Vinte mil léguas submarinas (Júlio Verne)

Em 1866, quando navios de diversas partes do mundo começaram a naufragar e sofrer misteriosas avarias, governantes e homens de ciência mobilizaram-se para identificar, localizar e deter o misterioso monstro marinho responsável por tais ataques. Mas a missão não correu conforme os planos, e a besta desconhecida destroçou a fragata que fora em sua captura. Lançados ao mar, o professor Aronnax, o fiel Conselho e o exímio arpoador Ned Land foram resgatados e feitos prisioneiros pelo enigmático capitão Nemo, dono, líder e principal habitante do prodigioso submarino Náutilo. Navegando águas remotas dos oceanos e lançando-se em ousadas caminhadas submarinas, esses homens desbravarão a vida por um ângulo inteiramente novo, descobrindo a exuberância da flora e da fauna marinhas e experimentando emoções conflituosas, numa viagem vinte mil léguas sob os mares. O autor preocupa-se em dar embasamento científico aos fatos narrados, fazendo uso das descobertas de seu tempo e aventurando-se em campos que seriam desbravados apenas no século seguinte. Por exemplo, a eletricidade, que engatinhava na época do autor, tem no submarino Náutilo papel de protagonista. Sem ela, não haveria o submarino. Os capítulos, sempre curtos, invariavelmente terminam no clímax e encadeiam-se com o seguinte. A técnica foi eficiente para manter o leitor interessado do começo ao fim da narrativa. A obra é recheada de extensas explicações científicas onde não falta poesia, como no trecho: “Os infusórios existem aos milhares numa gota d’água (...) num duplo movimento ascendente e descendente. Movimento perene, vida constante! Vida mais intensa que nos continentes, mais exuberante, infinita, expandindo-se por todo o oceano. Princípio de morte para o homem, princípio de vida para miríades de animais – e para mim!” Eis um livro do Século XIX que não perdeu a atualidade. É moderno no Século XXI. 

RESUMO DO LIVRO:

1 – O RECIFE FLUTUANTE 1866: Corriam boatos alarmantes: Enorme e estranho ser percorria o vasto oceano. Era mais veloz que uma baleia. Que o bicho existia era inegável. Em 20 de julho de 1866, o capitão Baker do navio Governador Higginson encontrara-o. Parecia um enorme recife, mas esguichava água como um descomunal mamífero aquático. Outros navios fizeram relatos semelhantes e concluíram que o “bicho” media aproximadamente 106 metros de comprimento. As mais diferentes especulações eram feitas no mundo todo, umas sisudas, outras irreverentes. Durante os primeiros meses de 1887, o assunto pareceu encerrado. 5 de março e 13 de abril de 1887, dois enormes navios sofreram sérias avarias: O Morávio e o Escócia. As embarcações colidiram com objetos estranhos onde não havia recifes ou outros obstáculos. Além disso, os acidentes ocorreram em locais distantes um do outro. Exames nas carenas dos navios revelaram que foram danificados por poderoso material perfurante. A partir, daí os boatos retornaram com força e amiúde havia relatos, fantasiosos ou reais, sobre a existência de um monstro marinho que estava afundando embarcações. A opinião pública manifestou-se exigindo providências das autoridades porque navegar estava sendo algo muito perigoso. 

2 – CONVITE INESPERADO: Célebre professor francês de História Natural, Pedro Aronnax, passando por Nova Iorque, deu uma entrevista a respeito do fenômeno que preocupava o mundo. Demonstrou refinado conhecimento e opinou que os mares tinham um novo e estranho habitante parecido com um narval, também chamado de unicórnio marítimo. O monstro seria um narval com tamanho e força decuplicados. A repercussão da entrevista foi imediata. Estados Unidos e Inglaterra foram de parecer que se devia libertar o oceano desse monstro terrível. Uma fragata velocíssima, a Abraão Lincoln, sob o comando do capitão Farragut ficou de prontidão, mas os ataques cessaram mais uma vez. Dois de julho de 1887. Chega aos Estados Unidos a notícia de que um navio encontrara o animal, três semanas antes, nos mares do Pacífico norte. Abraão Lincoln prepara-se para ir ao encontro do monstro. O Professor Aronnax, por telegrama, é convidado a fazer parte da expedição. Aceita com entusiasmo, esquecendo-se até do cansaço que o atormentava. 

3 – UM CRIADO INIGUALÁVEL: Pedro Aronnax levaria consigo o ótimo criado Conselho. Apesar do nome, era um flamengo extremamente discreto. Educado e atencioso era versadíssimo na teoria da classificação. Era um homem digno e corajoso. Tinha 30 anos, 10 a menos que o patrão. Era, ao mesmo tempo, cerimonioso, digno e corajoso. Advertido sobre os perigos da aventura, aceitou-os sem fazer perguntas. Na partida, o cais de Brooklyn estava apinhado de curiosos. Um imenso cortejo acompanhou a saída da fragata Abraão Lincoln que, às oito horas da noite, cortou a todo o vapor as águas do Atlântico. 

4 - NED LAND: O capitão e a tripulação estavam motivados. Queriam espostejar o monstro o quanto antes. O primeiro a avistar o animal ganharia dois mil dólares. O navio estava muito bem equipado, mas a principal arma era um homem: o irascível e temperamental Ned Land, com cerca de 40 anos, o rei dos arpoadores. Era um canadense de Quebec. Logo, falava francês. Por isso, facilmente fez amizade om o Professor Pedro Aronnax. Da tripulação, o único a duvidar da existência do monstro era ele e não adiantavam as explicações científicas do professor. A fragata avançava na direção do Pacífico contando apenas com um acaso favorável para encontrar o monstro. 

5 – O ACASO NOS FAVORECE: A fragata perlongou a costa sudeste da América com rapidez prodigiosa. No dia 6 de julho começou a navegar pelo oceano Pacífico. Toda a tripulação, incluindo o professor que não estava interessado nos dois mil dólares, perscrutou detidamente o mar à procura da criatura. Apenas Ned Land continuava cético e não se dignava a observar o oceano. O professor Pedro Aronnax não se cansava de reprovar o arpoador. Navegavam às cegas. Naturalmente, Aronnax sabia que as possibilidade de sucesso eram remotíssimas. Algumas estratégias facilitavam a busca. O capitão Farragut opinava que era melhor singrar águas profundas porque o animal era muito pesado; passagens estreitas também eram evitadas devido ao tamanho do monstro. A procura infrutífera já durava três longos meses. O desânimo dominou os espíritos. Só restava aos navegantes retornar a Nova Iorque. O capitão Farragut resistia à ideia e pediu três dias de tolerância. Se não houvesse resultado positivo, concordava em retornar. Eram 2 de novembro. No dia 5 de novembro, quando o professor e o seu criado Conselho já calculavam que seriam alvo de gozações na França por causa do insucesso da empreitada, aconteceu algo notável. Ned Lang, o único cético da tripulação, gritou anunciando que avistara a coisa que procuravam. 

6 – O COMBATE: Houve grande agitação em torno do arpoador. Até o capitão fazia parte da massa. Ned não se enganara e os tripulantes observaram que o monstro emitia forte luminosidade. A fonte brilhante descrevia no mar imenso um alongado oval. O unicórnio marítimo desenvolvia alucinante velocidade, pois a luz deslocava-se por muitas milhas e retornava. Não houve alternativa: Sob as competentes ordens de Farragut, a fragata Abraão Lincoln afastou-se rapidamente do foco luminoso. O esforço foi inútil e a fragata ficou à mercê das vontade do animal que a atingiria quando bem entendesse. Em vez de perseguir, a fragata era perseguida. Perguntado pelo capitão Farragut, o professor Pedro Aronnax esclareceu que estavam diante de um narval gigantesco e ao mesmo tempo elétrico. Às oito horas da manhã, desfazendo-se a neblina, a coisa foi reavistada por Ned Land que preparou o seu mortífero arpão. O professor avaliou o seu comprimento em oitenta e cinco metros, tendo a grossura proporcional al comprimento. O esguicho de jatos de vapor d’água que produzia, atingia quarenta metros de altura. O capitão Farragut ordenou a aproximação arriscada. A tripulação ficou excitada com a iminência do combate. O animal fugia na mesma velocidade empreendida pelo Abraão Lincoln. Não adiantava aumentar a velocidade da embarcação. O motivado Ned Land concluiu que aquele animal só se deixaria agarrar se quisesse. Meio-dia soou e estavam tão adiantados como às cinco da manhã. O capitão decidiu-se, então, a empregar meios mais decisivos. Resolveu lançar granadas cônicas. O projétil ricocheteou no monstro. Parecia ser blindado. Às 10 horas da noite, encontraram novamente o monstro. Estava dormindo. Ned Land lançou o arpão que não produziu o efeito desejado. Um choque medonho produziu-se e o professor foi lançado por cima da amurada caindo no mar. 

7 – ESTRANHA BALEIA: Quando parecia perdido, Aronnax foi salvo pelo fiel criado Conselho. Este informou ao patrão que o monstro partira com os dentes o mastro e o leme de Abraão Lincoln. Eram ínfimas as possibilidades e salvarem-se. A colisão entre a fragata e o cetáceo dera-se por volta das onze da noite. Pesavam em nadar por oito horas até o nascer do Sol. Logo veio a exaustão. A fragata estava muito distante. Conselho gritou pedindo socorro. O socorro veio a tempo. O anjo foi Ned Land. Conselho e o Pedro Aronnax foram levados, entre muitas aventuras, até algo parecido com uma sólida embarcação. Quando estavam mais ou menos restabelecidos, o arpoador disse-lhes que não desistiu do monstro em nenhum momento e que a criatura era feita de chapas de aço. O animal que mobilizara o mundo inteiro era um fenômeno fabricado pela mão do homem. A conversa desenrolava-se sobre o dorso de um barco submarino com a forma de gigantesco peixe de aço. O barco deslocava-se lentamente, na superfície, e Ned, Conselho e Aronnax procuravam um meio de atingir o seu interior. Tinham, também, grande receio de que o engenho submergisse. Quando o dia amanheceu, oito sólidos rapagões, mascarados, apareceram e arrastaram o trio para o interior da formidável máquina. 

8 – UMA INICIAL E UMA DIVISA: Foram instalados numa espécie de masmorra. Depois de meia hora, a prisão iluminou-se. Depois de alguns minutos, apareceram dois homens. Um tinha aparência vulgar, mas, o segundo, apresentava feições imponentes. Os amigos contaram em francês, inglês, alemão e latim a sua aventura. Não foram compreendidos. Os tripulantes do estranho barco, retiraram-se sem deixar qualquer pista do que fariam. Ned Land estava particularmente revoltado com a atitude dos estranhos. Afinal, falaram que estavam esgotados e famintos, fizeram mímica indicando a penúria que viviam e os tripulantes não fizeram nenhum esboço de haverem entendido a mensagem. Eis que se abriu novamente a porta e lhes foi servido um banquete inesquecível. As iguarias eram exóticas, mas de sabor agradabilíssimo. Além disso, trouxeram-lhes confortáveis roupas confeccionadas com um tecido nunca visto, mas muito confortável. Nos pratos e talheres havia a inscrição: “MOBILIS IN MOBILE N” (Móvel no elemento movente). Depois das refeição, os três, mais tranquilos, caíram em pesado sono. 

