A partida (Coelho Neto)



Este é um romance que conta a história da fuga de Maria e José e o nascimento de Jesus.

José e Maria estavam prontos para a longa jornada, por vales e montanhas, em direção à terra farta de Belém, onde iam cumprir a lei de Augusto (foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se” (Lc 2.1).

Então José e Maria partiram para Belém - Casa do pão. “É ali que deve nascer o Anunciado” (pois Maria estava grávida de seu filho, Jesus). “Belém era a casa da abundância, celeiro do Senhor, Belém da fertilidade! De lá é que nos há de vir o Messias. O campo de Booz dará o trigo que há de fartar as almas”.

Maria e José saíram de Nazaré na Galiléia e partiram para Jerusalém, onde chegariam antes do pôr-do-sol: “Entraram em Jerusalém pela porta do mercado, à hora em que as buzinas romanas troavam nas torres”.

José procurava distrair Maria mostrando-lhe as grandes belezas dos lugares. A Virgem, porém, seguia calada, sem ânimo de levantar os olhos, com o coração cerrado em tristeza universal, pois a areia lhe escaldava os pés e o sol abrasava-lhe a cabeça.

“Quando passaram as muralhas, saindo do Campo do Oleiro, o sol brilhava nas pastagens úmidas e passarinhos cruzavam o vôo cantando na alegria do sol”. 

“Lá está Belém! Disse José estendendo o cajado na direção dos montes ainda enfaixados em névoa”. 

Porém Maria estava muito cansada com a viagem e só sentia vontade de se deitar e dormir um grande sono. 

Enfim, muito exaustos, eles encontraram uma manjedoura com um jumento e algumas ovelhas. Ali um pastor cuidava e vendo-os cansados, deixou que Maria passasse a noite ali na caverna enquanto José, o patriarca procurasse uma hospedagem. 

E Maria dormia serena sobre a palha.

Nesse momento nasce o filho de Deus, Jesus cristo. E logo após seu nascimento aparecera-lhe três virgens que ungiram o menino que acabara de nascer do ventre de Maria. E José e Maria ficaram se perguntando sobre essas virgens que desapareceram de repente como estrelas... seriam anjos? 

“À primeira sucção da boca da criança Maria estremeceu, sentindo uma dor aguda, como se um punhal lhe houvesse atravessado o seio: “O Divino alimentava-se do sofrimento humano e naquelas opalinas góticas de leite – sangue e água fundidos em candura – o céu comungava na terra”. 

De repente o menino rompeu num choro forte que repercutia no interior como se as pedras chorassem com ele, comovidas: 

“Começava a divindade a visitar o sofrimento; a peregrinação de Deus através da agonia anunciava-se pelo primeiro choro. Ele havia de conhecer todas as dores, todas as angústias para poder julgá-las aliviando o homem, cuja redenção trazia”. 

Maria dizia a José que sentia os anjos dizendo-lhe que o menino Jesus era Deus. E Maria já sentia todo o amor pela criança. Dizia ela: 

“O meu desejo era não ter na boca outras palavras senão estas: “Meu filho!” São as que o coração me inspira, são as que me agradam ouvir”.

Depois vieram alguns visitantes: os três magos vindos de terras remotas. E esses três homens encontraram o pastor daquela região. E eles perguntaram ao pastor se ele sabia se por ali havia nascido um menino, o Rei dos Judeus. E o pastor lhes disse que sim, que havia nascido um menino filho de pobres, mas que os céus festejaram o seu natal. E o pastor mostrou-lhes onde era a caverna onde estava o menino.

Então os três magos se ajoelharam diante da criança, e ficaram em silêncio em veneração religiosa. Depois disso, o primeiro mago ofereceu de presente uma mirra (planta que simboliza purificação através de sofrimento - "Jesus nos purifica do pecado através da sua morte na cruz"), o segundo deu um escrínio cheio de ouro (o rei dos metais - "Jesus é o Rei dos Reis", homenagem à realeza), e o terceiro deu ao menino um incenso (usado pelos sacerdotes para elevar as orações a Deus - "Jesus é aquele que nos leva a Deus").

O livro termina com Maria ficando deslumbrada, contemplando e adorando o pequeno filho. E diante disso Maria era o puríssimo altar sobre o qual se mostrava o divino perdão. 

Características: 

• O livro é narrado em terceira pessoa.
• O livro mostra muito as características físicas da natureza em suas mais belas formas, detalhando-as de forma harmoniosa com a eloquência de palavras descrevidas.
• Aos três Reis Magos devemos a tradição de dar presentes no Natal. 
• No ritual da antiguidade o ouro era o presente para um rei, o olíbano (incenso) para um religioso representando a espiritualidade e a mirra para um profeta (a mirra era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a imortalidade).
• Gaspar ofereceu mirra; Melchior ofereceu ouro; Baltasar ofereceu incenso e estes presentes confirmam o caráter de Jesus (rei, sacerdote e profeta) como símbolo do reconhecimento que aquela criança pobre que acabara de nascer haveria de se tornar um grande líder mundial e o salvador do mundo. 
• Melchior era rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia.

Tristão e Isolda

(Autoria desconhecida, recontada muitas vezes, inclusive por Joseph Bédier – Martins Fontes e pela brasileira Helena Gomes)


