Noite na taverna (Álvares de Azevedo)


Noite na Taverna é uma narrativa (novela ou conto) construída em sete partes, contendo epígrafes e os nomes de cada personagem, como subtítulos, antecedendo as narrativas, contadas em uma taverna. Há, na última parte, o entrelaçamento da história de Johann e de alguns personagens.
Mais do que pelos elementos romanescos e satânicos que a condimentam (violentação, corrupção, incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia, assassinatos por vingança ou amor), a obra impõe-se pela estrutura: um narrador em terceira pessoa introduz o cenário, as personagens, a situação, e praticamente desaparece, dando lugar a outros narradores - as próprias personagens, que em primeira pessoa contam, uma a uma, episódios de suas vidas aventureiras.
Na última narrativa, a presença física (na roda dos moços) de personagens mencionadas em uma narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como
verídico.
Noite na Taverna, obra escrita em tom bastante emotivo, antecipa em vários aspectos a narração da prosa moderna: a liberdade cênica, a dupla narração e suas confluências, a mistura do real ao fantástico confere atualidade à obra, apesar de toda a atmosfera byroniana.

Primeira parte
A primeira parte constitui uma espécie de apresentação do ambiente da taverna, da roda de bebedeira, de devassidão em que se encontram os personagens, do clima notívago e vampiresco. O tom declamatório anuncia a noitada e as histórias que estão por vir.
As primeiras páginas deixam antever o clima das gerações do mal do século, a irreverência incontida, a tendência a divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente, a morbidez e a lascívia.
Entre os "brados" e as taças que circulavam, são apresentados os personagens, e alguns deles tomas a palavra. Em primeira pessoa, relatam histórias pessoais. O primeiro a tomar a palavra é Solfieri que faz suas evocações, remontando-as a Roma, a "cidade do fanatismo e da perdição", onde "na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido". Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e o personagem adormece sob o frio da noite e a umidade da chuva. A visão deste vulto de uma mulher atordoou o personagem durante um ano, nada o satisfazia na troca de amores com mundanas. Uma noite, após prolongada orgia, sai vagando pelas ruas e acaba entre "as luzes de quatro círios" que iluminavam um caixão entreaberto. Lá estava a mulher que lhe provocara tantas alucinações e insônias. Era agora uma defunta. O homem tomou o cadáver em seus braços, despiu-lhe o véu e...
Mas, para disfarçar o caso de necrofilia, a mulher não estava morta, apenas sofrera um ataque e catalepsia. Ao perceber que a mulher não havia morrido, Solfieri levou-a para seu leito, contemplou-a e ela, depois de breve delírio, veio a falecer. Solfieri mandou fazer uma estátua de cera da virgem, guardou-a em seu quarto, conservou com uma grinalda de flores.
Johann, Bertram, Archibald, Solfieri, o adormecido, Arnold e outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébrias sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da alma, sendo mais velho, parece não crer nela, por isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se voltam para Deus quando estão próximos da morte, Deus é, pois, a "utopia do bem absoluto".

