Guerra e Paz (Liev Tolstói)


“Apenas um passo além desta linha separa os vivos dos mortos. É o desconhecido, o sofrimento, a morte. O que há depois? Ninguém sabe. E todos gostariam de saber. Temos medo de atravessar, e sabemos que cedo ou tarde vamos atravessá-la”. 

Duas situações tão oposta e mesmo assim tão desejadas. Guerra e Paz mostra como a invasão de Napoleão Bonaparte à Rússia em 1812 foi vista pela corte russa. O livro é bem interessante ao retratar a sociedade russa, com suas festas pomposas contrastando com a miséria do povo, com a aristocracia dividida entre o horror e a idolatria à Napoleão, tudo permeado pela religiosidade. O jogo da política, as intrigas da corte e as tramas da sociedade com seus casamentos arranjados e suas paixões proibidas são descritas de forma instigante. Os horrores da guerra vividos pelos mais altos dignitários russos, que mantinham sua fé em Deus e no Czar com a mesma intensidade. Tudo muito bem descrito por Tolstói. 

Guerra e Paz é um romance que coloca as pessoas em primeiro lugar, descreve com detalhes a guerra para nos mostrar o quão importante e significante é a paz. Esta versão faz uma compilação do original que possui mais de mil páginas e uma centena de personagens. Mas continua sendo um clássico da literatura. 

O objetivo final deste livro é fazer um relato histórico e social, mas profundamente humano, além de tratar assuntos como a classe dominante com certa ironia. 

A história é de cinco famílias aristocráticas: Os Bézoukhovs, os Bolkonkys e os Rostovs e o vínculo de suas vidas pessoais com a história de 1805 a 1813, principalmente com a invasão da Rússia por Napoleão. O primeiro capítulo representa um resumo no qual começa em uma festa no salão de Ana Pávlovna, uma dama que recebe a nobreza em sua casa. E o clima fica tenso logo após o jovem Piotr tocar no assunto “Napoleão”. 

Também estavam presentes: Pierre Bezukhov, um conde rico que acabava de pesquisar o significado da vida; o príncipe Andrei, que se encontra envolvido nas guerras; Nikolai Rostv, um conde jovem e assaz impulsivo que se submete a seu batismo de fogo militar e a vivaz Natasha Rostova, sua irmã cadete. 

Os cenários são em São Petersburgo, Moscou, Montes Calvos (onde se passa as reuniões e discussões) e os campos de guerra. Já no contexto histórico, na campanha de Napoleão na Áustria, planeja-se a ampliação de seus domínios e com um exército composto de 675 mil homens de quase vinte nacionalidades diferentes, dá início a sua marcha em direção à Rússia, compreendendo o período de 1805 a 1820. Em certos trechos se expõe os governantes que dependem das ações de inúmeras pessoas, demonstrando que tem livre escolha. 

Mas a história centra-se na vida de Piotr Bezukhov que recebe uma grande herança e passa a viver nas grandes festas da corte entre Moscou e São Petersburgo ao lado de suas inúmeras esposas interesseiras. Quando Napoleão invade Moscou Piotr é feito prisioneiro, e por mais paradoxal que possa parecer, quando é liberto descobre que a sua vida de festas na corte era vazia e encontra o real sentido de sua vida quando retorna à sua vida simples ao lado de Natasha Rostov, mulher que sempre amou de verdade. 

A obra também retrata a vida de Andrei Bolkonski, filho de um príncipe com passado glorioso na área militar. Quando a Rússia é invadida Andrei se sente compelido a lutar pelo seu país e pelo seu Czar, sofre uma série de ferimentos e acaba por falecer nos braços de sua irmã Maria e de sua ex-mulher Natasha Rostov.

Além desses dois personagens, as batalhas travadas são levemente detalhadas. O autor ressalta as batalhas e suas consequências, principalmente como elas foram relatadas pelos autores posteriores que tendem a enaltecer o gênio de Napoleão e de seus marechais, mas que se esquecem que a Rússia só não caiu de joelhos perante Bonaparte porque este deixou sua genialidade militar e diplomática de fora de suas decisões. 

Ao fim o livro mostra como a guerra e a paz são desejadas com a mesma intensidade por uma sociedade. E do como as pessoas envolvidas, tanto na guerra como na paz, são movidas por interesses pessoais e financeiros, não dando importância para sentimentos como o amor e a felicidade.

Caleidoscópio (Danielle Stell)


Uma terrível tragédia familiar levou à separação de três irmãs, Hillary, Alexandra, Megan, ainda durante a sua infância. Enlouquecido, o pai um ator americano, mata a mãe, uma francesa, no meio de uma violenta discussão e, mais tarde, suicida-se na prisão. Órfãs e sem dinheiro as irmãs são criadas separadamente e só se reencontram passados trinta anos, graças à interferência de John Chapman, um detetive que se apaixonou por uma delas. A mais velha, Hillary, foi educada por uma tia e tem uma vida cheia de dificuldades, marcada pelo sofrimento e pela desilusão. E, aos dezoito anos começa a tentar desesperadamente a localizar as suas irmãs. 