Tristão e Isolda é uma lenda medieval de origem céltica, que constitui uma das mais belas histórias de amor alguma vez concebidas. As primeiras versões escritas datam do século X. Os trovadores anglo-normandos de língua francesa e a rainha Leonor de Aquitânia contribuíram para a sua difusão na Europa. Tristão, filho de Rivalen, rei de Loonois, e Blanchefleur, irmã de Marc, rei da Cornualhas. Recebeu este nome, pois sua mãe encontrava-se em profunda tristeza pela morte de seu marido. Foi educado por Rohalt, e acreditava que este era seu pai. Aprendeu com Gorvenal todas as coisas que um cavaleiro deve saber. Quando jovem, foi raptado por mercadores irlandeses, que o deixaram nas Cornualhas, onde conheceu o rei Marc, sem saber que este era seu tio e vice-versa. Depois de muito procurar Tristão, Rohalt encontra-o, e conta-lhe que seu verdadeiro pai era Rivalen e sua mãe, Blanchefleur, irmã de Marc. Voltou então a sua terra, reconquistou-a, deixando-a para Rohalt; e volta para junto do rei Marc (que já sabia que ele era seu sobrinho), levando consigo apenas Gorvenal. Para salvar Marc de uma dívida, lutou com gigante Morholt da Irlanda. Ficou ferido mortalmente, e pediu ao rei que o colocasse sozinho em um barco com sua harpa, e que o deixasse morrer em mar aberto. Foi, então, encontrado no porto de Weisefort, terra de Morholt. Sem saber, Isolda, a Loura, curou-o de seus ferimentos. Ninguém o reconheceu, pois o ferimento deformou seu rosto, e antes que fosse reconhecido, foi embora, voltando para o rei Marc. O rei não queria casar-se, para poder deixar tudo para Tristão, mas quatro barões, que não gostavam de Tristão, exigiam o casamento do rei. Então, ao pegar um fio de cabelo louro, mandou que buscassem a dona dele, e esta seria a sua esposa. Tristão, lembrando-se de Isolda, foi buscá-la. Foi a Weisefort, com cem homens, aportando lá, souberam da existência de um dragão, e quem o matasse, receberia a mão da filha do rei, Isolda, a Loura. Tristão matou a dragão, mas ficou ferido pelo seu veneno, e novamente Isolda o curou. Só que desta vez ela soube quem ele era. Mesmo assim, o rei da Irlanda, com a palavra empenhada, entregou sua filha a Tristão. Isolda fica perturbada e surpresa ao saber que seu futuro marido seria o rei Marc, e não Tristão. No caminho às Cornualhas, Tristão e Isolda tomam uma poção que os faz ficar apaixonados (tal poção fora dada pela mãe de Isolda, aos cuidados de Brangien). E, era para ser tomada por Marc e Isolda na noite de núpcias, pois quem dela tomasse, amariam-se com todos os sentidos e pensamentos, para sempre, na vida e na morte. Isolda casa-se com o rei Marc, mas na noite de núpcias, Brangien toma seu lugar. Mas, os quatro barões invejosos desconfiam dos amantes, e contam ao rei, e mesmo sem nada flagrar, o rei manda Tristão embora. Este não consegue ir e hospeda-se perto do castelo, encontrando-se as escondidas com a rainha. Os barões percebem e contam ao rei o lugar e a hora do encontro. Marc vai até lá, mas os amantes percebem a sua presença, e com palavras sábias convencem o rei do contrário. O rei faz as pazes com Tristão e deixa que ele volte ao castelo. Mesmo assim, os barões insistem no fato, e dizem ao rei que este não vê porque não quer. Com a ajuda de Frocin,o anão vidente, flagram Tristão com a rainha em seu leito. Tristão, ainda assim, jura nunca ter amado a rainha com amor culpável, mas o rei não acredita, e manda matá-los, sem julgamento. Tristão, com a ajuda de Deus, consegue fugir e Isolda é entregue aos leprosos. Mas, Tristão consegue salvá-la e a leva para morar na floresta: eram fugitivos. Ficam na floresta durante muito tempo, até que um dia, um Monteiro os encontra e vai contar ao rei. Este vai até o local e encontra os dois deitados juntos, com uma espada nua separando seus corpos (isso significa garantia e guarda de castidade), o rei tem compaixão e não os mata, mas faz com que eles saibam que ele esteve ali e os viu. Ao acordarem, percebem que tinham sido descobertos, fogem, mas ficam intrigados com a atitude do rei, e chegam a conclusão que haviam sido perdoados. Resolvem então voltar, e Tristão entrega Isolda ao rei, e este a aceita, mas manda Tristão embora, a conselho dos barões. Antes de ir, Isolda pede de lembrança o cão Husdent de Tristão e lhe dá o anel de jaspe verde, presente de Marc, o qual deveria ser mostrado a ela, caso Tristão quisesse dar-lhe algum recado. Isolda, para provar sua inocência perante a corte, faz um teste que consistia em segurar um ferro em brasa e sair com as mãos ilesas, depois do juramento. Ela passa. Depois disto, Tristão ainda não conseguiu ir embora, e toda a noite ia até um pinheiro, perto da janela da rainha, e cantava como um rouxinol, até que ela viesse ao seu encontro. Mas os barões desconfiam e ele tem de ir embora. Vai para Gales com Gorvenal, para as terras de Gilain. Esta fazia tudo para agradá-lo, mas era em vão. Então Gilain mostrou-lhe um cão mágico, Petit-Crû, que trazia preso no pescoço um guizo mágico que espantava todas as tristezas. Tristão pensou em Isolda, e quis dar-lhe o cão de presente, e para conseguir isto matou o gigante Organ. Mandou Petit-Crû para a rainha e ela recebeu como se fosse presente de sua mãe. Realmente o cão alegrou-a, mas não achou justo somente Tristão sofrer, e jogou o guizo em alto mar. Tristão tentava fugir de sua dor correndo o mundo. E sem receber notícias de Isolda achou que ela o tinha esquecido. Chegou na Bretanha. Recuperou as terras do duque Höel, o qual tinha um filho, Kaherdin, e uma filha, Isolda, das Brancas Mãos, a qual o duque lhe deu a mão como recompensa. Num ímpeto, Tristão aceita, mas na noite de núpcias, ao ver o anel de jaspe verde, lembra-se da outra Isolda e não consuma o casamento. Kaherdin fica sabendo do fato e toma satisfações com ele, que conta toda a sua história. Isolda, a Loura, fica sabendo do casamento e chora. Kaherdin perdoa Tristão e vai com ele até as Cornualhas, para obterem notícias de Isolda. Lá chegando manda uma mensagem para a rainha, através de Dimas. Esta, ao ver o anel de jaspe verde, fala com Dimas, que lhe conta que mesmo casado, Tristão nunca lhe traíra. Marcam um encontro na estrada, nos espinheiros. Tristão ao ver a rainha, assobia como um pássaro, esta reconhece o canto, e marca um encontro no castelo de Saint-Lubin. Mas, eis que, um escudeiro, chamado Bleheri, vê Kaherdin e Gorvenal, e confunde Kaherdin com Tristão, por causa do escudo. Chamou-o, mas estes assustados, fogem. O escudeiro conta o fato a rainha, que irritada e ofendida, manda desmarcar o encontro. Tristão tenta justificar-se, mas Isolda não acredita. Ele, então vai atrás dela, disfarçado de mendigo, e pede sua clemência. Isolda o reconhece, mas mando os empregados enxotá-lo. Tristão volta para a Bretanha desolado, e a rainha se arrepende. Mesmo frente a atitude de Isolda, Tristão queria revê-la, e vai embora sem avisar ninguém. Veste-se miseravelmente e vai até o porto onde encontra uma nau que vai até Tintagel. Chegando lá, corta seu cabelo rente ao couro cabeludo, desenha nele uma cruz, lambuza seu rosto com uma erva mágica, e esta muda seu rosto. Pendura ainda uma clava no pescoço e dirige-se para o castelo de Marc. Chegando lá, ninguém o reconheceu, nem mesmo Isolda. Ele dizia ser Tristão, mas a rainha não acreditava, até que trouxeram Husdent, que foi o único a reconhecê-lo. O louco via a rainha todos os dias, ficava em seu quarto, até que começaram a desconfiar e ele teve de ir embora. Voltou para a Bretanha, onde teve que guerrear, e caindo numa emboscada, viu-se ferido por uma lança envenenada. Ninguém conseguiu curá-lo. E sentindo que iria morrer, quis ver Isolda mais uma vez. Pediu a Kaherdin que fosse buscá-la, e Isolda, das Brancas Mãos escutou, e enfureceu-se e pensou em vingança. Kaherdin foi, levando o anel. Tristão pediu-lhe ainda que levasse duas bandeiras, uma preta e outra branca, e que na sua volta içasse a branca , se Isolda viesse, e a preta caso contrário. Ao ver o anel, Isolda, a Loura, fugiu com Kaherdin. Tristão definhava. Isolda demorou-se por causa de várias tempestades, mas finalmente estavam chegando com a vela branca içada. Isolda das Brancas Mãos disse a Tristão que Kaherdin estava chegando, e este perguntou qual a cor da bandeira asteada, e ela, maldosamente, respondeu que era preta. Depois de ouvir isto Tristão morre. Ao chegar, Isolda fica sabendo do ocorrido e vai até ele, deita-se junto a ele, beija-o na boca e no rosto, abraça-o forte e morre. Quando o rei Marc sabe da morte dos dois, vai até a Bretanha buscar seus corpos. Sepulta-os separados por uma capela. Mas durante a noite, da tumba de Tristão brota um espinheiro verde, com flores perfumadas e elevou-se por cima da capela até o túmulo de Isolda, três vezes o cortaram, três vezes ele voltou. E, sendo assim, resolveram deixá-los em paz. Diz a lenda que das sepulturas nasceram duas árvores que cresceram entrelaçadas para que nunca fossem separadas.

