O Bom Crioulo (Adolfo Caminha)


O livro O Bom Crioulo, de Adolfo Caminha é cobrado pela UFPR e pela UFU. Narra a vida do ex-escravo Amaro, que acaba conhecendo um amigo, pelo qual sente um estranho amor. É uma das obras mais polêmicas da literatura brasileira, por conter temas fortíssimos como escravidão, racismo, traição e homossexualismo. 

Na calmaria do mar, os marinheiros se enfileiravam para ver o castigo que três deles receberiam devido a infrações dentro do navio. Entre eles estava Amaro, o bom crioulo. Era um negro forte, ex-escravo fugido que dava medo aos companheiros. Entrou na Marinha e se destacava, por muito tempo sonhou navegar e agora ali estava em uma embarcação. Recebeu como punição algumas chibatadas que aguentou com dureza. 

 Amaro estava sendo punido por brigar com outro companheiro, por causa de Aleixo. Aleixo era um rapazinho do sul, loiro, de olhos azuis; Amaro quando o viu se encantou e o fez protegido, mas sua estima ia além da amizade: começou a desejar Aleixo como um homem deseja uma mulher. No decorrer da viagem os dois criaram laços maiores de amizades. 

Com pouco tempo, a viagem acabou e os dois desembarcaram no Rio de Janeiro. Amaro planejava no navio que eles fossem juntos até a Rua da Misericórdia, onde Dona Caroline vivia em um sobradinho e alugava quartos. Ela era sua conhecida por uma vez ter-lhe salvado a vida. Alugaram um quarto colado ao sótão e ali viveram como dois amantes. Amaro tratava Aleixo como um escravo a satisfazê-lo, mas a afeição existia. Dona Caroline brincava que, juntos, acabariam tendo um filho. 

Amaro e Aleixo embarcavam e trabalhavam no mesmo navio e juntos voltavam a terra unindo-se em seu quartinho. E foi assim até que Amaro foi chamado a serviço em outra embarcação. Então eles combinaram o dia para que voltassem juntos e se encontrassem no sobradinho. Mas, neste navio Amaro só podia desembarcar uma vez por mês. A boa referência de seu trabalho garantida pela convivência satisfatória que levava na Rua da Misericórdia fazia-o mais requisitado. 

Um dia Aleixo, se sentindo sozinho na cama fumando, planejou, pela primeira vez, encontrar outro homem. Era bonitinho, poderia achar outro, já estava acostumado às relações com o mesmo sexo. Foi nesses tempos que Dona Caroline desejou possuí-lo. Inicialmente ele mostrava por ela um pudor, mas ela se insinuava. Convidou-o para ir ao quarto dela e foi ali que ele esteve com a primeira mulher de sua vida. Os dois passaram a viver um romance. Aleixo a desejava e a recíproca era verdadeira. 

Então Amaro apareceu e não encontrou Aleixo no quartinho. Amaro vasculhou o quarto em busca de traição e depois saiu à rua, pensando em se ajeitar com alguma mulher e abandonar Aleixo. Acabou se embebedando, tornou-se uma fera e consequentemente entrou em uma briga. Por fim, acabou sendo levado por um capitão à sua embarcação, passou a primeira noite preso e no dia seguinte recebeu o castigo. Foram cento e cinquenta chibatadas, as quais até levaram o negro ao hospital. 

Aleixo e Dona Caroline amavam-se. Ele queria esquecer a figura do negro por qual nunca sentira nada e de quem guardava até certo rancor. 

Amaro estava no hospital, sentia-se ali preso, o que lhe torturava devido a sua paixão pela liberdade. Com o passar dos dias, Aleixo, vivendo com Caroline, exigia-lhe fidelidade. E Amaro, inválido no hospital, morria de saudades, desejos, ciúmes e raiva de Aleixo. Conseguiu o negro que um bilhete fosse escrito a Aleixo, narrando-lhe onde estava, seu estado e pedindo uma visita. Como Aleixo não apareceu para visitá-lo, a raiva e o ciúme de Amaro aumentaram por Aleixo. Ele acreditava que o rapazinho arrumara outro homem e isso o fazia sofrer. 

Porém, só depois de um tempo foi que o bilhete chegou a Rua da Misericórdia e Caroline o rasgou, temendo o bom crioulo. Nesta noite ela trancou as portas. Quando Aleixo voltou e teve com a porta trancada encheu-se de desconfiança sobre uma traição. A má situação que se estabeleceu levou Caroline a contar o que a levara a trancar-se. Aleixo cogitou uma visita ao negro, mas Caroline afirmou que não: Amaro acabaria por esquecer-se do rapaz. 

Então em um dia de visita, Herculano, ex-companheiro de Amaro nas embarcações, apareceu em visita a um doente. Amaro teve com ele e disfarçado indagou sobre Aleixo. Recebeu de reposta que ele estava metido com oficiais e que saía e entrava quando queria; acreditavam até que ele tinha uma rapariga. 

Depois da partida de Herculano, Amaro planejou sua fuga. Mais que nunca queria ver Aleixo. Era uma raiva e também um desejo de possuí-lo, provocando-lhe dor. Escapou do hospital pulando a janela durante a noite. Chegou ao mar e esperou até que um homem passou em um barquinho. Tomou carona e chegou ao cais. Vagou pela cidade, até chegar ao sobradinho da Rua da Misericórdia, que aparentava estar abandonado. Foi à padaria praticamente em frente e indagou aos moradores. Descreveu Aleixo e Caroline. Então eles disseram que ainda viviam ali e havia boatos de que se arranjavam juntos e saíam a passeios à noite. Amaro descreveu-os novamente, não acreditando. E foi confirmada a mesma coisa. 

Em seguida Aleixo saiu à rua. E o negro foi ter-se com ele. Pegou o rapaz com fúria, chamava-lhe de safado e lhe culpava pelo estado em que se encontrava. Aleixo se acovardou. Amaro falava baixo, porém ameaçando. E logo o povo se aglomerou em volta. 

Então Dona Caroline saiu à janela e viu no meio da multidão um corpo frouxo e ensanguentado, o corpo do rapazinho, morto por Amaro. 

E a rua se enchia de gente, pelas janelas, pelas portas e pelas calçadas. Era uma curiosidade tumultuosa, um desejo irresistível de ver o morto. Ninguém se importava com “o outro”, o negro bom crioulo descendo à rua, triste e desolado na luz quente da manhã....