Uma lágrima de mulher (Aluísio Azevedo)

- Rosalina é filha do pescador Maffei. Ela se apaixona por Miguel Rizio, um rapaz pobre. Ambos viveram toda a infância em uma das formosas ilhas de Lípari. Maffei, o pai da moça, não aceitou o namoro dos dois pelo fato do rapaz ser pobre e chamou Miguel para conversar. Porém, acabou por ter uma briga com o rapaz e o empurrou do alto de um rochedo para o precipício no mar.

- Miguel teve um ferimento, porém sobreviveu. Quando foi procurar por Rosalina, não a encontrou porque seu pai a levara para Nápolis. Miguel ficou um bom tempo sem encontrá-la.

- Um dia Miguel encontrou um antigo pescador conhecido por “Sombra da Noite” que conhecia a família de Maffei e também conhecia a história de Miguel. Então se dispôs a ajudá-lo a reencontrar Rosalina. E foram os dois para Nápolis onde ela estva. Sombra da Noite conhecia muito bem Nápolis e já sabia onde era o local onde Maffei estava morando com a filha.

- Chegando em frente a casa dela, Miguel desabou a chorar. Depois escreveu um bilhete para ela começando assim: “Rosalina, não morri e desejo viver só para te amar” e marcou um encontro no outro dia a noite. O bilhete foi entregue ao Sombra da Noite para que fosse entregue à ela.

- Rosalina ficou emocionada ao ver Miguel pois até o momento pensava ela que ele havia morrido. E disse a Miguel que o amava muito mas que... então Miguel lhe disse que ficara sabendo que ela iria se casar com um fidalgo. Rosalina confirmou que era verdade, que não havia outro remédio e que o melhor para eles seria se conformarem com isso. Disse ainda que seu pai estava cada vez mais severo e ganancioso. Rosalina não poderia fazer nada, teria que se casar com o Visconde de Cenis, pois seu pai ordenara. Era uma ordem.

“Sejamos verdadeiramente corajosos, meu amigo, e saibamos ser dignos um do outro pelo sacrifício, soframos juntos...

- Miguel ficou muito triste com Rosalina e disse que iria partir, que iria embora.

- No próximo sábado era dia de festa, uma recepção em casa de Maffei. Rosalina estava encantadora e via-se cercada de aduladores. Porém, ela não sabia que Miguel voltara ali e estava escondido no jardim observando tudo.

- Então foi quando Maffei resolvera sair da casa e se sentar lá fora em um banco no jardim por causa da agitação da festa.

- E Miguel, estremecido de raiva, foi chegando até Maffei devagarinho e tocou-lhe no ombro. Maffei olhou para ele transpirando de medo enquanto Miguel de raiva.

“O olhar fixo e desvairado do moço refletia-se-lhe na consciência, como uma luz condenatória e daí persistia a fitá-lo, queimando-lhe por dentro os ossos do cérebro”.

- Miguel ainda fizera uma última tentativa:

“Velho amaldiçoado! Mau! Ambicioso! És o único obstáculo de minha ventura! És a minha asa negra! O meu pesadelo! A minha raiva! A minha desgraça! O meu ódio! O meu mal! O meu crime! Queres, bruto, regenerar-te? Queres por uma vez abaixar este braço, que a tua maldade levantou sobre a tua cabeça, velho estúpido?! Dá-me a mão de tua filha. Já! Peço-ta de joelhos, cão! Responde!... Queres?!”...

- Maffei sentia-se como se tivesse acordado de um sonho mau e gritou:

“Nunca! – atroou energicamente Maffei e ergueu-se de ímpeto!”

- Foi então que Miguel, raivoso, agarrou-se ao pescoço de Maffei para enforcá-lo:

“E o moço não desgarrava da vítima as unhas envenenadas pela cólera velha e sedenta de vingança, continuava a asfixiá-la”.

- E o velho caiu gomando pelas ventas já sem vida.

- Feito isto, Miguel fugiu como se tivesse livrado de um peso horrível.