O Alienista (Machado Assis)


O Doutor Simão Bacamarte, cientista de nomeada, monta, em Itaguaí, um hospício, a Casa Verde,  Casa Verde, assim chamada pela cor de suas janelas, onde pretende executar seus projetos científicos. Pretende separar o reino da loucura do reino do perfeito juízo, mas a confusão em que ambas se misturam acaba aborrecendo o Doutor, que, para levar a efeito a seleção dos loucos, tem que saber o que é a normalidade. Assim, qualquer desvio do que era o comportamento médio, a aparência pública, qualquer movimento interior, que diferisse da norma da maioria era objeto de internação. O hospício é a Casa do Poder, e Machado de Assis sabia disso muito antes da antipsiquiatria de Lacan e das teses de Foucould. No início, o projeto do Dr. Simão Bacamarte é bem recebido pela população de Itaguaí, mas a aprovação cessa quando o médico passa a recolher na Casa Verde, pessoas em cuja loucura a população não acredita. O barbeiro Porfírio lidera uma rebelião contra o hospício que é sufocada. Numa primeira etapa, são internados os que, embora manifestassem hábitos ou atitudes discutíveis, eram tolerados pela sociedade: os politicamente volúveis, os sem opiniões próprias, os mentirosos, os falastrões, os poetas que viviam escrevendo versos empolados, os vaidosos, etc. Para pasmo geral dos habitantes de ltaguaí, Simão Bacamarte, um dia, solta todos os recolhidos no hospício e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos agora são os leais, os justos, os honestos etc. A terapêutica para esses casos de loucura consistia em fazer desaparecer de seus pacientes as "virtudes", o que o Dr. Simão Bacamarte consegue com certa facilidade. Declara curados todos os loucos, solta-os todos e, reconhecendo-se como o único louco irremediável, o médico tranca-se na Casa Verde, onde morre alguns meses depois.

Características:
  • Simão Bacamarte, o grande médico, escolheu Itaguaí para seu universo, preterindo os grandes centros do saber europeu. Radicando-se na terra natal, ele se casa com uma viúva de limitados dotes físicos, em quem o médico vira os atributos de saúde necessários para lhe dar uma prole saudável... Dona Evarista frustra as previsões e não lhe dá filhos...
  • Alguns nomes no livro: amigo e confidente como Crispim Soares. Outros personagens como o Padre Lopes, Costa, Mateus, Martim Brito, o barbeiro Porfírio, Simão Bacamarte, João de Pina.

A Escrava Isaura (Bernardo Guimarães)


No Brasil, quando ainda existia a escravidão, vivia na fazenda do senhor comendador Almeida uma bela escrava por quem ele se apaixonou, no entanto, a escrava não lhe correspondia e como castigo ela foi entregue nas mãos do feitor, Miguel. Mas ele era um homem bom e tratava a escrava da melhor forma possível, juntos, eles tiveram uma filha. 

O nome da menina era Isaura. O comendador, pai de Leôncio, demitiu Miguel e facilitou a morte da mãe da escravinha. A menina foi levada para a casa grande onde recebeu educação e foi criada como a filha que a esposa do comendador não teve. Isaura cresceu e se tornou uma moça bela e educada. Era vontade da Senhora da casa dar-lhe a liberdade, mas só faria isso em seu leito de morte, pois, assim, só a perderia depois de morta.

Porém, ela morreu antes, e a vida de Isaura foi entregue a Leôncio. Este era um jovem de má índole que, quando mais novo, saltara de faculdade em faculdade até chegar à Europa onde viveu longe dos estudos. Retornou ao Brasil depois de ter gastado parte da fortuna, direcionou-se ao comércio acreditando possuir um grande talento para a área. Por fim, acabou casando-se com Malvina por interesse.

Como a mãe de Leôncio morreu subitamente sem exigir a libertação de Isaura e o comendador se mudou para a corte, Isaura vivia a serviço de Malvina. Leôncio, em constante contato com a escrava, acabou apaixonando-se. Declarava-se à Isaura, que se mantinha indiferente e se negava a qualquer envolvimento. Ele prometia fazê-la rainha, mas quando rejeitado, ameaçava-a. Leôncio acreditava que a teria de qualquer modo, afinal, ela era propriedade dele. Ele conversava com seu cunhado, Henrique, que o visitava para tratar sobre seus interesses, mas Henrique, moralista e educado, não se empolgava como ouvinte. 

Em uma manhã em que Malvina foi novamente pedir pela liberdade de Isaura, Henrique se declarou à escrava, mas também acabou rejeitado. Porém, Leôncio estava à porta e viu o que tinha acontecido. Assim, Henrique saiu declarando que contaria para irmã os desejos do marido. 