 ****** 


Com essa terrível tragédia e sem nenhum outro parente próximo que possa cuidar das meninas, elas ficam aos cuidados de Arthur, um velho amigo de seus pais que sem saber o que fazer as manda para passar alguns meses com uma tia distante, cruel, bêbada e que só se importa com o dinheiro que ganhará pelas meninas. Mais tarde Arthur acaba entregando as duas meninas mais novas para dois casais distintos, onde elas foram adotadas. Anos se passam e as três são criadas de modos totalmente diferentes umas das outras... As duas mais novas crescem rodeadas pelo amor e carinho de seus pais adotivos, mas a pobre Hilary que continuou morando com a tia de Arthur enfrenta todos os piores pesadelos e torturas de uma vida sofrida, injusta, cruel e miserável, sem falar também na dor que carrega em seu coração por ter suas duas amadas irmãs tiradas à força de seus braços já que as mesmas a consideravam como uma mãe.

[...] - Amo você, Axie... Amo você, Megan... Amo vocês... - Sua voz se transformou num soluço enquanto ficava ali parada no meio da rua, acenando para o carro, até que ele dobrou uma esquina e desapareceu, levando consigo toda sua vida. [...] 

Os anos continuam se passando e elas só vão se reencontrar novamente 30 anos mais tarde com a ajuda de John Chapman, um atraente investigador que se apaixona por uma delas e é nesse momento que segredos do passado profundamente guardados são revelados causando grande surpresa à todos.

O encontro das irmãs é bem emocionante! 

Comentário: Todos os acontecimentos são mesmos reais e nos faz pensar que isso poderia também acontecer com qualquer um de nós... Acompanhar todo o sofrimento dessas irmãs e principalmente de Hilary, me comoveu de uma certa forma que me peguei pensando o que seria de mim se estivesse no lugar dela... Sem dúvidas, quem ainda não leu, vale a pena conferir, pois apesar de toda a história ser previsível, ela é narrada de forma tão intensa que é como se estivéssemos na pele dos personagens.

Pássaros Feridos (Colleen McCullough)


Pássaros Feridos é um romance que conta a história da orgulhosa e singular família Cleary que vive modestamente em um sítio na Nova Zelândia. Depois de anos sobrevivendo a muito custo de trabalhos temporários em fazendas vizinhas Paddy recebe uma carta de sua meia irmã convidando-o, juntamente com a esposa Fiona e os filhos para morar em sua fazenda na Austrália. 

Mary Carson, uma velha viúva autoritária é dona de uma vasta propriedade de criação de carneiros e não tendo filhos, sendo assim deixaria tudo aos sobrinhos. 

A narrativa passa por três gerações e os personagens principais são Meggie, a única filha entre vários homens, e Ralph de Bricassart, um padre ambicioso que passa a vida em dilema entre seguir na vida religiosa ou abandoná-la e viver plenamente seu amor. Ele não se deu conta, mas se apaixonou por ela assim que a conhece, ainda criança, quando ela chegou para morar na fazenda. 

Mary Carson, apaixonada pelo padre Ralph passa a vida tentando tê-lo a qualquer custo. Assim, não aceita muito bem quando percebe o envolvimento dele pela sobrinha Maggie. Como Ralph não responde aos seus avanços, Mary prepara-se para influenciar o seu destino, mesmo depois de sua morte. Conhecendo o desejo do padre de ocupar um alto cargo no clero, maldosamente arma uma trama para forçá-lo a escolher a Igreja, servindo-se da sua fortuna para separá-lo de Meggie. 

Aí o destino se encarrega de os colocar em caminhos diferentes. Ralph segue para Roma, é ordenado arcebispo, mas continua atormentado pelo seu amor impossível. Meggie, numa tentativa desesperada de o esquecer, casa-se com um caçador de dotes, com quem tem uma filha. 

Os homens da família Clearys aceitam assumir as rédeas de Drogheda, uma decisão que os leva à tragédia e à morte. 

Fiona, a mãe, passa a vida confinada ao silêncio e acaba por descobrir tardiamente que amou o marido. Os filhos homens ela amou desde sempre. O primogênito mais que todos... Já a filha, por ver se repetir sua amarga história ela a rejeita a vida inteira. Tanto no caso da mãe como no da filha o amor mostra a sua faceta mais dolorosa, o pássaro ferido que canta até morrer... 

Mesmo durante os anos de separação entre Ralph e Maggie persiste o clima amoroso como se a força do amor de ambos fosse tão grande a ponto de os manter unidos na distância. 

Anos depois Ralph acaba por regressar à Austrália para partilhar um breve idílio íntimo com Meggie apesar de ambos saberem que a sua felicidade é passageira. Desse encontro nasce Dane, o filho daquela união condenada. Meggie nunca contou a Ralph sobre o filho que anos depois decide entrar para o clero. 

Meggie torna-se uma mulher amargurada pelo fato de que ambos os homens a quem amou terem preferido a Igreja do que a ela mesma. Mas uma tragédia inesperada força Meggie a fazer as pazes com Ralph, a sua família e ela própria.