- No outro dia o jardineiro da casa encontrou o corpo de Maffei no jardim e depois foi feito o enterro.

“os jornais de Nápoles noticiavam ter sucumbido o muito honesto e muito nobre proprietário da Rua de Toledo, fulano de tal Maffei, vítima de uma congestão cerebral, que o acometera na véspera”.

- Depois de uns dias, em uma noite, Miguel apareceu para Rosalina subindo pela janela. E perguntou para ela se enfim ela estava livre. Rosalina começou a lhe falar que desde que seu pai morreu ela ficara doente. Disse que após a morte do pai, ela ficara em extrema miséria, pois o pai passou uma vida de opulência, gastando mais do que possuía, ficando de tal modo endividado.

- E Rosalina disse que tinha que se casar com o velho rico para que ele pudesse resgatar o nome do pai dela. Miguel, desesperado, disse-lhe que se ela se casasse com ele, poderiam começar tudo de novo em Lípari, de onde vieram e que ele aos poucos poderia resgatar o nome do pai dela. Disse que em Lípari as flores esperavam por ela. Lembrou à ela o cão que ainda vivia – o Castor. E Miguel implorava com Rosalina.

- Rosalina então, ficara até emocionada de ver como Miguel a amava tanto. Na realidade ela havia inventado essa história de pobreza porque não queria dizer a verdade de tudo: ela também havia se deixado levar pela “cobiça” e o casamento lhe seria vantajoso, ainda mais que não era por amor e ela poderia se prostituir com outros belos “pares de bigodes”:

“Qual das duas partes faria melhor aquisição? Uma levava uns restos de homem e o título de visconde e a outra um dote avultado e uma mulher prostituída. Estas ruindades fundidas deveriam dar um resultado satisfatório para ambos e talvez para a sociedade, que, em vendo dinheiro, faz como as crianças: fecha os olhos e abre a boca. Entanto, quando o visconde se retirava da sala de honra, abria a noiva a porta privada da alcova, para o outro, que, se em verdade não era tão nobremente visconde, tinha, em compensação, um bom par de bigodes pretos, que valiam por um brasão”.

- Miguel continuava implorando o amor de Rosalina e esta, sentia-se conscienciosamente arrependida de se ter fingido pobre, porém não queria voltar atrás e teve que inventar um pretexto qualquer para que Miguel não insistisse mais. Disse ela, (ao ver um copo com uma bebida no quarto) que havia tomado um veneno que estava neste copo e que dentro de instantes iria morrer.

- Miguel queria pedir ajuda mas Rosalina não deixou e ficava se contorcendo, fingindo que morria, até ficar extática.

_ Miguel, por sua vez, perdera todas as suas forças e uma vertigem doida lhe acometera à cabeça...

- Foi quando depois de instantes, Rosalina resolveu olhar para Miguel que estava completamente imóvel no colo dela. Miguel havia morrido!

- Rosalina, então, se desesperou com um grito de terror.

“Então, uma lágrima cristalina e santa, desprendendo-se do coração, rolou pura pelas faces da mulher. Chorou pela primeira vez! Aquela lágrima valia o poema inteiro da sua existência! Era o transunto do seu arrependimento! Era o perdão dos seus crimes! Chorou! Chorou uma lágrima de mulher, e por isso que vinha de Deus! Rosalina amou pela primeira vez – aquele cadáver”.

Senhora (José de Alencar)


 