Nessas circunstâncias, Isaura foi para o jardim onde recebeu uma nova declaração por parte de Belchior, o jardineiro asqueroso. Depois de recusá-lo, Isaura teve que novamente receber de Leôncio palavras de amor, no entanto, dessa vez, Henrique e Malvina estavam na janela e ouviram tudo. 

Malvina declarou que Leôncio teria que escolher entre ela e a escrava, ou seja, para ela continuar ali, Leôncio teria que vender ou dar a liberdade à Isaura. Exatamente após essa declaração, Miguel, pai de Isaura, chegou. Vinha para comprar a filha pelos dez contos de réis que o comendador havia exigido no prazo de um ano. Leôncio arranjou como desculpa que a escrava não o pertencia, visto que seu pai ainda era vivo e, assim, ele teria que escrever ao pai antes. 

Nesse momento, uma carta anunciando a morte do comendador chegou e logo as esperanças de Isaura findaram-se. A casa ficou em luto. Passados alguns dias, Malvina partiu, pois Leôncio não tomara providência nenhuma em relação à Isaura, apenas a mandou para a senzala. Em virtude da rejeição de Isaura, Leôncio preparava-lhe castigos físicos. 

Frente a essa situação, Miguel, em visita secreta à filha e aproveitando a falta de vigilância sobre ela, levou-a embora. Foram para Pernambuco, ela era tratada como Eusira. Escondiam-se de todo da sociedade, até que Álvaro apareceu e apaixonou-se instantaneamente por Isaura. Ela, em primeira instância, fugia do jardim quando ele passava na porta, mas como o sentimento era recíproco, acabaram por se tornarem amigos. Depois de muita insistência dele e afirmando que já lançavam suspeitas é que Isaura e Miguel aceitaram ir a um baile que ele oferecia. 

Nessa apresentação pública, Isaura deixava todas as demais moças desalentadas e os rapazes encantados, no entanto, sofria por enganar Álvaro e se passar por quem não era. 

Leôncio havia acionado toda ajuda na procura de Isaura e espalhara cartazes com a descrição dela oferecendo recompensa. Foi por um desses cartazes que Martinho reconheceu Isaura na noite do baile, declarando em público que ela era uma escrava, a pobre, envergonhada, confessou suas origens. 

O baile acabou e todos foram embora. Álvaro inicialmente não acreditou, mas depois reconheceu ainda amar Isaura e se colocou como protetor dela. Martinho, no entanto, recebera uma carta de permissão mandada por Leôncio para prendê-la e levá-la de volta para as posses dele. Porém, quando foi cumprir com a ação, Álvaro lhe ofereceu o dobro da quantia que ganharia para prender Isaura. Assim, Martinho voltou à polícia e declarou que a moça não era a escrava fugida. 

No entanto, no mesmo dia, Leôncio chegou à casa de Isaura e mesmo com o esforço de Álvaro, ela foi levada presa. 

Na fazenda, Malvina retornara para casa, Leôncio inventara mentiras acerca de Isaura. Ela, ingênua, voltou para casa, satisfazendo ao marido, que só a buscara de volta porque estava com dívidas e ter de volta a esposa era ter de volta o dinheiro do sogro. Isaura estava presa em um quarto escuro e ainda se negava a qualquer envolvimento com o senhor. 

Leôncio então planejou uma nova vingança, daria a ela liberdade com a condicional de se casar com Belchior. Ele também forjou uma carta de Álvaro em que ele se gabava do seu casamento e de como queria Isaura para mucama de sua esposa. Foi assim que Isaura sem motivo algum para acreditar em um futuro aceitou o casamento. 

No dia do casamento, quando esperavam pelo padre e pelo escrivão, Álvaro chegou. Recebeu a notícia do casamento de Isaura, porém afirmou que tal coisa não era possível, já que ele havia se tornado o credor das dívidas de Leôncio, sendo assim dono de seus bens e que agora toda a riqueza do rival pertencia a ele, inclusive Isaura. 

Afirmou ainda que não deixaria Leôncio e Malvina na miséria, mas, frente a isso, Leôncio afirmou que não permitiria a Álvaro o prazer de o ver suplicar caridade e assim se matou com um tiro na cabeça.


O Cabeleira (Franklin Távora)


Cabeleira é o apelido de José de Gomes, um dos primeiros cangaceiros de Pernambuco. José era naturalmente bom, mas foi ensinado pelo pai, Joaquim Gomes, a ser cruel. Junto com o pai e Teodósio, o traiçoeiro amigo, assim como vários outros comparsas, Cabeleira aterroriza a província de Pernambuco em 1776 (exatos 100 anos antes da publicação do romance). Mas quando ele reencontra Luísa (que conhecia desde a infância) foge com ela e começa a se reformar, apesar de instintivamente ainda tentar se defender violentamente. Luísa acaba morrendo logo após a fuga, pois estava ferida, e Cabeleira é preso, fraco, faminto e desarmado, num canavial. José Gomes é executado (enforcado) junto com seus antigos comparsas apesar dos apelos da mãe de que a ele servia melhor a penitenciária pois estava reformado. O romance acaba com o autor atacando a pena de morte:

“Se a sociedade não tem em caso nenhum o direito de aplicar a pena de morte a ninguém, muito menos tem o de aplicá‑la aos réus ignorantes e pobres, isto é, aqueles que cometem o delito sem pleno conhecimento do mal, e obrigados muitas vezes da necessidade. O Cabeleira pode acaso comparar‑se em culpabilidade a Lapomerais, médico ilustrado, ou a esse negociante alemão ou americano, Tomás ou Thompson, que, com intuito de enriquecer do dia para a noite, ocasionou com a perda do paquete Moselle a morte de oitenta, e os ferimentos de cem passageiros" ?

“Condena‑se à forca o escravo que mata o senhor, sem se atender a que, rebaixado pela condição servil, paciente do açoite diário, coberto de andrajos, quase sempre faminto, sobrecarregado com trabalhos excessivos, semelhante criatura é mais própria para o cego instrumento do desespero, do que competente para o exercício da razão. Ainda em 28 de abril do corrente ano, em uma cidade da província das Alagoas um destes infelizes padeceu o suplício capital. Por honra da civilização, um dos primeiros órgãos da imprensa do Norte, o Diário de Pernambuco lavrou contra essa cobardia jurídica o seguinte protesto: «Registramos este acontecimento com a mágoa que sói causar àqueles que amam a pátria e a humanidade a continuação entre nós da bárbara pena de morte, que, infamando, nem ao menos corrige".