Segunda parte - Solfieri e a Necrofilia
Solfieri decide contar sua história, conforme sugere Archibald, desejoso de histórias fantásticas, cheias de sangue e paixão. Conta, então, que uma noite, ao vagar por uma rua, em Roma, passa por uma ponte, quando as luzes dos palácios se apagam. Vê a sombra de uma mulher chorando, numa escura e solitária janela, parecendo uma estátua pálida à lua.
Ela canta mansamente, saindo para a rua, sempre seguida por Solfieri. Pela manhã, ele percebe que está em um cemitério, sem saber, ao certo, se adormeceu ou desmaiou. Sente muito frio, adoece, delira, tendo visões com a bela e pálida mulher. Retorna a Roma um ano depois, sem encontrar alento nos beijos das amantes, perseguido pela visão da mulher do cemitério. Certa noite, muito bêbado, após uma orgia, se encontra num templo muito escuro e, vendo um caixão semi-aberto, crê que a mulher está lá dentro. Arranca-lhe a mortalha, faz amor com ela, que, pela madrugada, dá sinais de vida, retornando da catalepsia para desmaiar em seguida.
Solfieri coloca sua capa sobre a moça e foge com ela. Encontra com o coveiro e depois com a patrulha, que o considera um ladrão de cadáveres. Justifica-se, apresentando a esposa desfalecida. Ao chegar em casa, a moça grita, ri e estremece, morrendo 2 dias depois. Solfieri levanta o piso do quarto para dar lugar ao túmulo, suborna, antes, um escultor que lhe faz em cera a estátua da virgem. Aguarda um ano para estátua definitiva ficar pronta.
Volta-se para Bertram, recordando-lhe a visita deste em sua casa e de a ter visto por entre véus, sendo a ela apresentado como "uma virgem que dormia". Os amigos surpresos com a história desejam saber se se trata de um conto, mas ele jura por todo mal existente que não. Como prova, mostra sob a camisa a grinalda de flores mirradas, pertencente à moça.

Terceira parte - Bertran e a Antropofagia
A seguir, Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que, também, uma mulher, uma donzela de Cadiz, Angela, o levou à bebida e a duelar com seus três melhores amigos e a enterrá-los. Quando decide casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai, pedindo seu retorno à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo, chora, mas por saudades de Angela. Dois anos depois, vende toda fortuna, coloca o dinheiro num banco de Hamburgo e volta para a Espanha. Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os amantes passam a se encontrar às escondidas, vivendo verdadeiras loucuras noturnas até que o marido, enciumado, descobre tudo.
Uma noite, Angela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até sua casa e por entre a penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre seu peito, o filho de bruços, sangrando. Angela deseja fugir em sua companhia, saem pelo mundo, ela vestida de homem vive grandes orgias. Foge mais tarde, deixando o rapaz entregue às paixões e vícios.
Bertram bêbado e ferido é atropelado por uma carruagem, diante de um palácio, sendo socorrido por um velho fidalgo, pai de uma bela menina, que, mais tarde, foge para casar-se com Bertram. Vendida em uma mesa de jogo a Siegfried, um pirata, ela o mata e o envenena, afogando-se a seguir. De dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar na Itália, mas salvo por marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou acabou, acidentalmente, morta por ele. São socorridos por um navio e Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse se necessário.
Mas, apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha contra um navio pirata, ele o trai, fazendo amor com a mulher. O navio encalha em um banco de areia, despedaçando-se aos poucos - os náufragos agarram-se a uma jangada e, em meio à noite e à tempestade, o casal vive horas de amor. Vagam a ermo pelo mar as três figuras, sobrevivendo de bolachas e, mais tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá. O comandante perde, clama por piedade, mas Bertram se nega ouvi-lo, prefere a luta. Mata o comandante, que serve, por dois dias, de alimento a Bertram e a mulher. Ela propõe morrerem juntos, ele aceita. O casal gasta as últimas energias se amando. A mulher, enlouquecida, começa a gargalhar, Bertram febril a sufoca. Ela é levada pelas águas, enquanto o rapaz é salvo pelo navio inglês, Swallow.