9 – VIOLÊNCIAS DE NED LAND: O professor, o primeiro a acordar, percebeu que o barco, o monstro de chapa de aço, subia regularmente à superfície, para respirar à maneira das baleias. Assim funcionava o sistema de ventilação do barco submarino. Os outros dois prisioneiros também acordaram e estavam com fome. As pragas de Ned pela situação vivida contrastavam com as plácidas ponderações de Conselho. Conciliador, Aronnax sugeriu que esperassem e sujeitassem-se às circunstâncias, porque não havia outra alternativa. Como a fuga era impossível, Ned sugeriu que tomassem a embarcação. O professor conseguiu aparentemente demovê-lo da malbaratada ideia. As atitudes do arpoador, praguejando sempre, desmentiam a sua disposição de submeter-se ao cárcere. Lamentava-se, praguejava, andava como fera em redor da jaula, batia nas paredes com os pés e com os punhos. Finalmente, entrou o taifeiro. Impensadamente, Ned atacou-o. Uma voz falou em impecável francês: “Acalme-se, mestre Land, e o senhor, professor, tenha a bondade de ouvir-me.” 

10 – O HOMEM DAS ÁGUAS: Era o comandante que assim falava. Repreendeu-os por haverem interrompido a privacidade de alguém que havia rompido relações com a humanidade. O professou explicou-lhe que a fragata Abraão Lincoln julgava estar na caça de possante monstro marinho. Depois de informar que renegara a civilização, e que, portanto, não lhe cobrassem atos civilizados, disse que os prisioneiros gozariam de relativa liberdade no interior do navio. Apenas teriam que se sujeitar a pequenos períodos reclusos quando fossem necessárias atividades secretas na embarcação. O comandante disse ainda que ele fora o atacado e que vencera. Portanto, tinha todo o direito de estabelecer as regras. No final, disse que estudioso da obra do professor e que ele seria muito útil naquela viagem para o país das maravilhas. O comandante identificou-se: Gostaria de ser chamado de Nemo, capitão do navio Náutilo. Ned e Conselho foram levados de volta à cela para jantarem. O professor foi convidado por Nemo para fazer a refeição em sua sala de jantar particular. Alimentaram-se de iguarias produzidas a partir de matérias primas fornecidas pelo mar. Aquele vasto mar, não apenas alimentava a tripulação, mas também vestia-a. As roupas eram confeccionadas com tecidos manufaturados de seres marinhos. O mesmo acontecia com os colchões, os perfumes. No Náutilo, tudo provinha do mar. Depois de fazer alentado discurso sobre a fartura de alimentos no mar, Nemo convidou Pedro Aronnax para uma visita ao Náutilo. 

11 – O NÁUTILO: O passeio começou pela biblioteca esplêndida que continha 12 mil volumes com temas científicos e artísticos. Era um ambiente muito confortável e bem iluminado que, certamente, honraria qualquer palácio. Nemo ofereceu ao professor um cigarro excelente. Não era feito de fumo, mas de uma alga marinha rica em nicotina. Passaram para um grande museu ricamente decorado onde havia trinta quadros de mestres, tapeçarias de desenhos sóbrios, reduções admiráveis de estátuas de mármore, partituras de músicas representativas. Para o capitão, eram as últimas lembranças da terra, para ele, já morta. Havia, no espaço do museu, uma parte dedicada a preciosos produtos do mar jamais vistos por um naturalista, profissão de Aronnax: Exemplares de moluscos, colares de pérolas, pérolas cor-de-rosa, amarelas, azuis, negras. Algumas das pérolas eram maiores que ovos de pomba. Mexilhões de rios nórdicos e uma infinidade de objetos e seres exóticos. Finalmente, entraram no camarote destinado ao professor. Na verdade, era um elegante quarto com cama, penteadeira e outros itens. No camarote do capitão havia muita simplicidade. Continha apenas o necessário. Lá, o capitão explicou a Aronnax o conteúdo do capítulo seguinte. 

12 – A ELETRICIDADE REINA: O capitão começou explicando as funções de aparelhos habituais em navios. Depois, explicou as de outros exigidos pela natureza especial de um submarino. Enfatizou que algo era indispensável na embarcação: A eletricidade, que era gerada por meio de um complicado processo que aproveitava o sódio existente no mar para carregar as potentes “pilhas” do navio. Vendo as maravilhas que a eletricidade podia fazer, o professor afirmou que aquela força estava destinada a substituir o vento, a água e o vapor. As surpresas apenas começavam. Foram à cozinha onde o fogão era elétrico. Nos banheiros, a água quente era obtida por meio da eletricidade. Tudo no navio funcionava eletricamente. Ante a curiosidade crescente do professor, o capitão dispôs-se a contar segredos mais complexos do Náutilo. Afinal, Aronnax nunca mais sairia de seu interior. 

13 – ALGUNS DADOS NUMÉRICOS: Náutilo tinha a forma de comprido cilindro de extremidades cônicas. Foi construído para desafiar os mares mais tempestuosos. Não havia a possibilidade de sofrer deformações, porque o duplo casco dava a ele a rigidez do aço. Não havia velas que o vento pudesse arrancar. Não havia caldeiras que corriam o risco de explodir. Não havia perigo de incêndio, pois o navio era feito de chapas de aço, não de madeira. O abastecimento de carvão não preocupava porque o barco era movido a eletricidade. Não temia-se abalroamentos, pois navegava em águas profundas. O professor perguntou ao capitão qual era o volume de sua fortuna. Este respondeu que possuía o suficiente para pagar, folgadamente, os dez bilhões de francos de dívida da França. 

14 – O RIO NEGRO: O capitão fez com que o Náutilos emergisse. Marcou, usando instrumentos precisos, a latitude e a longitude. Apercebeu-se de que estavam a cerca de trezentas milhas das costas do Japão. Então, solenemente informou que naquele dia, oito de novembro, começava a viagem de exploração marítima. Dirigiram-se ao grande salão, onde o professor ficou só. O mar, da mesma forma que os continentes, também tem seus rios. São correntes especiais, reconhecíveis pela temperatura e pela cor. No ponto indicado pelo capitão no planisfério, fluía uma dessas correntes: o Rio Negro. Era esta a corrente que o Náutilo estava percorrendo. Chegaram Ned e Conselho que ficaram maravilhados. Interrogavam o professor, quando, de repente, o salão escureceu e abriram-se várias escotilhas: a visão foi indescritível: Não viam água luminosa, mas luz líquida. Um mundo diferente descortinou-se. Uma fauna diversificada agitava-se em buliçosas brincadeiras. A escuridão do salão realçava a claridade exterior; parecia que estavam num imenso aquário. Quando o salão foi novamente iluminado, fecharam-se as escotilhas: Ned e Conselho retiraram-se para os seus dormitórios.O professor passou a noite lendo, escrevendo e pensando. Adormeceu enquanto o Náutilo singrava através da rápida corrente do rio Negro. 

15 – CONVITE POR ESCRITO: Nove e dez de novembro: O professor trabalhou no salão e Nemo não apareceu. Ned e conselho passaram a maior parte do tempo com ele. No dia onze o navio emergiu. O professor subiu até o observatório e ouviu o imediato dizer através da escotilha: “Nautron respoc lorni virch.” Em cinco dias seguidos a situação se repetiu. No dia 16, havia um convite na mesa de trabalho do professor. Era para uma caçada nas florestas da Ilha Crespo no dia seguinte. Ned e Conselho também poderiam participar da diversão. No dia dezessete, o capitão finalmente apareceu. Disse que a caçada iria acontecer em florestas submarinas e que usariam fuzis. Aronnax achou que o capitão enlouquecera. O professor não conseguia conceber a caçada marítima sem oxigênio. Nemo explicou-lhe os fundamentos do tubo de oxigênio e de como seria usado. Explicou que usariam fuzis de ar comprimido, não de pólvora, evidentemente. Em seguida, o quarteto retirou-se para vestir as roupas adequadas à aventura. 

16 – A PÉ PELA PLANÍCIE SUBMARINA: A roupa para a caça era como uma armadura ao mesmo tempo flexível e resistente. Com exceção de Ned, que estava frustrado por pensar que caçariam em florestas tradicionais, Todos vestiram-se rapidamente. O manejo do fuzil a ar comprimido e municiado por balas elétricas era facílimo. Após manobras precisas, pisaram o fundo do mar. Por encanto, os pesados petrechos que usavam perderam grande parte do peso. Puderam, assim, andar confortavelmente num piso plano de areia a 10 metros de profundidade. A água era límpida e proporcionava um raio de visão de 100 metros. A planície de areia parecia interminável. O cenário era deslumbrante e mudava constantemente. As algas pareciam um prodígio da Criação, uma das maravilhas da flora universal. A impressão era a de que estavam num caleidoscópio. Atingiram a profundidade de 100 metros. Duas horas de caminhada não produziram cansaço. Os movimentos, auxiliados pela água, eram feitos com surpreendente facilidade. Em dado momento, o capitão sinalizou que estavam às portas da floresta da ilha Crespo. 

17 – A FLORESTA SUBMARINA: Chegaram. Altas plantas arborescentes formavam aquela floresta. Tudo desenvolvia-se verticalmente. O professor ficou confuso porque a fauna e a flora eram muito parecidos. Em local apropriado, todos dormiram um belo sono que durou até o início da noite. Ao acordar, Aronnax deparou-se com um enorme crustáceo, uma aranha do mar de cerca de um metro de extensão. Passou a ter mais cautela em sua movimentação no fundo do mar. Atingiram 150 metros de profundidade e tiveram que acionar as lanternas. A vida vegetal rareava e, em contrapartida, um número prodigioso de animais surgia. Alcançaram o local em que a floresta terminava em um trecho de escarpas elevadas. O capitão sinalizou que deviam regressar. Nemo caçou uma lontra marítima e um albatroz. Encontraram um cardume de enormes tubarões que enganaram com facilidade devido à fraca visão dos monstros. Finalmente, adentraram à segurança do Náutilo. O professor voltou ao camarote, maravilhado com aquela surpreendente excursão ao fundo dos mares. Era noite de dezessete de novembro. 

18 – QUATRO MIL MILHAS SOB AS ÁGUAS DO PACÍFICO: O dia dezoito começou com a rotina de sempre. O imediato pronunciou a mesma frase no idioma estranho que se falava a bordo. Foram recolhidos cerca de 500 quilos de peixe, o necessário para alimentar a grande tripulação. No dia 27 de novembro, as medições do professor informavam que haviam percorrido quatro mil, oitocentos e sessenta léguas desde que embarcara com Ned e Conselho no misterioso Náutilo. De quatro a onze de dezembro, o submarino percorreu mais duas mil milhas. O mar continuava a prodigalizar magníficos espetáculos durante a travessia. Em onze de dezembro algo interrompeu a paz. A presença de um navio naufragado que estava a cerca de 1000 metros de profundidade. O naufrágio se dera, certamente, há poucas horas e alguns cadáveres, observados por tubarões, forneciam macabro espetáculo. Entretanto, o Náutilo, contornou o navio e o professor leu em seu casco: FLORIDA – SUNDERLAND. 