A obra inicial da "literatura do Norte" que o autor pretendia fazer, O Cabeleira começa o Regionalismo na nossa literatura e apresenta marcantes qualidades tanto do Romantismo quanto do Naturalismo. Cabeleira é um homem naturalmente bom (como acreditavam os românticos) que é corrompido pelo pai e pelo meio (característica dos naturalistas), age várias vezes por instinto (Naturalismo), mas reforma-se pelo todo-poderoso amor (Romantismo). As mulheres são todas boas (Romantismo), os homens reúnem defeitos e qualidades (Naturalismo) e o protagonista vive perseguido pelo conflito interno. (Uma tendência mais realista esta última; os realistas tinham preocupações sociais como o anteriormente referido ataque a pena de morte.)

O Cortiço (Aluízio Azevedo)


Alguns personagens mais importantes:

  • João Romão: português branco e ambicioso, dono da estalagem.
  • Bertoleza: escrava preta que amasiou-se com o João Romão.
  • Miranda,  Dona Estela e sua filha Zulmira: vieram morar próximo à João. Miranda é de classe mais elevada  e ele recebeu do governo português o título de Barão do Freixal. Sua mulher, Dona Estela o traía. Também havia nessa família o velho Botelho (ex-empregado) que chegou a flagrar Dona Estela se “escovando” com Henrique, acadêmico de medicina que viera do interior para acabar seus estudos.
  • Jerônimo, sua mulher Piedade e sua filha de 9 anos crismada por todos de “Senhorinha”. Jerônimo era um português alto, entre trinta e cinco e  quarenta anos e viera trabalhar para João na pedreira.
  • Rita baiana: mulata dançarina provocante, tinha caso com o Firmo e mais adiante passou a viver com o Jerônimo que se apaixonou por ela, deixando sua mulher e filha para ir viver com Rita.
  • Bruno e sua mulher Leocádia. Sua mulher o traía e chegou a se encontrar com Henrique, sendo pêgos por Bruno que despejou Leocádia para fora de casa.
  • Marciana era mãe de Florinda. A garota engravidou de Domingos (caixeiro da venda de João), o mesmo foi obrigado a se casar ou a fornecer dotes. Mais adiante Florinda ficara envolvida por um despachante.
  • Léonie era muito amiga de Pombinha. Léonie era  prostituta e lésbica e chegara a dar uns beijos e afagos em Pombinha que a deixara traumatizada. Dona Isabel, era mãe de Pombinha, (que escrevia cartas para o pessoal). Pombinha iria se casar mesmo incerta disso; acabou se casando com o Costa. Mais tarde Pombinha juntara-se à Léonie e atirara-se ao mundo. De tanto desgosto, D. Isabel (mãe de Pombinha) morrera em uma casa de saúde.
  • Pataca e Zé Carlos (juntamente com o Jerônimo): espancadores do Firmo que o levou a morte.
  • Firmo: malandro valentão
  • A Machona Augusta: lavadeira gritalhona

João Romão, português, branco e ambicioso, juntando dinheiro a poder de penosos sacrifícios, compra um pequeno estabelecimento comercial no subúrbio da cidade (Rio de Janeiro). Ao lado morava uma preta, escrava fugida, trabalhadeira, que possuía uma quitanda e umas economias. Os dois amasiaram-se, passando a escrava a trabalhar como burro de carga para João Romão. Com o dinheiro de Bertoloza (assim se chamava a ex-escrava), o português compra algumas braças de terra e alarga sua propriedade. Para agradar a Bertoleza, forja uma falsa carta de alforria.
Com o decorrer do tempo, João Romão compra mais terras e nelas constrói três casinhas que imediatamente aluga. O negócio dá certo e novos cubículos se vão amontoando na propriedade do português. A procura de habitação é enorme, e João Romão, ganancioso, acaba construindo um vasto e movimentado cortiço. Ao lado vem morar outro português, mas de classe elevada, com certos ares de pessoa importante, o Senhor Miranda, cuja mulher leva uma vida irregular.
Miranda não se dá com João Romão, nem vê com bons olhos o cortiço perto de sua casa. No cortiço moram os mais variados tipos: brancos, pretos, mulatos, lavadeiras, malandros, assassinos, vadios, benzedeiras etc. Entre outros: a machona, lavadeira gritalhona, "cujos filhos não se pareciam uns com os outros", Alexandre, mulato pernóstico; Pombinha, moça franzina que se desencaminha por influência das más companhias; Rita Baiana, mulata faceira que andava amigada na ocasião com Firmo, malandro valentão; Jerônimo e sua mulher, e outros mais.
João Romão tem agora uma pedreira que lhe dá muito dinheiro. No cortiço há festas com certa freqüência, destacando-se nelas Rita Baiana como dançarina provocante e sensual, o que faz Jerônimo perder a cabeça.
Na casa de Miranda era uma festa só! Ele havia sido agraciado com o título de Barão do Freixal pelo governo português. João indagava-se, por não ter desfrutado os prazeres da vida, ficando só a economizar. Diante de tal injúria, com muito mau humor implicava com tudo e todos do cortiço. Fez despejar na rua todos os pertences de Marciana. Acusou-a de vagabunda, acabando ela na cadeia.
A festa do Miranda esquentava e João recebeu convite para ir lá, o que o deixou ainda mais injuriado. O forró no cortiço começou, porém uma briga feia se travou entre Jerônimo e Firmo. Barricada impedia a polícia de entrar, o incêndio no número 12 fez subir grande desespero, era um corre-corre, polícia, acidentados (Jerônimo levou uma navalhada) e para finalizar caiu uma baita chuva. João foi chamado a depor, muitos do cortiço o seguiram até a delegacia, como em mutirão. Rita incansavelmente cuidava do enfermo Jerônimo dia e noite.
Naquela mesma rua, outro cortiço se forma. Os moradores do cortiço de João Romão chamam-no de "Cabeça-de-gato"; como revide, recebem o apelido de "Carapicus". Firmo passou a morar no "Cabeça-de-gato", onde se torna chefe dos malandros. Jerônimo, que havia sido internado em um hospital após a briga com Firmo, arma uma emboscada traiçoeira para o malandro e o espanca a pauladas, lançando o seu corpo ao mar e fugindo em seguida com Rita Baiana, abandonando a mulher.
A morte de Firmo já rolava solta no cortiço. Rita estava com Jerônimo. Ele, sonhando começar uma vida nova, escreve logo ao vendeiro despedindo-se do emprego, e à mulher contando-lhe do acontecido e prometendo-lhe somente pagar o colégio da garota. Piedade e Rita se atracaram no momento em que a mulata saía de mudança, o cortiço todo e mais pessoas que surgiram, entraram na briga. Foi um tremendo alvoroço, acabara sendo uma disputa nacional (Portugueses x Brasileiros).
Nem a polícia teve coragem de entrar sem reforço. Querendo vingar a morte de Firmo, os moradores do "Cabeça-de-gato" travam séria briga com os "Carapicus". Travou-se a guerra, a luta dos capoeiristas rivais aumentava progressivamente quando o incêndio no número 88 desatou, ensangüentando o ar. A causa foi a mesma anterior. Por um desejo maquiavélico, uma velha considerada bruxa incendiou sua casa, onde morreu queimada e soterrada, rindo ébria de satisfação. Com todo alvoroço, surgia água de todos os lados e só se pôs fim na situação quando os bombeiros, vistos como heróis, chegaram. O velho Libório (mendigo hospedado num canto do cortiço) ia fugindo em meio a confusão, mas João o seguiu. Morrera também naquele incêndio além da bruxa, o Libório e a filhinha da Augusta além de muitos feridos. Para João o incêndio era visto como lucro, pois o cortiço estava no seguro, fazendo ele planos de expansão baseado no dinheiro do velho mendigo. Por conseqüências do incêndio Bruno foi parar no hospital, onde Leocádia foi visitá-lo ocorrendo assim a reconciliação de ambos, que estavam separados. As reformas expandiram-se até o armazém e as mudanças no estilo de João também alcançavam um nível social cada vez mais alto.
O cortiço não parecia mais o mesmo, agora calçado, iluminado e arrumado todo por igual. O sobrado do vendeiro também não ficara para trás nas reformas. Quem se destacou foi Albino (lavadeiro homossexual) com a arrumação de sua casa. A vida transcorria, novos moradores chegavam. Já não se lia sob a luz vermelha na porta do cortiço "Estalagem de São Romão", mas sim "Avenida São Romão". Já não se fazia o "Choradinho" e a "Cana-verde", a moda agora era o forrobodó em casa, e justo num desses em casa de das Dores, Piedade que passara a beber enchera a cara e Pataca é que lhe fazia companhia e querendo agarrá-la depois de ouvir seus lamentos, nada se sucedeu pois a caninha surtiu efeito (vômito)...
João Romão, agora endinheirado, reconstrói o cortiço, dando-lhe nova feição e pretende realizar um objetivo que há tempos vinha alimentando: casar-se com uma mulher "de fina educação", legitimamente. Lança os olhos em Zulmira, filha do Miranda. Botelho, um velho parasita que reside com a família do Miranda e de grande influência junto deste, aplaina o caminho para João Romão, mediante o pagamento de vinte contos de réis. E em breve os dois patrícios, por interesse, se tornam amigos e o casamento é coisa certa. Só há uma dificuldade: Bertoleza.
João Romão fica imaginando em como livrar-se dela: manda um aviso aos antigos proprietários da escrava, denunciando-lhe o paradeiro. Pouco tempo depois, surge a polícia na casa de João Romão para levar Bertoleza aos seus antigos senhores. A escrava compreende o destino que lhe estava reservado, suicida-se, cortando o ventre com a mesma faca com que estava limpando o peixe para a refeição de João Romão. Naquele mesmo instante João Romão recebera um diploma de sócio benemérito da comissão abolicionista.                                                                                                  
                                                                                                                                                 Fim



