ver que a França, as cidades italianas etc., não eram aquilo tudo que ela imaginava. Mesmo assim, seguindo as idéias dos enredos romanescos aos quais ela estava habituada a ler, Filomena coloca o esposo em situações no mínimo inusitadas. O pobre Borges, tem que, por exemplo, num dos capítulos raptá-la, na Espanha, duma casa. O rapto, logicamente, planejado por Filomena.
Depois das aventuras na Europa, o casal retorna. Porém, as exigências da esposa tornam-se, cada vez, mais extravagantes. Devido a isso, os negócios de Borges vão à bancarrota. A partir daí, o casal parte para mais aventuras para tentar recuperar o dinheiro.
“Filomena Borges” é um bom livro, nele observa-se que Aluísio Azevedo, mesmo engessado pelos ditames dum folhetim romântico, mostra que é um escritor de qualidade. Por isso, o leitor encontrará boas críticas à “aristocracia” brasileira. Poder-se-ia dizer que o romance, dum certo modo, traz à tona uma propaganda anti-monárquica. Penso que a leitura faz sentido, haja vista que a obra foi publicada em 1884, nesse período o Brasil ainda estava sob o comando do Imperador Dom Pedro II.
Outro ponto interessante é que tal como faz em “Casa de Pensão”, Azevedo debocha do próprio estilo de romance romântico que ele é, para ganhar a vida, obrigado a escrever. Isso ficava evidente nas loucuras da protagonista Filomena.
Mesmo não sendo tão bom como as principais obras do escritor Maranhense, “Filomena Borges” por trazer bons diálogos e conter uma excelente sátira social do final do Segundo Império, é uma boa pedida para os que gostam dos romances oitocentistas brasileiros.