Quarta parte - Gennaro e a Traição das Traições
A próxima história é a de Gennaro. Sua narrativa é sobre um velho pintor, Godofredo Walsh, casado com uma jovem de 20 anos, Nauza, que lhe serve de modelo e é amada como a filha do primeiro casamento, Laura, garota de 15 anos. Gennaro, aos 18 anos, é aprendiz de pintor e aluno de Godofredo. Vive na casa do mestre como um filho, recebendo  no corredor antes de dormir, beijos de Laura. Um dia, desperta e a encontra em sua cama, perdendo a cabeça diante da estonteante beleza da virgem. A cena se repete ao longo de 3 meses, quando a menina lhe diz que deve pedi-la em casamento, porque espera um filho. O moço nada responde, ela desmaia e se afasta, tornando-se cada dia mais pálida.
O pintor definha com a tristeza da filha, passeia pelos corredores à noite e deixa de pintar. Uma noite, Gennaro é chamado, porque Laura está morrendo e murmura seu nome. O moço aproxima-se e ela, sussurrando-lhe ao ouvido o perdão, diz que matou o filho e dá o último suspiro. O velho passa o ano endoidecido, chora todas as noites no quarto da morta, arfando ou afogando-se em soluços.
Enquanto isso, o rapaz e Nauza amam-se em seu leito. Uma noite, o velho o arranca da cama e o leva até o dormitório de Laura. Levanta o lençol que cobre um painel, descortinando a imagem moribunda de Laura, que murmura algo no ouvido do cadavérico Gennaro. Atordoado, o aprendiz confessa tudo a Godofredo.
No dia seguinte, o velho se comporta naturalmente, sem mencionar o ocorrido, lamenta apenas a falta da moça. Sonâmbulo, repete a mesma cena ao longo de várias noites e, numa delas, Nauza é testemunha. Uma noite de outono, após a ceia, Walsh convida Gennaro para um passeio fora da cidade. Após contornar um despenhadeiro, pede ao rapaz para esperá-lo, dirigindo-se a uma cabana de onde sai uma mulher. Depois, junta-se a Gennaro e ao chegar à beira de um penhasco, descreve a traição, envolvendo a filha e a esposa.
Pede ao rapaz para jogar-se precipício abaixo. Gennaro assim o faz, mas, após uma noite de delírios, acorda salvo por camponeses, em uma cabana. Decide retornar à casa de Walsh e pedir-lhe perdão, entretanto encontra pelo caminho o punhal do pintor. Decide vingar-se, mas encontra Nauza e Godofredo envenenados e apodrecidos, talvez, com o veneno obtido com a mulher da cabana.

Quinta parte - Claudius Hermann e a Paixão de Morte
Claudius Hermann, após preâmbulos em que discursa com os amigos de orgia acerca de diversos temas, expõe sua história, onde narra suas loucuras e orgias e de como desperdiçou uma fortuna no turfe, em Londres, onde vê uma bela amazonas, a duquesa Eleonora, esposa do duque Maffio. Antes de prosseguir com a história, Bertram indaga sobre a poesia, descrita como um punhado de sons e palavras vãs, enquanto Claudius a considera um prazer extremado, o que há de belo na natureza. Os colegas os interrompem, pedindo ao narrador que retome a história.
No dia em que avista a bela duquesa, Hermann dobra sua fortuna e, à noite, no teatro, a vê, mais uma vez. Ao longo de 6 meses, encontra a senhora em bailes e teatros até que decide comprar de um criado a chave do castelo. Entra, sorrateiramente, quando ela já está adormecida e coloca-lhe nos lábios narcótico. Aguarda que durma profundamente e então a possui, repetindo o fato, noite após noite, durante um mês.
Certa vez, após um baile, entra no quarto de Eleonora e vendo um copo com água junto à sua cabeceira, derrama nele o narcótico. Entram a duquesa e o duque que, antes de sair do quarto, prometendo-lhe retornar, bebe um pouco do líquido, seguido por ela. Claudius sabe que Maffio não virá ao quarto e que Eleanora dormirá profundamente.
Ergue-a do leito e foge com ela numa carruagem, chegando, ao meio-dia, a uma estalagem. Mais tarde, a duquesa desperta e surpresa por não estar em seu palácio, grita por socorro, desespera-se, ameaçando jogar-se pela janela. O rapaz lhe declara profundo amor e lhe descreve o rapto, dando-lhe duas horas para pensar se fica ou não com ele. Inconformada a princípio, decide aceitar o amor oferecido, pois a família e amigos, certamente, não a aceitariam mais.
Ao retornar, Claudius a encontra debruçada sobre um de seus versos. Interrompe a narrativa, retira um papel do bolso, mostrando o verso aos colegas. Conta que Eleonora lhe respondeu que ficava, mas caiu desmaiada. Dito isso, o rapaz tomba por sobre a mesa, calando-se. Archibald o sacode, implora para que desperte. Solfieri e os companheiros desejam saber sobre a duquesa, mas o rapaz está confuso, não se recorda de mais nada. Ouvem a gargalhada do louro Arnold que despertando, dá continuidade ao relato, dizendo que um dia Claudius entrou em casa e encontrou sobre a cama ensopada de sangue dois cadáveres; o Duque de Maffio matou Eleonora e enlouquecido, suicidou-se em seguida. Arnold estende a capa no chão e volta a dormir.