A Obra


(Apresentação de Francisco Achcar na edição paradidática do Colégio Objetivo, 1996)

O cortiço foi publicado em 1890, em meio à atividade febril de produção literária a que Aluísio de Azevedo se viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do público leitor, um gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente romântica, estilisticamente descuidada. Mas O cortiço tem situação inteiramente à parte nessa produção numerosa e quase toda sem importância, pois neste livro Aluísio põe em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda sua capacidade artística.

O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: aparecem, diluídas no livro, noções de determinismo e de evolucionismo.

Na elaboração de O cortiço, Aluísio de Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas no Rio; interrogou lavadeiras, capoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente. Segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe, que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em torno de um problema social que se tornava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.

Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (como vimos, Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, alegrando-se, deprimindo-se ou irando-se – e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir uma individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira.



O seminarista (Bernardo Guimarães)


Capitão Antunes e sua mulher, fazendeiros em Minas, obrigam a ser padre o filho Eugênio, que tem um amor de infância, Margarida, filha de uma empregada. A certa altura, o rapaz tenta abandonar a carreira imposta. Os pais não consentem e de comum acordo com os sacerdotes do seminário inventam a notícia do casamento de Margarida. Eugênio então se ordena.
No dia que chega à vila natal, é chamado para atender a uma doente, que não é outra senão Margarida, que fora expulsa da fazenda com a mãe que acaba por lhe contar a verdade. O temperamento ardente da moça arrasta Eugênio ao "pecado”; ela morre e ele endoidece ao ver o cadáver na Igreja em que ia rezar a primeira missa.
O Seminarista narra o drama de Eugênio e Margarida que, na infância passada no sertão mineiro, estabelecem uma amizade que logo vira paixão. O pai de Eugênio, indiferente aos sentimentos do filho, obriga-o a ir para um seminário. Dilacerado entre o amor e a religiosidade, Eugênio segue para o mosteiro.
Embora todo o sofrimento da perda amorosa, o jovem dedica-se à vida espiritual (mesmo sempre triste) e acaba ordenando-se sacerdote. Volta então à aldeia natal para rezar a sua primeira missa. Lá encontra a sua antiga paixão, Margarida, que está à beira da morte. Os dois não resistem ao impulso afetivo e mantêm relações. Em seguida, a heroína morre. Eugênio, ao iniciar a missa, descobre um corpo que chega à igreja e que aquele era de Margarida e assim enlouquece de dor afetiva e moral. Joga sua roupa de padre no chão e sai correndo pela porta principal da igreja, desesperado, sem controle. Estava louco de raiva.
Apesar de sua dimensão melodramática, o romance apresenta uma das mais veementes críticas ao patriarcalismo, em toda a literatura do século XIX.