Emília é irmã do Sr Lemos e vivem juntos. Emília se apaixonou por Pedro Camargo, um médico pobre, mas a família não o aceitava. Então Emília fugiu com seu amado, rompendo com sua família. Emília se casou secretamente com Pedro Camargo, que era filho natural de um rico fazendeiro, Lourenço de Sousa Camargo, que ao saber do paradeiro do filho o manda buscar sem saber da união. Este volta para a fazenda paterna, mas não tendo coragem para enfrentá-lo, envia cartas amorosas à esposa e dinheiro para seu sustento. Após um ano de separação, o casal se reencontra, nascendo o primeiro filho, Emílio, que o pai só conhece aos 2 meses de idade. Passam a viver algumas semanas juntos e outras separados, temendo que o velho descubra tudo e não mais os ajude. Nasce a segunda filha, Aurélia.
Emília nada pode revelar sobre seu casamento e, por isso, leva uma vida suspeita e obscura. Apesar de tudo, Pedro sustenta a família e educa bem os filhos. Após doze anos de convivência com a esposa, Pedro sofre um golpe cruel. O pai lhe apresenta uma noiva de 15 anos, filha de um rico fazendeiro. O moço não querendo contar que já era casado então foge e se esconde em um rancho e aí acaba morrendo de febre cerebral, deixando 3 contos de réis a um tropeiro para ser levado a Emília, sem mencionar a dor pela qual está passando. Assim, faz o homem e Emília perde para sempre a alegria de viver.
Aurélia, na infância, leva vida modesta em companhia da mãe e do irmão, criatura fraca que é sempre ajudada, em seu trabalho de caixeiro, pela moça, sobrecarregada de tarefas. Morto o irmão, a mãe começa a preocupar-se com o destino da filha, falando-lhe constantemente sobre a necessidade de se casar e de se colocar à janela, pois bonita como é, logo arranjaria pretendentes. Apesar de desgostosa, Aurélia atende aos apelos. O tio Lemos (irmão de sua mãe) logo corre à janela, agindo como candidato, mas a moça quer reatar laços com a família materna. O tio deixa-lhe um bilhete galanteador e a menina rompe de vez a amizade.
O próximo a se candidatar é Fernando Rodrigues de Seixas, recém chegado do Rio de Janeiro que, conquistando a atenção de Aurélia, passa a freqüentar-lhe a casa, sentindo-se constrangido em namorar moça tão pobre. Há, ainda, Eduardo Abreu, rapaz rico e de boa família que encantado com a beleza da menina, pede sua mão em casamento, mas Aurélia ama Seixas. A mãe resolve perguntar ao eleito sobre suas intenções em relação à filha, mas sabendo do interesse de Abreu pela garota, Fernando prefere perdê-la a fazê-la sofrer com sua pobreza. Porém sabendo da recusa de Aurélia com Abreu, Seixas volta e a pede em casamento.
O senhor Lemos resolve interferir nos acontecimentos e ao encontrar o pai de Adelaide, o Sr. Manuel Tavares do Amaral lhe fala sobre as vantagens do casamento da moça, já prometida a outro, com Seixas. O pai não gosta do pretendente da filha, Dr Torquato Ribeiro, porque pobre, não tem muito futuro pela frente. Passa a se interessar por Seixas e por isso o apresenta em casa. O rapaz começa a calcular as vantagens do casamento com Adelaide e, por fim, quando o chefe da casa lhe oferece o dote de 30 contos de réis, Seixas o aceita imediatamente. Então Aurélia recebe uma carta anônima dizendo que Fernando a trocou pelo dote de 30 contos de réis.
A moça fica infeliz, mas, por outro lado, reencontra o avô, Lourenço de Souza Camargo (pai do seu pai) que apareceu lhe procurando e que decidira reconhecer mãe e filha, pois descobrira cartas e fotos da família nas coisas do filho que morreu. Desafortunadamente, tanto a mãe quanto o avô logo morrem.
Um comerciante visita Aurélia e lhe traz o testamento de Lourenço, reconhecendo-a como herdeira universal, lhe apresentando uma lista de seus bens e explicando sobre os negócios pendentes. Os parentes, que jamais se aproximaram dela, tão logo sabem sobre a herança, correm para vê-la, inclusive o tio Lemos, munido de uma nomeação para ser seu tutor. Mas Aurélia sabe muito bem conduzir os negócios, sobretudo graças ao aprendizado adquirido com o trabalho do irmão. A menina desamparada passa a morar com a parenta afastada, D.Firmina Mascarenhas.