19 – VANICORO: Aquele terrível espetáculo iniciava a série de catástrofes que o Náutilo iria encontrar. Passaram por inúmeros destroços. Em 25 de dezembro, o capitão avistou as ilhas Vanicoro, palco do célebre naufrágio dos navios do explorador La Pérouse. Estavam diante da ilha que Dumont d’Urville impusera o nome de ilha da Busca. No fundo do mar, jazia o navio naufragado. O capitão, passando pelo navio afundado, enalteceu a morte dos marinheiros. Mais tranquila que aquela tumba de coral não havia. Desejou a sorte de ter um repouso igual. 

20 – O ESTREITO DE TORRES: Durante a noite de vinte e sete para vinte e oito de dezembro de 1862, o Náutilo abandonou as paragens de Vanicoro em grande velocidade. O professor Pedro Aronnax e seu criado Conselho estavam bem adaptados, o mesmo não se podia dizer de Ned Land. Dois de janeiro: onze mil, trezentas e quarenta milhas ou cinco mil e duzentas e cinquenta léguas foram vencidas desde a partida. A intenção do capitão Nemo era alcançar o oceano Índico, passando pelo estreito de Torres, lugar habitado por perigosos selvagens, os papuas da Nova Guiné. Finalmente, o Náutilo alcançou a entrada do mais perigoso estreito do mundo por causa dos enormes recifes de coral. A imensa quantidade de ilhas, ilhotas, cachopos e abrolhos tornavam a navegação quase impraticável. O Náutilo parecia deslizar, como por magia, por entre aqueles ameaçadores recifes até que encalhou. Eram 4 de janeiro. Calmamente, o capitão disse que aguardariam a lua cheia do dia nove. Ela provocaria uma maré suficientemente alta para desencalhar o submarino. Ned alvoroçou-se, pois vislumbrou a possibilidade de ir à terra firme caçar. Sonhava com uma carne grelhada. Contra todos os prognósticos, o capitão não se opôs e até emprestou um barco. A possibilidade de fuga era nula. No dia 5 de janeiro, às oito horas, armados de fuzis e de machados, o professor, Conselho e Ned abandonaram o Náutilo. Às oito e meia estavam na praia. 

21 – NA FLORESTA TROPICAL: Comovidos, tocaram o solo pela primeira vez após dois meses de cativeiro no submarino. Estavam pisando a ilha de Gheberoar em território malaio. Imediatamente saborearam extasiados bastante água de coco. Passaram a colher vegetais comestíveis, inclusive a deliciosa fruta-pão. Esta foi convenientemente preparada na brasa. Por volta do meio-dia, tinham conseguido grande provisão de bananas, mangas saborosas e ananases de tamanho incrível que levariam ao submarino. Às cinco da tarde deixaram a praia da ilha e meia hora depois atracavam no Náutilo. No outro dia cedo, voltaram à ilha de Gheberoar, atracando noutro local. Chegara a hora de caçar animais de quatro patas. Viram grande quantidade de aves e conseguiram capturar viva uma valiosa ave-do-paraíso. Conselho, com grande admiração para ele próprio atirou e acertou duas vezes, assegurando o almoço. Abateu um pombo branco e uma pomba-rola que foram assados. Por volta das duas horas, Ned Land matou um porco do mato, prosseguindo, abateu cinco cangurus-coelhos, pequenos, mas de carne saborosa. Às seis da tarde votaram à praia. Ned preparou o carnívoro jantar com todo o esmero, não se esquecendo das costeletas de porco. O arpoador canadense, entusiasmado como estava, sugeriu que não voltassem mais ao Náutilo. Exatamente naquele momento, veio cair aos seus pés uma pedra que cortou pela raiz a sua proposta. 

22 – O RAIO DO CAPITÃO NEMO: Vinte nativos armados de arcos e fundas atacaram-nos. Fugiram para o bote. As pedras e as flechas choviam. Conseguiram chegar ao navio. Avisado do perigo, o capitão reagiu com calma, garantindo que o Náutilo estava seguro. Estava tocando piano e não interrompeu a sua atividade. Às seis da manhã, do dia oito de janeiro, os selvagens continuavam na praia. Eram 500 ou 600. Quase todos armados de arco, flecha e escudo. Traziam ao ombro uma espécie de sacola cheia de pedras arredondadas que suas fundas lançavam com muita habilidade. Indiferente, Ned preparava a carne para o almoço. De repente, cerca de vinte pirogas cercaram o Náutilo. Uma nuvem de flechas abateu-se sobre ele. O professor avisou o capitão que apenas mandou fechar as escotilhas. Aronnax advertiu-o que no dia seguinte teriam que abri-la para renovar o ar do navio. Nemo não se alterou. O capitão garantiu que no dia seguinte, às duas e quarenta da tarde, o Náutilo flutuaria e deixaria o estreito de Torres, sem ter sofrido avaria. O dia seguinte chegou. Às duas e trinta e cinco o capitão Nemo ordenou que os tripulantes abrissem as escotilhas. O professor falou que os papuas iriam entrar. O capitão garantiu, então, que ninguém entraria. Os nativos que tocavam no navio eram instantaneamente repelidos por algo invisível e corriam vociferando. Foi estendida uma corrente elétrica entre os selvagens e o submarino que ninguém transporia impunemente. Na hora determinada pelos cálculos do capitão, o Náutilo desencalhou lentamente e deslizou pela superfície do oceano, são e salvo, nos canais do estreito de Torres. 

23 – SONO AFLITO: Durante vários dias, o tempo do professor e do capitão foi dedicado a experiências variadas, que tinham por objeto o grau de salinidade das águas a diferentes profundidades, a sua eletrização, a sua coloração, a sua transparência. Dia 18 de janeiro. O capitão e o imediato trocavam tensas impressões. Nemo estava irreconhecível, pois perdera a habitual calma. Depois, dirigiu-se ao professor e disse-lhe que teria de aprisioná-lo e a seus companheiros provisoriamente. Na cela, almoçaram. Logo depois, foram tomados por irresistível sono. Foi impossível resistir. Pesadelos mórbidos apoderaram-se do professor que teve estranhas visões que logo desapareceram. Certamente, poderosos soporíferos foram colocados na refeição. 

24 – O REINO DE CORAL: Os três prisioneiros foram dominados por pesado sono. Acordaram nos respectivos camarotes. Por volta das duas horas da tarde, o professor estava no salão, quando o capitão abriu a porta e entrou. Estava inquieto. Sua aparência denotava que passara a noite em claro. Perguntou ao professor se ele era médico. Ante a resposta afirmativa, levou-a a um camarote onde estava estendido numa cama um homem seriamente ferido. O professor diagnosticou que o doente morreria dentro de duas horas. A mão do frio capitão Nemo crispou-se e algumas lágrimas correram de seus olhos. No outro dia, o capitão convidou os “hóspedes” para uma excursão marítima. Na companhia de uma dúzia de tripulantes. Vestiram-se para o passeio submarino. Tomaram pé a uma profundidade de 10 metros. Pisavam um Reino do Coral. Caminharam. Verdadeiras matas petrificadas abriram-se diante de seus passos. Depois de duas horas de marcha, haviam atingido a profundidade de cerca de trezentos metros. Descortinou-se, numa clareira, uma imensa floresta de corais. Espetáculo indescritível. O professor percebera que os tripulantes carregavam um objeto oblongo todo coberto. Na clareira, cavaram um buraco. Aquela clareira era um cemitério, aquele buraco, uma cova e o objeto oblongo era o homem que morrera durante a noite. O homem morto estava seguro, enterrado nos corais, fora do alcance dos tubarões e dos homens! ... 

25 – OCEANO ÍNDICO: A cena comovente do enterro encerrou a primeira parte da viagem submarina. Alguns acontecimentos tornavam o professor meditativo: o mistério daquela noite em que foram imobilizados pela dupla cadeia do enclausuramento e do sono, a precaução do capitão não permitindo que ele devassasse o horizonte e o ferimento mortal daquele homem. Tudo levava a crer que o Náutilo fosse o instrumento de misteriosas e terríveis represálias. Haviam percorrido seis mil léguas pelo Pacífico. Entraram nas águas transparentes do oceano Índico. Viram através da escotilha muitos exemplos da fauna daquele oceano. A vinte e sete de janeiro, na entrada do golfo de Bengala, surgiram cadáveres no mar. Eram os mortos das cidades hindus, arrastados pelo Ganges até o alto mar. Depois passaram pelo “mar de leite”: grande extensão de ondas brancas, frequentes naquele oceano e nas ilhas Moluscas. Eram o resultado da aglutinação de miríades de micro-organismos. 

26 – NOVO CONVITE DO CAPITÃO NEMO: No dia 28 de janeiro, o Náutilo singrava as águas territoriais do Ceilão, célebres por suas pescarias de pérolas. O capitão convidou o professor a visitar uma região pesqueira. Aproveitou para falar da terrível vida levada pelos pescadores de pérolas, fadados a viver pouco. Marcaram o passeio para a madrugada seguinte: além de apreciar o banco de ostras, teriam a oportunidade de caçar tubarões. O convite fora estendido aos companheiros de Aronnax. Aronnax temia os tubarões. Tentou fazer com que Conselho e Ned desistissem da aventura. Inutilmente. Teve que conformar-se e aceitar o perigoso passeio. 

27 – UMA PÉROLA DE DEZ MILHÕES: Às quatro da madrugada, os viajantes entraram no bote que os levaria à ilha de Manar, local do rico banco de ostras. Seis horas da manhã. A um sinal do capitão, a âncora foi fundeada próximo à ilha de Manar. Vestidos convenientemente e armados, os valentes viajantes mergulharam. Por volta das sete horas, pisaram, finalmente, o banco de ostras. Sob a orientação do capitão, Aronnax, Conselho e Ned entraram numa grande gruta. Nemo sabia o que iria encontrar e deixou os companheiros deslumbrados, pois viram uma pérola que valia verdadeira fortuna. O molusco que guardava a pérola pesava uns trezentos quilos. O capitão, cuidadosamente deixou a pérola exposta. O seu tamanho era semelhante ao de um coco. Apenas o capitão sabia do local onde estava a preciosidade. Não tinha pressa de pegá-la. Esperava que crescesse mais para ter ainda maior valor. Valia, seguramente, 10 milhões de francos. Resolveram voltar. No caminho, viram um enorme tubarão atacando um pescador hindu. Preparava-se para cortar o pescador em dois, quando o capitão Nemo, empunhando um punhal, foi lutar corpo a corpo com o animal. Exausto, o capitão caiu ao solo, derrubado pela enorme massa ferida que pesava sobre ele. Estaria liquidado se Ned Land não atingisse com certeiro golpe o coração do monstro. Ned Land libertara o capitão. Às oito e meia estavam de volta ao Náutilo. O professor perguntou a Nemo o porquê dele haver arriscado a vida pelo hindu. O capitão respondeu simplesmente que aquele homem era um habitante do país dos oprimidos e que ele também pertencia àquela nação. 