Cem Anos de Solidão (Gabriel García Márquez)

O livro conta a história de Macondo, uma cidade mítica, e a dos descendentes de seu fundador, José Arádio Buendía, durante um século. Usando recursos do realismo mágico, estilo que ajudaria a difundir a partir de seu lançamento, em 1967, o livro mescla revoluções e fantasmas, incesto, corrupção e loucura, tudo tratado com naturalidade. A história começa quando as coisas não tinham nome e vai até a chegada do telefone. Um comboio carregado de cadáveres. Uma população inteira que perde a memória. Mulheres que se trancam por décadas numa casa escura. Homens que arrastam atrás de si um cortejo de borboletas amarelas. São esses alguns dos elementos que compõem o exuberante universo deste romance, no qual se narra a mítica história da cidade de Macondo e de seus inesquecíveis habitantes. Lançado em 1967, Cem Anos de Solidão é tido, por consenso, como uma das obras-primas da literatura latino-americana moderna. O livro logo tornou o colombiano Gabriel García Márquez (1928) uma celebridade mundial; quinze anos depois, em 1982, ele receberia o Prêmio Nobel de Literatura. Aqui o leitor acompanhará as vicissitudes da numerosa descendência da família Buendía ao longo de várias gerações. Todos em luta contra uma realidade truculenta, excessiva, sempre à beira da destruição total. Todos com as paixões à flor da pele. E o "realismo mágico" de García Márquez não dilui a matéria de que trata no caso, a história brutal e às vezes inacreditável dos países latino-americanos. Pelo contrário: só a torna mais viva. Trata-se de um livro que exige grande concentração para a leitura, é uma obra de referência que exige alguma sagacidade. Mas para que possa abrir-lhe o apetite para a leitura do livro digo-lhe isto: de início, é extremamente difícil entrar no mundo irreal de Macondo. Uma pequena vila no meio do nada, cuja existência passa despercebida através do tempo, Macondo encontra-se rodeada por uma bruma de mistério e superstição. Macondo nada tem a ver com o mundo real, não apenas por este ser muito distante, mas também pelo fato de a própria vila se encontrar longe de tudo. A vila e os seus habitantes pararam em um tempo longínquo, e que a existência destes se desenrola envolvida por uma aura mágica livre do peso do evoluir da ciência e da própria vida em geral. Contudo, todos nós conhecemos a força inabalável do progresso... O único contato que Macondo viria a ter com o mundo real seria através de um grupo de ciganos comerciantes, habituados a percorrer o mundo, que certo dia ao atentarem no seu regresso, acidentalmente descobriram Macondo. A partir desta data, todos os anos estes mesmos ciganos se deslocavam até Macondo, onde eram ansiosamente esperados. De todas as vezes que tal acontecia, estes comerciantes surpreendiam os habitantes da vila com as inacreditáveis invenções do mundo moderno causando pânico, especulação, dúvida e admiração entre estes. Será neste recôndito pedaço de terra no meio do vazio, que iremos encontrar uma família peculiar, cujo historial será um dos mais enigmáticos de sempre: a família Buendía, cujas gerações se apresentam irremediavelmente condenadas a cem anos de solidão. Cada membro desta família teria confinado na sua pessoa algum dom ou espécie de poder algo estranho, que os acompanharia ao longo das suas vidas, sendo estas um emaranhado de caminhos tortuosos, onde por diversas ocasiões a solidão se sobreporia à felicidade. Uma de entre muitas particularidades da família Buendía, parece residir no fato de os netos herdarem os nomes dos respectivos avôs ou avós, tornando extremamente difícil, com o decorrer dos anos, identificar as várias “personagens” que vão surgindo. Esta é a história de uma família onde o percurso de cada um dos seus membros é retratado, e onde estes se cruzam deixando marcas indeléveis no percurso de outros, uma família na qual cada geração possui uma forte ligação com aquela que a antecedeu e assim sucessivamente. Todos os Buendía nos soam imortais numa forma através da qual todo o conhecimento e sabedoria de um é passado a outro e a outro, de tal modo que conseguimos reunir num só Buendía, pedaços de “essência” da qual é feita cada um dos outros, os quais o destino tratou de conciliar para todo o sempre. Apenas numa família como esta poderiam sobrinho e tia apaixonar-se irremediavelmente um pelo outro, ou um só homem possuir mais de cem filhos, todos eles apresentando uma marca distinta, o sinal de uma cruz nas suas testas, que um dia viria a ser a morte de quase todos eles, e a felicidade de um só. A história dos Buendía desenrola-se ao longo de inúmeras páginas deliciosas, às quais ninguém ficará decerto indiferente. No final, somente um daquela estirpe existe, Aureliano Babilonia, aquele que lê a história da sua família, escrita cem anos antes, muito antes até da sua própria morte, a qual ele lê. Ao mesmo tempo que Aureliano toma conhecimento da história da sua família, vai morrendo, incapaz de resistir ao sufocante peso de tantas vidas passadas, na sua alma. Ele morre, sabendo que as gerações condenadas a cem anos de solidão, jamais terão outra oportunidade na terra, pois na altura em que Aureliano acaba as últimas páginas, tudo o que alguma vez proporcionou a existência a Macondo seria apagado da memória dos Homens. Neste finalizar da história, os episódios que se materializaram ao longo das várias gerações fundem-se num único, difícil de olvidar. Trata-se da altura em que o pai, José Arcádio Buendía, acompanhado dos seus dois filhos, visita a tenda do cigano Melquíades, para ver a última maravilha que o mundo moderno havia cuidadosamente providenciado. Esta foi a altura em que José Arcádio Buendía e os seus filhos Aureliano e José Buendía viram gelo pela primeira vez.

Esta foi a altura em que José Arcádio Buendía disse: “ Este é o grande invento do nosso tempo!”.

Retrata a saga da família Buendia,em cem anos, na cidade fantástica de Macondo.... O autor, o colombiano Gabriel GARCIA MARQUEZ nasceu em 1928 e é um dos iniciadores do Realismo Fantástico, baseado no pressuposto de que a fantasia é tão real quanto a suposição de um fato. "Cem Anos de Solidão" (romance de 1967) também mistura a normalidade e o fantástico, o real e o sobrenatural de uma maneira típica do Realismo Fantástico e em um estilo de narrativa fragmentada e dispersa, o que é característico do pós-modernismo. O autor satiriza o caudilhismo dos ditadores hispano-americanos. E possui muitos outros romances de peso como "Memórias de Mis Tristes Putas".

O grande inquisidor (Fiodor Dostoiévski)


O Grande Inquisidor é uma parábola feita por Ivan a Alyosha no romance de Fiodor Dostoiévski em seu último romance Os irmãos Karamazov (1879-1880). Ivan e Alyosha são irmãos; Ivan é caracterizado como um niilista e ateu. Já Alyosha é um monge noviço enfrentando a vida fora do mosteiro. Ambos estão sentados em um bar e Ivan resolve contar ao seu irmão, em forma de prosa, sobre uma poema o qual está elaborando.
O Grande Inquisidor é uma parte importante do romance e uma das mais conhecidas passagens na literatura moderna  por causa de suas idéias sobre a natureza humana, da liberdade e do livre arbítrio, e devido à sua ambiguidade fundamental.
É um monólogo, em que um bispo, na época da grande Inquisição, encontra Jesus reencarnado. Ao vê-lo ressuscitando uma criança, este manda prender Jesus. No calabouço o inquisidor protesta em relação a essa volta de Jesus, indagando sobre o porquê dessa reaparição, e perguntando também qual o motivo dele ter dado um fardo tão grande ao homem quanto o livre arbítrio.