Aurélia pensa em recusar a tutela, mas logo acha interessante ter um tutor que domina. Aceita-o sob a condição de jamais viver com a família que tanto desprezara a mãe.
Aurélia Camargo, moça que era pobre, então, torna-se rica graças à herança do avô, recebida aos l8 anos, quando é apresentada à sociedade fluminense. Encanta a todos com sua esplendorosa beleza. Aurélia é quem governa a casa como bem entende. A velha senhora é uma espécie de "mãe de encomenda", forma de não chocar aqueles que se opõem à emancipação feminina.
Sua beleza desperta o interesse de muitos rapazes, sabendo, sagazmente, os riscos que corre. Revoltava-se, às vezes, contra sua riqueza por reconhecer nela um dos motivos para tantos admiradores. Por isso, a cada um atribui um valor em contos de réis, fato que os rapazes conhecem e os diverte diante de tanta franqueza da moça.
Aurélia tendo como tutor o irmão de sua mãe, o Senhor Lemos, vez por outra, o convocava para resolver problemas sem importância. Numa determinada manhã ele foi  chamado para discutir sobre o casamento da jovem. Surpreendentemente, ela lhe apresenta um negócio a ser entabulado para a obtenção do consentimento do futuro marido. Faz referência a Manuel Tavares do Amaral, empregado da alfândega, que como já disse acima, tinha ajustado  o casamento da filha Adelaide por um dote de trinta contos com o Seixas.
Então solicita ao senhor Lemos que a auxilie a desmanchar esse casamento, indicando que a moça deve se casar com o Dr Torquato Ribeiro, verdadeiro amor de Adelaide, repelido por ser pobre. Pede ao tutor para dar 50 contos de réis, (retirados da herança de Aurélia), como dote a Ribeiro, porque deseja se casar com o moço prometido à Adelaide; este a quem ela já havia namorado. O tio deveria procurar o moço escolhido e lhe propor 100 contos de réis e casamento com separação de bens, mantendo absoluto segredo sobre quem faz a proposta.
Fernando Rodrigues de Seixas, é um rapaz de poucos recursos desde a infância. Vivia com a mãe e duas irmãs que o veneravam. Órfão aos 18 anos, abandonou o terceiro ano de Direito em São Paulo, ocupando o cargo de jornalista, tendo certo sucesso na imprensa fluminense. Em sociedade apresentava-se como um moço rico.
O velho Lemos foi procurar Seixas que de pronto se negou a aceitar o acordo, entretanto, dias mais tarde, foi encontrá-lo para aceitar a proposta, desde que lhe fossem adiantados vinte contos de réis, sem dizer em que os aplicaria. O adiantamento é aceito. Seixas se decide pelo acordo porque gastou as economias maternas e agora tinha que dar à irmã um dote para seu casamento. Então, decide-se, confirmando seu propósito com Lemos.
Após receber os vinte contos de réis, Seixas é apresentado à futura noiva. Pelo trajeto, vai sufocado pela humilhação a que se submete, contudo Lemos avisa que a moça nada sabe sobre o acordo. Quando viu quem era a moça ele se assustou. Dias mais tarde, oficializou o pedido de casamento, prontamente, aceito por Aurélia Camargo. A sociedade fluminense fica assombrada com a notícia, não podendo crer que com tantos admiradores ricos a escolha tenha recaído sobre um marido sem fortuna.
A celebração é modesta com poucos convidados e os noivos se sentem felizes. Porém, quando ficam a sós, a moça se revela de forma cruel, mostrando-lhe desprezo e mencionando o acordo de cem contos de réis. O casamento com Fernando Seixas é acertado pelos 100 contos de réis, revelados por ela na noite de núpcias, quando expõe todo seu desgosto para com o comportamento de traição anterior do rapaz, quando a trocou por Adelaide. Seixas, diante da fúria da noiva, afirma não amá-la, só se interessando pelo dote e, portanto, está pronto para atender suas ordens. Aflita, angustiada e surpresa, ordena que ele se retire. Passam a viver sob a aparência de um casal feliz, mas se martirizam com ironias e sarcasmos, levando vidas separadas quando estão longe do convívio social.
Dr. Torquato Ribeiro se casa com Adelaide.