28 - O MAR VERMELHO: Vinte e nove de janeiro. Haviam navegado dezesseis mil e duzentas e vinte milhas, ou sete mil e quinhentas léguas desde o ponto de partida no mar do Japão. Eram há três meses prisioneiros a bordo do Náutilo. Durante quatro dias, até três de fevereiro, o submarino percorreu o mar de Omã. Finalmente, chegou ao mar Vermelho. O professor e o capitão trocaram ideias sobre o inóspito mar Vermelho. Ele foi cenário de inúmeros naufrágios na época em que não havia sofisticados instrumentos de navegação e os barcos eram feitos de madeira. Nemo explicou que o nome do mar se originou do afogamento dos exércitos do Faraó, quando Moisés ordenou que as ondas se fechassem, depois da passagem dos israelitas. Coalhado de sangue, recebeu o nome que o imortalizou. Pelo menos é o que rezava a lenda. Nemo informou que a próxima etapa seria o Mediterrâneo. Atingiriam rapidamente o objetivo graças a uma descoberta que fizera: um canal que ligava os dois oceanos. Dera-lhe o nome de Túnel Arábico. 

29 – O TÚNEL ARÁBICO: Ainda no mar Vermelho, Ned avistou um leão marinho. Ficou excitado para caçá-lo. O capitão autorizou-o. Embarcados no bote, 12 tripulantes e os “hóspedes” iniciaram a perseguição. A luta foi terrível. Mas, no final, a fera de 7 metros e 5 toneladas foi morta. O leão marinho foi esquartejado sob a supervisão de Ned Land. A carne foi preparada brilhantemente pelo cozinheiro de bordo. Durante os próximos dias houve fartura de caça. Quando chegaram ao túnel Arábico, o próprio capitão guiou o submarino devido ao grande perigo da travessia. Fê-lo com perícia. Às dez horas e trinta e cinco minutos do dia 11 de fevereiro, o capitão Nemo anunciou que haviam entrado no Mediterrâneo. Em menos de vinte minutos, o Náutilo atravessara o istmo de Suez. 

30 – O ARQUIPÉLAGO GREGO: Ned demorou a acreditar que haviam chegado no Mediterrâneo. Quando, afinal, certificou-se, ficou animado. Propôs aos companheiros que abandonassem o Náutilo, pois estavam na Europa. O professor, que estava motivado pelos seus complexos estudos a bordo do submarino não era adepto da ideia, mais, pressionado pelos sólidos argumentos do arpoador canadense, submeteu-se a sua vontade. Apenas alertou que a primeira tentativa tinha que ser coroada de êxito, porque, se abortasse, nunca mais teriam ocasião de repeti-la. Aquela conversa, mais tarde, teria graves consequências. Do salão, ao lado do capitão, enquanto fazia os seus estudos através da escotilha aberta, Aronnax viu um mergulhador ao lado do Náutilo. Não era um náufrago e comunicou-se por sinais com Nemo. Logo depois, o submarino emergiu. O Barco foi preparado para navegar e o fez com uma grande carga de barras de ouro. O episódio deixou Aronnax intrigado. Continuaram a viagem pelo arquipélago grego e presenciaram até uma erupção vulcânica abaixo da superfície do mar. No dia seguinte, dezesseis de fevereiro, o Náutilo, passando ao largo de Cerigo, abandonava o arquipélago grego, depois de dobrar o cabo Matapã. 

31 – TRAVESSIA RELÂMPAGO: Partindo dos arredores da Grécia, na manhã de dezesseis de fevereiro, no dia 18, ao despontar do sol, já haviam transposto o estreito de Gibraltar. O Náutilo desenvolveu grande velocidade. Parecia que aquele lugar da Europa trazia más recordações ao capitão que queria ficar logo livre do trecho que, provavelmente, evocava algo triste. Em alta velocidade, já estavam alcançando o estreito de Gibraltar e abandonando a Europa. A África aproximava-se e escombros de naufrágios apareciam à vista dos aventureiros. Apresentava-se um vasto ossuário, onde tantas riquezas se perderam, onde tantas vítimas encontraram a morte. A dezoito de fevereiro, às três horas da manhã, surgiu o estreito de Gibraltar. Alguns minutos depois, singravam as águas do Atlântico. 

32 – A BAÍA DE VIGO: Vasto Atlântico, quase ignorado pelos antigos. Recebe os maiores rios do mundo. O Náutilo singrava-lhe as águas, depois de haver navegado perto de dez mil léguas em três meses e meio. Ned estava a ponto de enlouquecer por ver frustrados os seus desejos de fuga. O professor tentou tranquilizá-lo, dizendo que certamente teriam sucesso quando passassem por Portugal, Espanha ou França. Estava provado que o capitão não evitava os lugares habitados. Land comunicou que já tinha tudo preparado. Iriam fugir às nove da noite, quando o submarino navegaria nas proximidades da Espanha. Aronnax permaneceu em seu quarto, alegre pela possibilidade de fuga e triste por ter que abandonar aquele sofisticado centro de pesquisa. O capitão não aparecia há semanas. Aquele dia de expectativa parecia interminável. A porta do camarote do capitão estava entreaberta. Aronnax entrou e viu pinturas que retratavam grandes libertadores da humanidade decorando as paredes. Chegou a hora fatal, nove horas. Nem sinal do capitão. O submarino assentou-se no solo, contrariando a sua rotina. O professor teria que encontrar Land para dizer-lhe que tinha de adiar o projeto. Aguardou-o no salão de trabalho. Inesperadamente, Nemo surgiu no salão e falou do porquê do desvio de rota. Disse que estavam na Baía de Vigo, Espanha, onde havia no fundo uma fortuna em lingotes de prata, ali jogados em 1702 por motivos políticos que explicou detalhadamente.

O Leopardo (Giuseppe Tomasi Di Lampedusa)


O livro se inicia com a frase final da oração da Ave Maria: "Nunc et in hora mortis nostrae. Amen". 

Situado na década de 1860, o romance II Gattopardo, “O Leopardo”, um dos clássicos da literatura italiana, é a única obra de Giuseppe Tomasi, Príncipe de Lampedusa. 

Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, um aristocrata siciliano apaixonado pelas letras, quando escreveu O Leopardo enfrentava uma doença que o iria matar logo depois de concluir a obra. Durante sua vida, o romance foi rejeitado pelos editores aos quais fora submetido, o que desapontou muito Tomasi. Em 1957, Tomasi Di Lampedusa que tinha recebido diagnóstico de câncer falecera em 23 de julho em Roma. Seu romance foi publicado somente dois anos após sua morte. 


Resumo: 

Romance histórico situado na segunda metade do século XIX, O Leopardo conta a fascinante história de uma aristocracia siciliana decadente e moribunda, ameaçada pela aproximação da revolução e da democracia. 

O Leopardo era o animal que figurava no brasão da família de Dom Fabrizio, (Personagem principal), um italiano, Príncipe de Salina. Lampedusa escolhe, talvez, a figura do Leopardo, não só pelo seu individualismo – característica que tem em comum com o príncipe de Salina – como pela sua adaptabilidade, algo que é fundamental para a manutenção do status do protagonista e da sua família. 

Logo abaixo dos Leopardos, dos Leões, estão as raposas, os chacais, as hienas, cuja astúcia desprovida de escrúpulos, aliada a uma fortíssima motivação para vencer fazem da burguesia em ascensão uma classe para a qual os fins justificam os meios na sua rota de ascensão em direção ao topo da escala social: Agiotas, banqueiros, especuladores ou, simplesmente, grandes industriais que enriquecem misteriosamente de um momento para o outro. A ambição deste tipo social esbarra, porém, com o conservadorismo dos Leões e dos Leopardos que demoram, ainda, algumas gerações antes de os considerarem como seus iguais. 

Em maio de 1860, meados do século XIX, o revolucionário Giuseppe Garibaldi desembarca na ilha Marsala para liderar o movimento de unificação da Itália. Giuseppe Garibaldi chefia “Os descamisados”, ou simplesmente, “Os camisas vermelhas”. O objetivo é a reunificação da Península Itálica, a expulsão dos Bourbons - cuja pretensão de hegemonia, partindo de Nápoles de onde reina a dinastia Bourbon, irrita de sobremaneira os italianos – e sua substituição pela dinastia rival de Piemonte, apoiando Vítor Emanuel da casa de Sabóia. 

Assumindo como seus os ideais da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – as tropas de Garibaldi pretendem o estabelecimento de uma nova ordem social ao defender a igualdade de oportunidades como o principal objetivo da revolução. Recebem, por isso, o apoio direto de uma classe em franca ascensão: Uma burguesia endinheirada que lucra em progressão geométrica com o endividamento galopante de uma nobreza dissipadora e cada vez mais passiva. A classe aristocrática sente que está próxima do fim de sua supremacia. 

Então Don Fabrizio assiste com distância e melancolia ao final dos combates! A adaptabilidade do Leopardo Fabrizio Salina impele-o a ser condescendente, flexível, com a nova classe em ascensão, cujo poder econômico poderá ajudar a sua família a manter o padrão de vida ao qual está habituada.

Dom Fabrizio, começa a perceber as mudanças na sociedade e a notar a futilidade de sua vida nesse momento histórico onde há uma decadência de sua classe, de seus costumes e do surgimento de uma nova ordem. Fabrizio deixa que a vida passe enquanto assiste à decadência da monarquia italiana, sem fazer qualquer esforço para interferir ou inserir-se no novo contexto que se delineia. 

Dom Fabrizio, desinteressado na vida política, acredita que as coisas têm que mudar, mas permanece como um espectador: Observa o fim de sua era solitário, resignado e pessimista. O Leopardo é irônico, direto e impactante. Dom Fabrizio se mostra extremamente pessimista com o futuro de sua terra, que ele considera quente demais, medíocre demais e preguiçosa demais, e por isso sempre fica a parte das decisões históricas. Suas ambições são continuadamente reduzidas, em simultaneidade com o esvaziamento da própria significação da nobreza, tornando os atos da mesma cada vez mais fúteis e desnecessários. 

Completamente cético quanto a importância de sua posição perante as mudanças políticas, Don Fabrizio apenas segue o curso da história cumprindo o mote aparentemente contraditório: "É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão"! 

Além da figura marcante de Don Fabrizio, há também a representação da nova classe social em Don Calogero que casará sua linda filha Angélica com Tancredi, sobrinho e favorito do príncipe. As interações/conflitos entre as duas classes resultam em momentos de muito humor, sobretudo. Outros aspectos possuem um forte apelo visual, como por exemplo, o momento da chegada da família aristocrática em Donnafugata, cobertos de poeira acumulada durante a longa viagem, figuras irreais e obsoletas no novo cenário da Itália unificada. 