Sexta parte - Johann e o Incesto
Johann decide contar sua história. Está em um bilhar em Paris, jogando com Artur que, numa jogada definitiva para Johann, se encosta à mesa, por descuido ou de propósito. A mesa estremece e Johann é levado à derrota. O perdedor, enlouquecido de raiva, desafia o parceiro para um duelo. Antes, porém, Artur pede ao adversário que, caso morra, entregue a carta, que está em seu bolso, e o anel no seu dedo, para uma mulher que dirá, mais tarde quem é.
Saem com duas pistolas, uma carregada, a outra não; Artur é alvejado e morre, apontando para o bolso. Johann tira-lhe o anel, colocando-o em seu dedo e, a seguir, encontra dois papéis no bolso do morto: uma carta para a mãe, e outra indicando o horário e endereço para um encontro. O rapaz decide tomar o lugar de Artur. Descobre que aí mora a virgem namorada do rival que acaba na cama com Johann, num quarto escuro.
De repente, interrompe a narrativa, enche o copo e o bebe com estremecimento. Prossegue, narrando que ao sair do quarto, encontra um vulto à porta, cuja voz lhe soa familiar. É atacado com uma faca, luta ferozmente com o vulto; um homem desconhecido, que deixa cair o punhal, morrendo sufocado pela mão de Johann. Ao se retirar, tropeça numa lanterna e decide ver o rosto do estranho, estremece, a luz da lanterna se apaga. Vai arrastando o corpo até um lampião e, para sua surpresa, descobre tratar-se de seu irmão. Louco de terror retorna ao quarto, mas, outra vez, interrompe a narrativa, bebe mais um copo. Diz que encontrando a donzela desmaiada, a levou para a janela e percebeu que estava com a irmã nos braços.

Última parte - O Último Beijo de Amor
Com Último beijo de amor, Álvares de Azevedo fecha a obra Noite na Taverna. Ao contrário dos outros, traz a narrativa em 3ª pessoa.
É noite alta na taverna, todos dormem. Entra uma mulher pálida, vestida de negro, procurando alguém com uma lanterna na mão. Vê Arnold, tenta beijá-lo, mas o deixa em paz, voltando-se para Johann, tornando-se, subitamente, sombria. Traz, além da lanterna, um punhal, que crava no pescoço deste último, enxugando as mãos ensangüentadas no cabelo do ferido. Vai até Arnold e o desperta. Ele a reconhece; é a irmã de Johann, agora transformada na prostituta Giorgia, a quem Arnold pede que lhe chame de Artur, como outrora.
O rapaz recorda-se do duelo, do tempo passado no hospital para se recuperar, o desespero e a vida de devassidão a que se entregou por não encontrar mais Giorgia. Deseja ficar junto dela agora, mas a moça acha que é tarde demais, pede-lhe apenas um beijo de despedida, porque vai morrer. Leva Arnold até o corpo de Johann, dizendo que o matou por ter sido por ele desonrada, a ela que era sua irmã. Arnold horrorizado cobre o rosto, enquanto Giorgia cai ao chão. Arnold aperta o punhal contra o peito e cai sobre ela, sufocando os dois gemidos de morte. A lâmpada apaga-se.