A Restituição
Passado alguns meses, Fernando fica sabendo que tem direito a 20 contos de réis, resultantes de um negócio feito quando solteiro. Então pede um encontro reservado com a esposa e lhe restitui com juros os 100 contos de réis, contando-lhe sobre as circunstâncias que o levaram a ter aceitado o seu dote para o casamento.
Aurélia, então, surpresa, aceita a restituição, mas quando ele se despede dela, dizendo que nunca mais se veriam e que iria embora, Aurélia ajoelha-se e  declara seu amor, dizendo que o perdoa, pedindo que ele a ame. E como última tentativa e prova de que não o enganava, ela mostra-lhe seu testamento, que fez logo após o casamento, passando-lhe tudo o que tinha.
E por fim, eles se beijam e o casamento se consume, finalmente!

Características:

  • José de Alencar critica, em muitos trechos do romance, o modo como o dinheiro influía na sociedade da época. Utilizando para o fazê-lo, a sua personagem principal: Aurélia. A narração do livro cita por várias vezes como Aurélia recorre ao pensamento de que todos a rodeavam por causa do dinheiro que possuía.
  • Características românticas apresentadas pelos personagens e pela obra: Publicado em 1875, "Senhora" traz características essencialmente românticas, como se pode ver pelo núcleo de seu enredo simples, típico dos dramas de amor do Romantismo: Aurélia Camargo, filha de uma pobre costureira, apaixonou-se por Fernando Seixas, a quem namorou. Este, porém, desfez a relação, movido pela vontade se se casar com uma moça rica, Adelaide Amaral.
  •  Costumes típicos apresentados na obra: À época, o Segundo Reinado, vigora o regime de casamento dotal, em que o pai da noiva (ou, no caso, ela mesma) deveria dar um dote ao futuro marido.
  • O livro se divide em partes:
a)      O preço: seria o valor do dote do casamento
b)      Quitação: o pagamento do dote
c)      Posse: a posse de Aurélia sobre Seixas
d)     Resgate: a restituição do dote (dinheiro) para Aurélia.

Demônios (Aluísio Azevedo)

“Demônios” é o primeiro volume de contos de Aluísio Azevedo. Publicado em 1893, reúne pequenas narrativas humorísticas, ao estilo de Guy de Maupassant; um conto longo, “Demônios”, considerado por muitos um precursor da ficção científica brasileira; e algumas histórias propriamente naturalistas.
Há mais de cem anos demônios invadiram a noite do célebre escritor naturalista Aluísio Azevedo, levando-o a escrever um conto fantástico. No conto “Demônios”, Aluízio de Azevedo coloca um ar de suspense em uma história naturalista/realista em certas partes do seu texto.
A História começa com o personagem tendo certas alucinações que o levasse a duvidar sobre o que era aquilo. O autor (personagem sempre falando em 1ª pessoa) fôra dormir, porém o dia não amanhecia. O sol não se abria  mais e o mundo estava em completa escuridão. Todas as pessoas haviam morrido e tudo estava fora do normal: pessoas mortas, o mundo e a natureza parados. Apenas sobrara sobrevivente ele mesmo, ali. E foi quando se lembrou de sua noiva, Laura. Então saiu na escuridão tateando para não errar o caminho e foi até a casa da noiva. Pelo caminho encontrava mortos esticados no chão. Chegando lá teve que entrar em todos os cômodos, onde encontrou o pai da moça morto e a mãe dela também. Depois foi ao quarto da noiva quando a encontrou sem vida, fria. Mas, depois de uns instantes, como que por uma milagre a moça respira e acorda. Enfim, pelo menos a noiva, uma só pessoa no mundo estava viva como ele. Como não havia mais ninguém no mundo o casal começou a andar por esse “novo mundo”, com a intenção de morrerem juntos os dois.
Porém coisas muito estranhas começaram a acontecer, tanto com ele quanto com a noiva: Transformações foram ocorrendo no corpo dos dois de acordo com o tempo que passava passando de mudanças físicas a mudanças mentais, tornando-os como animais selvagens. E os dois se eternizaram com o verdadeiro amor entre eles.
“E, abraçados a princípio, soltamo-nos depois e começamos a percorrer o firmamento, girando em volta um do outro, como um casal de estrelas errantes e amorosas, que vão espaço a fora em busca do ideal”.
O final foi um pouco inesperado. A estória se resume que nada do que foi dito aconteceu realmente. É que toda essa estória aconteceu em uma noite de insônia do autor que esperando o dia amanhecer, escreveu esse conto.
“Ora fica aí leitor paciente, nessa dúzia de capítulos desenxabidos, o que eu, naquela maldita noite de insônia, escrevi no meu quarto de rapaz solteiro, esperando que Sua Alteza, o Sol, se dignasse de abrir a sua audiência matutina com os pássaros e com as flores”.