Sendo assim, a própria história da ilha, marcada por sucessivas invasões de todos os quadrantes do mediterrâneo, tem como consequência o desenvolvimento de um sentimento coletivo de indiferença por quem se encontra no poder! 


O autor: 

Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, duque de Palma e príncipe de Lampedusa, nasceu em Palermo, em dezembro de 1896, e faleceu em Roma, em julho de 1957. Dedicou-se à escrita apenas nos últimos anos da sua vida, no tranquilo isolamento da sua propriedade, sem contacto com o meio literário. O Leopardo, a sua obra-prima, foi o único romance que escreveu. Inicialmente recusado por duas grandes casas editoriais italianas, viria a ser publicado um ano e meio após a morte de Lampedusa, tendo um sucesso imediato junto do público e da crítica, que o considerou uma das maiores obras literárias do século XX. Traduzido em todas as línguas, O Leopardo é já um clássico incontornável da literatura. 

O autor buscou sua inspiração nas histórias de sua antiga família e, em particular, na vida de um seu antepassado que viveu nos anos cruciais do Risorgimento, no reinado de Francisco II das Duas Sicílias. 

Obs: Se procura filme italiano de 1963, dirigido por Luchino Visconti, veja II Gattopardo (filme). II Gattopardo narra a história do ancestral do autor, Don Fabrizio Corbera, Príncipe de Salina, e de sua família entre 1860 e 1910, na Sicília. 

Personagens: Fabrizio Salina: O protagonista, é a fusão entre a cultura alemã, herdada da mãe – o racionalismo, o apego às normas e à ordem, traduzidas no fascínio pelas leis da física, nomeadamente da astronomia – e a indolência e fogosidade italianas como legado paterno. Sendo um homem dotado de inteligência (Muito) acima de média no seu grupo de pares – que se caracteriza, sobretudo pela frivolidade ideológica a par de uma extrema sensibilidade estética – Fabrizio estaca-se do seu grupo. É, antes de tudo, graças ao seu encanto pessoal que, mais do que a sua irrepreensível genealogia, o Leopardo Salina não é segregado pelos seus iguais que o consideram algo excêntrico, inspirando-lhes um misto de admiração e receio. Fabrizio Salina é, ainda, um homem sensual, propenso a grandes paixões, cujo temperamento esbarra com a castradora religiosidade da sua aristocrática esposa, Stella.  
Stella: A princesa di Salina, é perfeita na estrita observância do profundo respeito pelas convenções, das normas de etiqueta e do saber-estar. No entanto, o seu fervor religioso, manifesto até durante o ato sexual, assim como a sua frivolidade, acabam por exasperar o marido e esfriar a sua paixão inicial. 

Tancredi: O príncipe Di Falconeri, sobrinho de Fabrizio, é um jovem belo, inteligente, dotado de um humor colorido de um sarcasmo afetuoso, dirigido ao Zio Fabrizio – “Zione” (Tiozão), como lhe chama o sobrinho – o qual não resiste àquela descarada ironia que tem as suas raízes numa juventude que se crê imortal. A inteligência de Tancredi está ligada ao seu sentido de oportunidade, à astúcia felina (Ou de ave predadora) que lhe permite realizar um casamento vantajoso, salvando-o da ruína e, ao mesmo tempo, realizar o desejo de possuir a bela e voluptuosa Angélica, filha de um novo-rico, recentemente promovido a barão e com pretensões aristocráticas. É, também, o mesmo materialismo de Tancredi que o faz transitar habilmente do partido dos “Camisas vermelhas” para o exército real.

Angélica: É uma jovem de origem humilde, que tem acesso a uma educação refinada, em virtude do enriquecimento meteórico do pai. Apesar de, no início, o verniz da educação e o refinamento da toilette não conseguirem ocultar totalmente a sua origem camponesa. Contudo, Angélica acaba por ser uma lufada de ar fresco dentro de uma aristocracia debilitada por sucessivos casamentos consanguíneos, maus hábitos alimentares, ausência de vida ao ar livre e falta de exercício físico. Apesar de alguns pequenos deslizes no que toca à etiqueta e ao protocolo, Angélica é inteligente, ativa, uma jovem que se torna culta e interventiva no que diz respeito a causas sociais e na defesa dos direitos das mulheres. É a única personagem feminina que consegue conservar a beleza e o encanto até à velhice, preservando, até depois da morte de Tancredi, a vivacidade da juventude. 

Irmãs Salinas: Filhas de Fabrizio e Stella, estiolam pelo excesso de rigidez a que as obrigam as expectativas daqueles que as rodeiam, mercê do seu estatuto. Tornam-se demasiadamente tímidas e recatadas para inspirarem verdadeira paixão. A sua frieza e aparente indiferença acabam sempre por “Gelar o sangue” aos seus pretendentes. 

Fontes: Pequeno trecho do site http://www.recantodasletras.com.br
Outros trechos de vários sites e montagem totalmente minha. 

O Perfume: A história de um assassino (Patrick Suskind)


A história situa-se no século XVIII, em Paris, depois em Auvergne, em Montpellier, em Grasse e finalmente retorna a Paris... ... 

Paris, século XVIII. Multidões de pessoas famintas perambulam pelas ruas. Frio e fome, medo, desilusão e dor, em meio ao desespero de personagens que não vivem plenamente, apenas sobrevive o momento do agora, mesmo porque o amanhã em termos de futuro não existe na imaginação daqueles seres errantes que vê sua condição humana como desígnios divinos, portanto, inquestionáveis. Fétida, a cidade proporciona um caldo de diversificados sons, cores e, principalmente, cheiros, os mais diversos cheiros. O ambiente é pesado, distante, quase surreal. A cidade respira o ar poluído pela decadência do espaço, mas também e, principalmente, pela presença de um ser humano pobre demais, tanto material quanto espiritualmente. 

É nesse ambiente que nasce Jean-Baptiste Grenouille. O protagonista, Jean-Baptiste Grenouille veio ao mundo em meio à tripas de peixes atrás de uma banca de feira onde a mãe (algumas semanas depois executada por infanticídios) vendia seus peixes. Tão logo depois ele foi abandonado pela mãe que no desespero da própria sobrevivência via no filho um estorvo, peso que jamais conseguiria carregar. Criado como pária, vive seus primeiros anos imerso no silêncio premeditório que só os grandes gênios podem usufruir. 

O garoto cresceu e, com o tempo, foi se destacando das outras crianças da classe proletária da França por causa de sua inusitada e espetacular capacidade olfativa. Ele é, inclusive, visto com estranheza e temor pelas outras crianças de sua idade. Grenouille consegue sentir odores a grandes distâncias, e ainda tem a capacidade de sentir o cheiro de coisas que para as pessoas normais não têm cheiro, como pedras. Desde a adolescência, Grenouille tem o desejo de guardar para si todos os tipo de fragrâncias e conhecer odores novos. É nessa balada que ao conhecer uma garota na rua e se apaixonar pelo seu cheiro Jean-Baptiste se aproxima dela. Em pouco tempo a garota é morta por sufocamento.

Inconformado por não conseguir guardar o aroma dessa mulher, Grenouille fica obcecado para aprender técnicas para guardar os odores. E isso se torna possível quando conhece Giuseppe Baldini, um perfumista quase falido que vê seus negócios decolarem após a chegada do jovem e seu imensurável talento. Antes Grenouille trabalhava como aprendiz de curtidor de peles e posteriormente como aprendiz de perfumista, onde aprendeu as questões técnicas na criação de um perfume. Sempre atento aos ensinamentos (Oportunistas, é claro) de Baldini, ele aprende que todos os odores podem ser capturados e preservados, embora seus métodos não sejam os melhores. A descoberta faz com que Grenouille se mude para a cidade de Grasse, onde aprende a técnica mais eficiente. Daí acontecem outras matanças de mulheres. 

Baldini dizia que o perfume de uma pessoa é como se fosse sua alma, o que nos dá a entender que, ao preservar o perfume, ele estaria roubando a alma da pessoa. Jean-Baptiste parece saber exatamente como roubar a alma de uma pessoa, o que é provado pelo fato de as pessoas ligadas a ele morrerem quase sempre. 

Grenouille não percebia à si mesmo como um ser com uma identidade própria como todas as pessoas, e não conseguia identificar seu próprio cheiro. 

Obstinado, procura preencher essa lacuna buscando a síntese perfeita do aroma dos seres humanos absolutamente ideais em termos de pureza e docilidade, traduzida na candura da palavra amor. O aroma essencial, ou a essência de todos os aromas é a busca de Grenouille. Não há limite nessa busca, na medida em que para Grenouille, o viver está diretamente relacionado à essa conquista. Muitas tentativas são feitas! 

Grenouille persegue um ideal mais forte do que a razão. Ele decanta, destila e imagina, num sonho etílico e surreal, como seria ter o domínio do aroma da felicidade e do amor, da paz e da alegria, da pureza e da beleza, para que de posse dessa essência tivesse o controle não só das pessoas, mas de si próprio mesmo. Para conseguir o seu intento tudo seria válido, mas o destino reescrito tantas vezes mais uma vez tomava seu rumo e o trancafia nas masmorras imundas dos porões da cidade das flores e das essências. 

E continuam os assassinatos de mulheres lindas e donzelas, sempre deixando-as com os cabelos cortados... 

Havia um homem, Antoine Richis, vice-cônsul, viúvo e tinha uma filha chmada Laure. Ela era de uma beleza exuberante. Como todas as moças que eram assassinadas eram bonitas e donzelas, Richies protegia sua filha o máximo que podia, até fugindo as escondidas com ela com medo que o assassino a encontrasse. Porém um dia, mesmo escondido em outra localidade, um dia Laure aparece morta na cama e com os cabelos cortados. Antoine Richis sofreu muito a perda de sua linda e amada filha. 

Com isso, por causa de tantos assassinados chegaram a Grenouille. A sociedade que o acolheu agora o quer exposto na praça, com a carne à mostra e seu sangue a jorrar, molhando as pedras lisas, combinação perfeita de um mosaico da grande praça central. 

Mas no palco diante da multidão Grenouille assustado resolve usar do seu perfume. A essência das essências contamina o ar e o público que se perde no frescor daquele aroma. O aroma do perfume faz com que o público se entregue deixando seus corpos nus e contaminados pelo amor dos toques dos corpos. As pessoas conseguem através do perfume serem quem realmente são; conseguem acessar os seus desejos mais primitivos, mas nada sensual ou depravante! 

Então aparece o vice-consul, Antoine Riches e apertando a mão de Grenouille diz à ele que a magistratura anulou a condenação. As testemunhas retiraram o que haviam dito. 

Assim houve um conselho numa assembléia com o vice-cônsul e os cavalheiros. Daí resolveu-se que mandasse arrancar sem demora a tribuna e o cadafalso da praça. 

Com isso foi aberto um novo processo contra um outro desconhecido que assassinou as 25 donzelas da região de Grasse. Abriram novas investigações e o verdadeiro assassino foi encontrado: Dominique Druot, em cuja cabana havia sido encontradas as roupas e os cabelos de todas as vítimas. Este foi torturado e enforcado. 