Querido John (Nicholas Sparks)


John Tyree é um jovem incontrolável que ingressa nas forças armadas, depois de passar por uma difícil convivência com seu pai. Ao sair de casa, ele se sente aliviado, mas percebe que o mundo lá fora pode ser tão difícil quanto sua convivência com seu pai. Seu pai vivia em um mundo isolado, quase não falava e seu passatempo era ser um colecionador de moedas.

Depois disso,  em uma visita ao seu pai, ele conhece Savannah Lynn Curtis depois que ele pega a bolsa dela depois de um incidente. Em seguida ele é convidado pela moça para ir junto com seus amigos em um churrasco. Lá os dois fortalecem seus laços e passam a ficar inseparáveis.

John passa a acreditar que essa garota é a mulher de sua vida, porém ele precisa retornar ao exército, depois de ter passado duas semanas em um relacionamento intenso com Savannah. Ela por sua vez, garante que vai esperar por ele depois de seu compromisso com as Forças Armadas.

O que eles não imaginavam é que os atentados terroristas do 11 de setembro iria mudar tudo em suas vidas. John fica em uma situação que precisa escolher, assumir o compromisso com seu país ou ficar com sua amada. A escolha de John pode afetar definitivamente seu relacionamento com Savannah. Como muitos homens e mulheres corajosos, John precisou escolher entre seu amor por Savannah e seu país.

John decide por se alistar por mais dois anos e passa a trocar cartas com sua amada, porém as cartas não mostram mais o amor que eles tinham antigamente, cada dia que passa, as cartas passam a ser escritas com menos frequência. A partir daí eles passam a acreditar que o amor entre eles não é tão intenso para transcender o tempo e mantê-los unidos.

Savannah percebia sempre o comportamento do pai de John e começou a estudar sobre isso, chegando a conclusão de que o pai dele sofria de autismo. E foi ela que procurou ajudar o velho, fazendo com que John entendesse sobre esse problema do autismo e que se aproximasse mais do pai.

Diferentemente das histórias comuns de amor, John e Savannah não são o que podemos considerar almas gêmeas, porém eles criam uma relação admirável, que com o tempo, suas diferenças começam a ganhar força. A distância também passa a ser um fator preocupante. O enredo tem seu melhor momento, quando John, recebe uma carta da garota cheia de sonhos. Esta carta pode ser o que irá mudar tudo na relação entre os dois. Savannah não aguenta a espera e termina com John. E logo ela se casa com o  amigo dele, o Tim.

O pai de John infelizmente morre, mas antes disso John, que voltou com uma licença para cuidar dele, (quando ele tivera um ataque cardíaco) acabou se aproximendo muito de seu pai e tendo-o como o seu melhor amigo.

John procurou por Savannah. Ao revê-la, sentia que ainda a amava muito. Porém ela já estava casada com Tim, que era seu amigo também. No entanto, Tim estva internado pois estava com câncer e Savannah sempre sozinha.

John e Savannah conversaram muito e visitaram Tim. Em um outro dia, Tim ao conversar sozinho com John, disse à ele que percebera que sua esposa ainda amava John. E disse à John que se ele morresse, que seria para ele adorar (amar) Savannah assim como ele a amava. (com isso ele estava dando permissão para que John ficasse com Savannah).

John, porém, se sentiu muito angustiado com isso. Essa permissão o fez se sentir ainda pior porque ele não tinha ido ali para seduzir Savannah ou destruir um casamento.

Então John resolveu se despedir de Savannah, dizendo que Tim iria ficar bem e que tudo iria acabar como deveria. Disse à ela que tinha que ir embora da cidade pois sua licença estava terminando. Mas se aproximou dela e disse:

“Eu te amo, Savannah, e sempre vou te amar”, murmurei. “Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Você foi minha melhor amiga e minha amante, e não me arrependo de um só momento. Você fez eu me sentir vivo de novo, e acima de tudo, você me deu meu pai. Nunca vou me esquecer disso. Você sempre será a melhor parte de mim. Sinto que tenha de ser assim, mas tenho que partir, e você tem que ver seu marido.”

E John relatou:

“Enquanto eu falava, ela soluçava convulsivamente, e continuei a abraçá-la por um longo tempo. Quando finalmente nos separamos, percebi que fora nosso último abraço. Me afastei, olhando nos olhos de Savannah.” “Eu também te amo, John”, ela disse.“Adeus.”

Então John quando estava indo embora, fez uma ligação para o banco e falou com um homem:
“Fechei os olhos, pensando em Savannah e Tim e esperando que, de algum modo, meu pai me perdoasse pelo que estava prestes a fazer. “Sim”, disse ao negociante de moedas. “Na verdade, você pode sim. Quero vender a coleção de moedas do meu pai, e preciso do dinheiro o mais rápido possível.”

John, então, vende a coleção de moedas de seu pai por menos do que valiam (que este colecionava) e depositou o dinheiro em uma conta aberta para o tratamento de Tim, o marido de Savannah.

Com isso, John se sentiu confortável:

“Vendi a coleção porque finalmente compreendi o que o verdadeiro amor realmente significa. Tim havia me dito, e me mostrado, que o amor significava pensar mais na felicidade da outra pessoa do que na própria, não importa quão dolorosa seja sua escolha”.

Tim ficara apenas com uma moeda para lhe trazer sorte, a “cabeça de búfalo” e uma foto de seu pai. John ficou como um doador anônimo e nunca deixou que Savannah soubesse disso.

Mas, para John isso não foi fácil:

“Hoje em dia, levo a vida sentindo que falta algo, que preciso de algum modo tornar minha vida completa. Sei que meu sentimento por Savannah nunca mudará, e sempre terei dúvidas sobre a escolha que fiz”.


Sobre o livro:

  • Narração em primeira pessoa. John é o próprio narrador e protagonista do livro.
  • O autor, Nicholas Sparks, se inspirou em um de seus filmes favoritos, Casablanca, para escrever Querido John. Em Casablanca, o casal se refugia nas memórias do tempo passado na França: “Sempre teremos Paris”, a frase imortalizada por Humphrey Bogart. No romance de Sparks, os namorados têm a lua cheia para lhes trazer consolo: “Eu a vejo sorver a imagem da lua cheia, inundada pelas memórias libertas, não desejando nada além de fazê-la saber que estou aqui. No entanto, fico onde estou e também olho para a lua. Por um breve instante, é como se estivéssemos juntos de novo”.