Carolina (Casemiro de Abreu)


Esta historia de uma jovem que após se perder com um homem, de quem se engravida, se envereda na prostituição é um retrato claro de uma época de conservadorismo e tabus sexuais; A história escrita por Casimiro de Abreu, se assemelha em muito com outras historias de amor que tem a traição e a tragédia por pano de fundo, tipo Romeu e Julieta de Shakespeare, e tantas outras; No entanto surpreende-nos pelas conseqüências finais dos caminhos escolhidos pelos três personagens principais Augusto o apaixonado pela donzela Carolina e Fernando o Don Juan da história que se identifica como um incorrigível conquistador de donzelas, e com quem Carolina se envolveu traindo a confiança de seu amado Augusto, e a personagem central, já citada, Carolina descrita como a meiguice em pessoa e que amava a Augusto.
A história começa com Augusto se despedindo de Carolina para ir a uma viajem de negócios, os dois trocam juras de amor e se prometem guardar todo amor deles para a ocasião do reencontro ali embaixo daquela árvore frondosa, no entanto apenas pouco tempo mais tarde Carolina se envolve amorosamente com Fernando que a desflora e a abandona a própria sorte. O autor dá um pulo no tempo levando-nos a ao retorno de Augusto e sua decepção ao ver que a família da sua amada se mudara devido à vergonha resultante do envolvimento e gravidez de Carolina, que abandonou o lar. Augusto parte para Lisboa e passa a descrever a um amigo provavelmente Fernando os dois lados de uma grande metrópole desde a opulência dos ricos as miseráveis vidas dos desafortunados. Ambos vão parar num meretrício onde Fernando pede a Augusto que esqueça sua antiga paixão, incentivando-o a entregar-se ao usufruto do sexo, sem cultivar o amor que segundo ele só causa dor e decepção.
O destino sempre é generoso nos desenrolar das historias românticas, e nessa não poderia ser diferente, Augusto e Fernando sobem ao 4º andar dum prédio à procura de uma prostituta. E o destino fez com que eles se deparassem com Carolina que vendo-os conta para Augusto ter sido Fernando que se aproveitou de um momento de fraqueza dela lhe engravidando e a deixando sozinha que sem outra saída acabara se entregando a vida fácil; Augusto fica cheio de ódio de Fernando, pois era seu amigo desde a infância, lhe atraca pelo pescoço e o mata fugindo em seguida.
A consciência de Augusto atormentava-lhe pelo crime cometido a ponto de adoecer, mas ao recobrar a saúde voltou ao meretrício no afã de reencontrar Carolina, mas ela já tinha ido embora deixando uma carta aos cuidados da dona da casa de prostituição, onde a jovem pedia perdão por ter traído Augusto e confessa ainda amá-lo muito.
Carolina acabou por não resistir tanto sofrimento e morreu, antes porém deixando mais uma carta onde lamentava sua forma de agir, e falando de sua morte.
Acredito que se você chegou até aqui é por que gostou desta história que envolve amor, paixão e ódio, e não pense que isso só acontece em ficção, mesmo na vida real esse sentimento entre homem e mulher que alguns chamam de amor outros de paixão tem rendido boas histórias em todas as sociedades.