Mas Grenouille ainda não estava feliz. O seu perfume tinha o poder de escravizar toda a humanidade, até mesmo o Papa, mas Grenouille vai em busca do seu “EU” interior. O perfume dava à ele o poder para tudo, exceto o de amar e ser amado! 

Grenouille percebeu então que o vazio que ele sentia estava dentro dele mesmo e que mesmo conseguindo conquistar tudo o que quisesse com o perfume, ele ainda continuava infeliz! 

Angustiado, Grenouille retorna a sua cidade natal, o lugar onde nasceu, na podridão, em Paris, após fugir de sua execução pelos assassinatos na cidade de Grasse, onde resolve acabar com si mesmo: Grenouille derrama todo o vidro de perfume sobre sua sua cabeça, o qual escorre pelo seu corpo todo. E todas as mulheres, prostitutas, homens, pessoas, vieram para cima de Grenouille, inspiradas pelo perfume único, diferente, com poder total! 


Então Grenouille é devorado pelas pessoas que o amaram através do perfume! 

A ação divide-se entre o mundo dos perfumes, traduzido pelo título "O Perfume", que servem para encobrir o mundo dos fedores, dos crimes e da hipocrisia que caracterizam a cidade de Paris no século XVIII. 

Grenouille possui duas características excepcionais:

• Ele não possui odor próprio, o que permite que ele passe totalmente despercebido aos outros, pois segundo o autor "o odor é a essência, e o que não tem essência não existe". Durante a história, essa ausência de cheiro, da qual ele se dá conta quando adulto, será compensada pela criação de perfumes que Grenouille utiliza de acordo com as circunstâncias a fim de ser notado pelos outros. 

• Ele tem um olfato extremamente desenvolvido, o que lhe permite reconhecer os odores mais imperceptíveis. Conseguia cheirá–los a distâncias inacreditáveis e armazenava–os em sua memória, também excepcional. Esse olfato é sua principal característica, o que lhe permite confeccionar perfumes de qualidade excepcional. 

Sobre o autor: 

• Homem tímido que se recusa a dar entrevistas e a aparecer na televisão. 

• Suskind fascina o leitor com a incrível sensualidade do seu texto e o prazer de escrever tão bem. 

• Seu livro foi recebido com louvores pelos críticos de toda a Europa e se transformou em um Best-seller. Em poucas semanas foram vendidos mais de um milhão de exemplares.

O Apanhador no Campo de Centeio (Jerome David Salinger)


O romance gira em torno da figura de um adolescente de 16 anos, Holden Caulfield, que além de ser o personagem principal, é também o narrador de sua própria história. A histórias inicia-se próximo ao Natal do ano anterior, quando ele estava saindo da terceira escola (colégio) que já havia estudado, o Pencey. Inicialmente, o livro fora escrito para adultos, mas tamanho foi a empatia do personagem como público adolescente, que passou a ser leitura obrigatória – e quase subversiva – entre os mais jovens. 

Holden que passa por problemas típicos de sua faixa etária – confusão, angústia, alienação e revolta -, acaba sendo visto como um grande anti-herói, que se transformou em um ícone entre 1960 e 1970. Holden vai passar um final de semana em Nova York, após receber seu boletim, com notas péssimas em todas as disciplinas. Além disso, ele descobre que será expulso do internato para rapazes onde estudava. 

Caulfield, que era filho oriundo de uma classe abastada, tenta adiar o confronto com a família, e sai andando pelas ruas da cidade. Durante seu trajeto, ele vai descrevendo a paisagem nova-iorquina, que passa a ser o ambiente ideal para as divagações de um adolescente. 

Holden se encontra totalmente desmotivado, desinteressado pela vida, além de se sentir entediado por todos os que estão à sua volta. Ele, em suas divagações, acaba rememorando alguns personagens de seu passado, como um antigo professor, uma antiga namorada, sua irmã menor, a quem devotava certo carinho. Mas, o que parece que irá resolver algumas de suas angústias, acaba intensificando-a, já que Holden se sente totalmente desamparado, rejeitado, ansioso e frustrado. Vale lembrar que Holden já tinha estava saindo de sua terceira escola. 

Durante as suas divagações, Holden acredita que a única solução para a sua existência é partir em direção ao oeste do país. Como ele gostava muito da irmã menor, ele resolve que deve se despedir dela. Compra então dois bilhetes para brincarem em um carrossel. Phoebe, a irmã de Holden, entra no brinquedo e, nesse momento começa a chover. Holden não se esconde da chuva e vê a cena como uma enorme beleza. 

Ela foi, mas não foi sozinha, levou sua mala consigo. Holden não aceitou de forma alguma que ela fugisse com ele e ficou extremamente irritado. Ela, por sua vez, ficou magoada com o irmão e não quis voltar para a escola a tarde. Ele, tencionando agradá-la, propôs que os dois fossem ao Jardim Zoológico. Ela aceitou. Eles foram ver os animais e, durante o passeio, eles avistaram um carrossel. Holden sabia que sua irmã adorava andar no carrossel e comprou um bilhete para ela brincar com os cavalinhos. 

Quando ela subiu no brinquedo, começou um dilúvio. Todos correram para debaixo da proteção do carrossel, menos ele que ficou apreciando sua irmã rodar e rodar no carrossel, quase chorando por estar diante de tamanha beleza.

... e a história termina do ponto onde ele começou a contar: hoje ele está em um sanatório fazendo tratamento psicanalítico.

Martini Seco (Fernando Sabino)


Martini Seco (Fernando Sabino) O texto é dividido em quatro partes, que delimitam as etapas da história e as transformações ocorridas. Vamos, a seguir, acompanhar cada uma dessas partes. 

Primeira parte: Esta parte se inicia com o relato do caso ocorrido em 17 de novembro de 1 957. Um homem e uma mulher entraram em um bar, sentaram-se e pediram dois martinis. Ela foi ao telefone e ele foi ao banheiro. Quando retomaram, a mulher [Carmem] tomou a bebida e caiu morta. Estabelecida a confusão, ninguém sabe como a polícia chegou. Chegou e, inicialmente, supôs tratar-se de suicídio. Entretanto logo surgiram as suspeitas de que se tratava de assassinato. O marido, Amadeu Miraglia, foi considerado como o principal suspeito. Preso, acabou confessando; mais tarde, em juízo, alegou que fora torturado para confessar e acabou absolvido da acusação. Cinco anos depois, Maria, 2º mulher de Amadeu Miraglia, vai à delegacia apresentar queixa, porque desconfia que ele quer inata -la e que usará veneno para que o caso termine como anterior. Amadeu é interrogado e nega tudo. Levanta a hipótese de que ela. Maria pretende matar-se e jogar a culpa nele. Acrescenta que já está acostumado com este tipo de injustiça, pois quando criança também foi acusado pelo pai, injustamente, pela morte de um passarinho. 

Segunda parte: Curiosamente, esta parte se inicia da mesma forma que a primeira, inclusive com a repetição das mesmas palavras. Para o leitor, fica parecendo que Miraglia e a mulher estão envolvidos num novo assassinato, mas na realidade o que se passa é a reconstituição do crime. A partir deste momento, o leitor toma contato com novas informações, que ele terá de juntar às anteriores para compor um quadro de hipóteses coerentes quanto à atitude dos personagens. Miraglia conta que ia se casar com Carmem e que ela estava grávida. Miraglia diz que o filho não poderia ser seu, pois ele era estéril. Miraglia explica que Carmem se suicidou porque não queria admitir lhe fora infiel. Miraglia diz que Maria também queria se matar, porque também estava grávida e sabia que o filho era ilegítimo Em meio a tantas informações, o caso toma vários caminhos, que o comissário Serpa tenta questionar, concluindo que todas as suspeitas apontam para Miraglia. A história se repete: Maria vai com Miraglia ao bar, toma um martini e cai fulminada. 

Terceira parte: Como se pôde ver, esta história acontece como num jogo, o de damas, por exemplo, em que novas possibilidades de jogadas vão acontecendo. O detetive Serpa levanta a hipótese de que Miraglia pretendia matar-se e Carmem, tomando o martini no cálice errado, terminou morrendo. Neste momento, Maria lhe telefona para saber se deve tomar o cálice de martini que Miraglia lhe oferece. Serpa diz que ela deve beber o outro cálice, o que pode configurar um erro, pois se Miraglia pretendia se matar, ela, Maria, morreria fatalmente. 

Quarta parte: Novamente o leitor é levado a crer num real assassinato, que acaba por não ocorrer. Maria não havia morrido e resolve retirar a queixa contra Miraglia, porque se arrependeu e acabou dando o caso como encerrado. Serpa, finalmente, tem uma pista concreta em suas mãos: a morte de uma mulher desconhecida, por envenenamento, no mesmo bar onde ocorreu a primeira morte. O fato leva Serpa a concluir que uma desconhecida havia tomado o martini de Miraglia e morrera, o que confirma que ele pretendia mesmo se matar. 

O final é inconcluso, não deixando qualquer certeza sobre a culpabilidade ou não de Miraglia.

Bufo & Spallanzani (Rubem Fonseca)


Bufo & Spallanzani é um romance repleto de citações e sobre outros autores e livros, além de muitas digressões sobre a arte de escrever narrativas. Enfim, tal obra literária está, sempre que possível, fazendo referências à própria literatura, o que, em outras palavras, costumamos chamar de exercício da função metalingüística. 

lvan Canabrava narra acontecimentos de sua vida em flash-back. Ora a nós leitores, ora a Minolta, sua namorada, amiga, amante e confidente. Várias histórias se entrelaçam, se misturam nesse enredo de Rubem Fonseca. O livro se divide em cinco grandes partes: Foutre ton encrier, Meu passado negro, O refúgio do Pico do Gavião, A prostituta das provas e A maldição. Essas partes correspondem a episódios da vida do narrador. Cada uma delas poderia ser independente caso não houvesse um fio narrativo condutor. 

No primeiro episódio, Foutre ton encrier, o escritor Gustavo Flávio conta a Minolta sua relação com Madame X. Compõe-se de seis capítulos. Madame X, mais tarde revelada como Delfina Delamare, é uma bela e casada grã-fina por quem o narrador se apaixona. Delfina é encontrada morta. O detetive Guedes suspeita de Gustavo Flávio, porém não tem provas contra ele. A princípio, levanta a hipótese de suicídio, porém após os exames periciais comprova-se o homicídio. O marido de Delfina, o ricaço Eugênio Delamare, tem interesse na idéia de homicídio. No capitulo 5, Gustavo Flávio revela a identidade de Madame X a Minolta. Conta também que recebera, antes da morte de Delfina, a visita ameaçadora do marido traído. No último capitulo. Gustavo Flávio é convidado a depor como um dos suspeitos do assassinato de Delfina Delamare. 

O segundo episódio — Meu passado negro — volta ao passado de Gustavo Flávio. Antes de ser Gustavo Flávio, o escritor havia sido professor primário, amante de Zilda. Seu nome: lvan Canabrava. lvan passa a trabalhar numa firma de seguros, que deverá pagar um prêmio altíssimo a Clara Estrucho, viúva de Maurício Estrucho, que fez o seguro poucos meses antes de morrer. Desconfiado, lvan começa a investigar o caso. Descobre, no lixo encontrado no apartamento abandonado do casal Estrucho, um sapo morto e um ramo de flores murchas. Com a ajuda de Ceresso, presidente da Associação Brasileira de Proteção ao Anfíbio, lvan Canabrava descobre também que o veneno do sapo, da espécie Bufo marinus, associado ao sumo da planta, causa catalepsia profunda. Excitado pela descoberta da fraude, lvan não percebe o descaso de seu chefe e entrega-lhe o relatório completo de suas investigações. No entanto, sob suspeita de loucura, lvan não tem crédito e parte para a experiência da catalepsia. Mesmo com seu próprio atestado de óbito, lvan não consegue convencer o chefe. Não desiste, porém: vai ao cemitério acompanhado por Minolta, Siri e Maria, seus amigos hippies, para abrir o túmulo onde estaria Maurício Estrucho. Na ocasião são surpreendidos pelo coveiro e, para calá-lo, lvan o agride, matando-o sem querer. lvan é preso e considerado louco. Vai para o Manicômio Judiciário, de onde foge com a ajuda de Minolta e Siri. Passa então dez anos escondido com Minolta. lvan Canabrava adota o pseudônimo de Gustavo Flávio (uma homenagem ao escritor francês Gustave Ftaubert), engorda trinta quilos, torna-se escritor famoso e aprende a amar as mulheres. Por sugestão da sua segunda companheira, volta ao Rio de Janeiro. No final da segunda parte, o narrador retoma o relato sobre seu romance com Delfina Delamare. Minolta observa que o escritor está sentindo dificuldades para começar a escrever seu romance Bufo & Spallanzani e sugere a Gustavo Flávio que se recolha ao Refúgio do Pico do Gavião. 

O terceiro episódio poderia constituir-se em outra história, não fosse também vivenciada por Gustavo Flávio. O Refúgio do Pico do Gavião refere-se à conturbada estada do escritor nesse lugar. Há outros hóspedes: um elegante casal de bailarinos, Roma e Vaslav; um maestro e sua esposa prima-dona, Orion e Juliana Pacheco; um rapaz magro e tímido, Carlos; duas "primas", Suzy e Euridice, que são, na verdade, amantes. Além dos hóspedes, outras personagens participam da trama: Trindade, proprietário do lugar, e D Rizoleta, sua mulher. Numa conversa entre os hóspedes, o maestro questiona o talento dos artistas literário defendendo a idéia de que qualquer um pode ser escritor. A isso Gustavo Flávio responde com um desafio: dá um tema aos presentes, que deverão desenvolvê-lo numa narrativa e apresentá-lo. O maestro, Roma e Suzy aceitam o desafio. O escritor escreve as primeiras linhas de Bufo & Spallanzani: é uma história de homens e sapos. A propósito, começa a perceber-se a ligação do romance com o titulo: Bufo marinus é a espécie de sapo encontrada por lvan Canabrava; Spallanzani foi um biólogo italiano do século XVIII que estudava a circulação sanguínea, a digestão e os animais microscópicos. A Experiência que o escritor deseja relatar em seu romance tem como personagens dois sapos, Bufo e Marina (qualquer semelhança será mera coincidência?), cobaias de Spallanzani. Ao mesmo tempo, os hóspedes do Refúgio separadamente mostram a Gustavo Flávio suas narrativas que, segundo o narrador, são autobiográficas. Constata-se que realmente escrever é muito difícil. Durante este episódio, acontece outro crime: Suzy é encontrada morta. Ao mesmo tempo, Minolta recebe um aviso sobrenatural e resolve procurar Gustavo Flávio no Refúgio. O detetive Guedes também vai ao encontro de Gustavo Flávio. 

O quarto episódio divide-se em três capítulos: neles começa a ser desvendado o assassinato de Delfina. Guedes descobre que o assassino confesso não matara a grã-fina e deixa-o em liberdade. O farsante fora pago por Eugênio Delamare, o marido traído, para que o caso fosse encerrado na policia. Guedes, em suas andanças pelo local do crime, encontra Dona Bernarda e seu cão Adolfo. Ela é a testemunha de que Guedes precisa para incriminar Gustavo Flávio. 

A última parte, intitulada A maldição, está reservada para o clímax e o desenlace. Ë dividida em oito capítulos. No primeiro capítulo, o narrador faz considerações sobre o gênero do romance em geral. Faz também reflexões sobre a dificuldade de concluir-se uma história. No segundo capitulo, o relato do Refúgio do Pico do- Gavião é retomado. Descobre-se que o assassino de Suzy é Euridice e que Carlos é a Maria da narrativa que Suzy contara tendo como mote o tema dado por Gustavo Flávio. Segundo Suzy, Maria era casada com José. Os dois fizeram um pacto de amor: quem traísse o companheiro seria morto pelo outro. Maria, então, por ter atentado contra a vida do marido, disfarçara-se em Carlos. Após solucionado o caso, as personagens retornam ao Rio de Janeiro. Guedes avisa a Gustavo Flávio que passará em sua casa. Na visita, Guedes comunica a Gustavo Flávio que o vigarista preso pelo crime da ricaça havia sido assassinado e que a vítima seguinte seria ele. Gustavo Flávio, então, arma-se e aguarda o marido enganado. Nesse interím, o escritor apaga de seu computador os dados do arquivo para o romance que tentara escrever. Eugênio Delamare consegue aprisioná-lo e corta suas bolsas escrotais. Durante a tortura, Guedes chega com policiais. Após o tiroteio, Guedes e Gustavo Flávio sobrevivem, os demais morrem. Finalmente, Gustavo Flávio conta a Minolta quem é o verdadeiro assassino de Delfina. Quando Delfina descobrira que tinha leucemia, decidira que não acabaria da maneira suja, dolorosa e humilhante que a morte escolhera para ela. Resolvera matar-se. Mas a coragem lhe faltava. Convencera, então, Gustavo Flávio a fazer isso por ela. Confessando pormenorizadamente o crime, tenso, ele termina a narrativa dirigindo-se a Minolta. 

Sobre:

É importante compreender o desdobramento da personagem protagonista para articular os episódios entre si. O fio narrativo, que corresponde ao fato transformador da vida de lvan, encontra-se na figura do sapo. Bufo, além disso, possui outro sentido: significa, segundo o dicionário do Aurélio, "ator ou personagem de comédia ou farsa encarregado de fazer rir o público com mímicas, esgares, etc". Desde o início da narrativa, o narrador se denomina glutão, sátiro e atacado por satiríase. Sátiro, convém lembrar, é, na mitologia pagã, um semideus lúbrico habitante das florestas, e que tinha chifres curtos e pés e pernas de bode; no sentido figurado significa homem devasso, luxurioso, libidinoso. Satiríase, por sua vez, é um termo da área médica, que significa excitação sexual masculina mórbida. Pode-se fazer, portanto, uma relação entre o impulso de escrever e o impulso ou excitação sexual. A narrativa parece jorrar, em sua complexidade como um jato em que as partes se articulam e apresentam o quadro fabular e suas personagens.

Antes do baile verde (Lygia Fagundes Telles)


Os objetos é o primeiro conto e narra o diálogo entre o marido e sua mulher sobre os objetos comprados, os seus valores e suas representações. Como o peso de papel que só tem função se está sobre papéis e um anjinho que só tem valor quando tocado, ganha vida. 

Verde lagarto amarelo fala sobre dois irmãos, o mais velho, Rodolfo, e o caçula, Eduardo. O mais novo sempre foi o preferido da mãe, e o mais velho vivia a serviço do querer dele por intervenção da mãe. O mais velho sempre mais calado e quieto cresceu e vivia sozinho; a única coisa que sentia ter era a escrita; ele era escritor. Já o mais novo era casado, animado. Foi numa visita que fez ao irmão que lhe declarou também ter escrito um romance, roubando assim a única coisa pertencente ao irmão mais velho.

Apenas um saxofone é a história de uma mulher velha e rica. Tinha um homem rico que a sustentava, um jovem que lhe satisfazia e um professor espiritual com quem dormia. Possuía jóias, tapetes e uma mansão, no entanto vivia infeliz. Vivia na saudade do seu grande amor, um saxofonista que se dedicara a ela completamente. Ela era a música dele. Ele tocava com paixão o saxofone e assim mantinha a mulher. Mas a relação se desgastou a ponto dele ir embora enojado. E assim ela vivia só com a lembrança. 

Helga fala de um jovem do sul do Brasil que vivia em férias na Alemanha, logo assumindo uma vida alemã. Em uma das férias passou pela guerra, não seria mais aceito no Brasil. Vivia ali de uma espécie de tráfico de alimentos. Foi lá que conheceu Helga, uma alemã por quem se apaixonou. Ela tinha uma cara perna ortopédica. Chegou a noivar, o pai dela propôs que iniciassem o tráfico de penicilina, mas faltava o investimento inicial. Foi assim que ele casado com Helga roubou-lhe a perna ortopédica e desapareceu voltando, tempos depois rico para o Brasil. 

O moço do saxofone narra a história de um chofer de caminhão que se instalou em uma pensão. Nela viviam inúmeros anões e uma mulher com seu marido que era saxofonista, um homem traído e conformado. Na pensão havia quartos separados. Quando a esposa estava com outro homem o marido tocava o saxofone de uma forma deprimente. Isso incomodava demais o chofer. Quando ele se encontrou com a mulher do saxofonista marcaram um encontro. Ela explicou qual era a porta; no entanto quando ele chegou foi ter com o saxofonista. Conformado como era indicou a direção e ao ser questionado o por que não fazia nada ele afirmou que tocava o saxofone. Com isso o chofer partiu da pensão. 

Antes do baile verde narra a preparação da jovem Tatisa para o carnaval. Com ajuda da sua empregada pregavam nos últimos minutos as lantejoulas na saia da moça. Nesse momento a empregada se inquietava, pois iria se atrasar para o encontro com seu homem e também discutiam o fato de que o pai de Tatisa vivia seus últimos minutos. Ainda antes de sair a menina duvidosa da proximidade da morte do pai desejava ir ao baile. Assim, as duas saíram à porta deixando o pai de Tatisa desfalecendo. 

A caçada fala de um homem que visitando uma loja de antiguidades encontra uma tapeçaria velha onde encontra alguma lembrança que não reconhece. Então torna-se preso à imagem e se sente como personagem da caçada que ela ilustrava. Passou a ir à loja com frequência para observar a peça e foi na frente dela que teve um ataque cardíaco. 

A chave fala de um casamento saturado onde Tom e sua mulher se arrumam para um jantar enquanto ele insatisfeito reclama e pensa na inutilidade desses jantares e no quanto gostaria de ficar ali dormindo.

Meia noite em ponto em Xangai narra a noite de uma cantora que alcança o momento de brilho de sua carreira em um concerto na China. Ela recebe em casa, depois do show, seu empresário e conversam sobre a carreira dela e sobre a desumanidade dos empregados dali. Porém, depois que o empresário se vai a cantora junta-se a seu cachorrinho e se aterroriza com a escuridão e com a suposta presença do empregado no aposento. 

A janela narra a conversa entre um homem e uma mulher. O homem chega ao quarto da mulher, se aproxima da janela dizendo que seu filho morrera ali e que na janela havia uma roseira que seu filho amava. A mulher o questiona mas ele pouco responde preso à lembrança do filho. A mulher então lhe oferece um refresco ao que ele aceita, mas quando ela retorna ao quarto vem acompanhada de médicos. Ele lhe pergunta o motivo e sem necessidade da camisa de força os médicos o levam embora. 

Um chá bem forte e três xícaras fala da espera de uma mulher enquanto observa uma nova borboleta em uma rosa por sua convidada ao chá, uma jovem de 18 anos que trabalha com seu marido. A empregada que está com ela pergunta se tal moça é a que telefona procurando o patrão e ela afirma que sim. Depois, limpando as lágrimas a mulher caminha até o portão para receber a jovem que vem chegando enquanto a empregada vai buscar o chá e três xícaras, caso o patrão venha também. 

O jardim selvagem fala sobre o chamado Tio Ed, casado com Daniela que era como um jardim selvagem. A princípio, em confidência com a sobrinha, a Tia Pombinha, irmã de Ed, desaprova o casamento dizendo que Daniela vive constantemente com uma luva em uma das mãos a qual ninguém vê. No entanto, depois de conhecê-la a acha um amor. Depois de um tempo a empregada da casa conta à sobrinha de Ed que viu Daniela matar o cachorro da casa com um tiro na cabeça; ela afirmou que só o poupou da dor que a doença lhe causava. Por isso, a empregada pediu até demissão. Dias depois chegou a notícia que Ed estava doente e mais tarde que ele se matou com um tiro na cabeça. 

Natal na barca narra o diálogo de uma senhora com uma mulher em uma barca que cruza o rio no dia de natal. A mulher trás no colo o filho doente a quem está levando ao médico. Durante a viagem ela conta a senhora de como perdeu o filho mais novo quando ele pulou do muro intencionando voar e como o marido a abandonou mandando uma carta depois. A senhora, sem saber o que dizer arruma a manta do bebê; então percebe que ele está morto. Nesse ponto a embarcação chega e ela se precipita para descer não querendo ver a dor da mulher. Porém, assim que descem o bebê acorda e a senhora vê a mãe e a criança partirem. 

A ceia trata da despedida de dois amantes em um restaurante. A mulher desesperada e apaixonada tristemente suplica para que o homem a visite, mas ele afirma que acabou. No entanto, diz que foi bom durante o tempo que durou e não quer romper como inimigos. Ela assume um ar sarcástico e o questiona sobre a noiva; depois lhe pede que vá embora, partindo sozinha. 

Venha ver o pôr-do-sol fala da história de um casal que depois de um tempo que já haviam rompido o relacionamento e devido às súplicas desse homem se reencontraram. Ricardo marca um encontro no cemitério. Raquel vai relutante e assim conversando ele a conduz até o jazigo que dizia ser de sua família. Ele a leva até lá a fim de mostrar no túmulo a fotografia da sua prima que tinha olhos parecidíssimos com os dela. Quando entra no jazigo Raquel vê que a data da morte da moça era muito antiga para ela ter sido prima de Ricardo mas a esse ponto ele já havia fechado o jazigo. Ele trancou a fechadura e depois foi embora com um olhar mortiço. 

Eu era mudo e só fala sobre um homem oprimido pelo casamento que o afastou dos amigos. A mulher, criada na perfeita educação das aparências também passa isso para a filha Gisela. Ele abandonara o jornalismo e se tornara sócio do sogro no ramo de máquinas agrícolas apenas para manter o padrão que Fernanda exigia. 

Pérolas fala sobre Tomás e Lavínia, que são casados. Ela se prepara para uma reunião. Ele sentado observa ela a se arrumar e já imagina o que acontecerá na reunião: Vê a mulher com Roberto na sacada próximos, sem palavras, mas sabendo que se amam. Ele fica incentivando-a a ir. Quando ela procura o colar de pérolas, para finalmente ir para a reunião, não o encontra. Ele o escondera para diminuir a realidade do que aconteceria na sacada, mas quando ela estava já saindo na calçada ele a grita dizendo ter achado o colar e o entrega à ela. 

Menino narra a ida do menino e sua mãe ao cinema. Enquanto caminham ele vai orgulhoso por causa da beleza da mãe. Então entram na sala e passam por muitos acentos com vaga para duas pessoas até que chegam ao acento com lugar para três. O filme começa e o menino reclama da enorme cabeça na sua frente. Ele tenta mudar de lugar, mas a mãe não deixa. Assim um homem chega e senta na cadeira vazia ao lado da mulher. Depois de alguns momentos o menino olha e vê a mãe de mãos dadas ao estranho que sentara ao lado e depois as mãos nos joelhos. Daí para frente a imagem da mão branca da mãe e da mão morena do homem deixa o menino perturbado. Pouco antes do fim do filme o homem vai embora. O menino e a mãe vão embora; ela alegremente! Chegando em casa o menino encontra o pai e então chora mas não diz o que aconteceu.

O Físico (Noah Gordon)


Resumo: 

O Físico, de Noah Gordon, descreve toda a trajetória de Rob Cole, um médico do século XI que fica órfão de pai e mãe na infância e para poder sobreviver torna-se aprendiz de um barbeiro cirurgião, charlatão antiético que viaja pela Inglaterra vendendo um elixir para ganhar seu sustento. 

Quando Rob toma conhecimento de Avicena, um grande médico, que é mestre em uma escola de medicina extraordinária na Pérsia, resolve ir para lá, começando assim, uma viagem que dura dois anos e atravessa toda a Europa, aventura esta muito bem descrita em detalhes, sobre os povos, seus hábitos e costumes de todos os lugares por onde passou. 

Quando finalmente chega à Pérsia, Rob tem que fingir ser um judeu, pois a escola não aceitava cristãos. Lá, fica conhecendo o famoso médico e sua esposa, por quem se apaixona. Uma aventura, às vezes turbulenta, às vezes sensual, às vezes divertida, mas sempre narrando a dedicação de um apaixonado pela arte de salvar vidas, com uma linguagem bastante acessível e envolvente. 

Resenha: 

Os elementos estão todos costurados com maestria: muito romance, sensualidade, aventura, fatos históricos, o cenário da Idade Média e das Cruzadas; além do fascínio ocidental pelos mistérios do oriente. Só a citação dessa lista já faria de O Físico um livro imperdível para quem aprecia ao menos alguns dos ingredientes descritos acima. Mas Noah Gordon, não satisfeito em reunir tantos ícones do imaginário literário em um único livro, ainda é um bom contador de histórias. Uma verdadeira encarnação masculina de Sherazadi. As quase 600 páginas do livro avançam quase que de um só fôlego e o leitor fica querendo mais. 

Para quem não conhece ou nunca teve coragem de ler com medo do tamanho do romance, já que a obra foi lançada em 1996 e está na 14ª edição no Brasil, O Físico conta a história de Rob Cole, um órfão inglês que, após a morte dos pais, termina como uma mistura de filho adotivo e empregado/assistente de um barbeiro cirurgião beberrão e com ares de saltimbanco na Europa do século XI, obscura, supersticiosa e com o braço repressor da igreja baixando – e mandando para o cadafalso – qualquer suspeito de bruxaria. Rob, que traz uma espécie de dom místico para curar e deseja vencer a morte e a doença que dizimaram sua família; depois de adulto, ouve falar do mítico Avicena e de uma fabulosa escola de medicina na Pérsia, para onde ele viaja, assumindo a identidade falsa de um estudante judeu… Daí para frente, vocês mesmos leem, senão perde a graça. 

A pretensão de Gordon não é contar em termos precisos e didáticos a história da origem da medicina, mas narrar a grande aventura que era ser médico numa época em que enquanto o Oriente era vanguardista e concentrava além de grande riqueza material, uma ainda maior intelectual; o Ocidente afundava em reinados sangrentos e corruptos e nos medos impostos por um cristianismo amargo e inquisidor que impedia acima de tudo o avanço da ciência que coloca a existência de Deus em xeque. A partir da saga do jovem Rob, o autor romanceia o que deve ter sido a realidade de muitos homens – e mulheres – de carne e osso naqueles tempos árduos. Havia um conflito profundo entre ciência e fé, como ainda hoje existe. E todos os lados da questão são abordados com grande propriedade e leveza pelo escritor. 

Usando figuras reais que se tornaram mito, como o próprio Avicena, Noah Gordon tenta desvestir-se de um possível olhar maniqueísta ocidental e europeu para traçar um panorama da riqueza cultural e social tanto do Islã, quanto do Cristianismo e do Judaísmo medieval e mostrar onde estariam as origens não só do eterno conflito entre cristãos, judeus e muçulmanos, mas das idiossincrasias daquelas que são consideradas as três maiores religiões da humanidade. 

Sem defender ou demonizar nenhum dos três credos e sem deixar de apontar as origens históricas para cada um dos bens – e dos males – que deles resultam, ele transfere para o olhar estrangeiro de Rob Cole a mistura típica de fascínio e repulsa que acomete qualquer pessoa que é tirada de uma cultura e um modo de pensar e confrontada com outra. 

No meio disso tudo e para não cansar o leitor, o autor tempera todas as questões filosóficas e dados históricos levantados pelo seu romance épico, com descrições generosas e perfeitas de cenários que vão do susto ao encanto, no compasso do trote dos cavalos e dos exóticos camelos. As cores e os cheiros do mundo conhecido naquela época e os temores pelo desconhecido impregnam quem se aventura junto com Rob pela sua jornada. 

Que a Idade Média é o tempo histórico mais presente no imaginário coletivo não é novidade, basta lembrar-se da quantidade enorme de romances e filmes que abordam diversos aspectos do período, desde o amor cortês de Romeu e Julieta, até as lendas da Távola Redonda, passando por toda a mítica de fadas, magos e atos heróicos de cavaleiros de armadura. 

Sem abrir mão de uma pitada sutil de sobrenatural (a espantosa capacidade de Rob Cole de curar ou prever a morte), e sem deixar também de citar cenas empolgantes de batalhas dos exímios cavaleiros árabes, Noah Gordon nos oferece outra perspectiva da Idade Média, aquela que debruça-se sobre o fervilhante caldeirão cultural e filosófico de um tempo em que os homens viviam a dúvida de obedecer a um Deus invisível e cheio de regras, preconceitos e preceitos (seja esse cristão, muçulmano ou judeu) ou obedecer a própria inclinação natural à curiosidade que leva à evolução.

Tanto para quem é fascinado por história, principalmente a medieval, quanto para quem é fã de carteirinha de um bom romance de aventura, O Físico é leitura mais que recomendada.