Alves & Cia Eça de Queirós

Alves & Cia. é a firma da qual são sócios Machado e Alves e o título deste "pequeno romance" fala sobre o adultério e suas conseqüências. Quando no dia do aniversário de Ludovina, esposa de Godofredo (Alves), este a surpreende abraçada com Machado, aí começa a história. Alves perturbado com a surpresa, se retira e Machado foge da sala. Alves expulsa Lulu para a casa do pai (que recebe a notícia feliz com a pensão que receberá junto) e decide que ele e Machado tirarão na sorte quem se suicidaria. Posto que Machado e as testemunhas achem isto ridículo, vai-se decidindo por um duelo de pistolas, logo por outro duelo de espadas (porque "não foi tão sério"), e por fim por duelo nenhum. Ludovina viaja com o pai e volta mais tarde. Machado volta a trabalhar num clima seco e frio onde antes houveram dois grandes amigos.
Já nessa época Alves quer a reconciliação. O tempo vai passando, Alves se reconcilia com Ludovina. Sua amizade com Machado renasce; a firma prospera, Machado casa, enviuva, casa novamente, etc. Ao final de 30 anos, os três são felizes e ainda muito unidos, mas nunca esquecem o episódio lamentável em que se envolveram.
O romance tem como cenário a Lisboa nos fins do século XIX e seu imaginário social. O texto propõe o que já foi chamado de sociologia do adultério um dos temas recorrentes em Eça de Queiroz. Traz a visão de que o ócio degenerava a virtude da sociedade como um todo e, sendo assim, a mulher que tem muitas ocupações é mais fiel. Godofredo Alves, o protagonista, que vem de uma classe mais pobre e cresce com o comércio, vive um dilema: seus amigos, de dinheiro “fácil”, tem idéias de fidelidade diferentes da sua. E o que é, na verdade, essa idéia posta de fidelidade? O episódio que gera a questão vem logo no início da narrativa, quando Alves chega em sua casa e encontra sua esposa nos braços do sócio. Este mais jovem e com mais dinheiro. Godofredo se desespera, expulsa a mulher de sua casa e trama se vingar matando o sócio. Como fazer? Busca o auxílio de amigos próximos e entre discussões e desilusões repensa seus valores morais. O texto retrata o cotidiano do século XIX em Portugal e a mudança de costumes solidificados, representados por Godofredo Alves, como a própria fidelidade matrimonial, o duelo para justificar a honra, a mesada para a esposa traidora, as “aparências” que deveriam ser mantidas, frente a visão dos demais personagens: o sogro que preocupasse com a mesada da filha, seus amigos que lhe dão uma aula de experiências amorosas, os empregados que fazem vistas grossas aos acontecimentos. Depois de persuadido, Godofredo resolve retornar à mulher e aceita o sócio novamente. E fica o dito pelo não dito e viveram felizes, etc. A questão central de “Alves e Cia.” é a adequação do homem ao meio, a pressão da sociedade que o obriga a tomar posições frente aos acontecimentos em seu dia a dia; a degeneração da moral cristã que só existe como um véu encobrindo a realidade e o tempo – a velocidade das transformações sociais que atropela um conjunto de valores solidificados – que apaga todas as feridas. Tudo estava bem na vida do Alves. Até que um dia ele chegou em casa e teve a terrível visão em sua sala de estar: sua mulher, no sofá amarelo, em postura inconveniente, trocando afagos com um outro homem. Negócios, tranqüilidade, o doce lar, tudo veio abaixo de uma só vez, como num pesadelo terrível. Desesperado, Alves vê sua vida ruir e, indignado, anseia por vingança. Afinal, perde-se a mulher, mas não se perde a honra. O que é realmente importante para a vida social de um homem nesse conjunto que é o século XIX e, em determinadas classes sociais, para o homem de hoje? Tais questões permeiam todo o texto. Podemos perceber que o naturalismo – característico dos textos anteriores de Eça de Queiroz – já começa a dar espaço a um sarcasmo diluído na narrativa (que não invalida o naturalismo) que funciona como uma “saturação”, aparecendo em cada detalhe descrito do cotidiano português. A critica é tomada à sociedade burguesa. É o caso da construção de uma espécie de “anticiúmes’. Godofredo Alves é o estereótipo da prudência mercantil e da burguesia constituída em sólidas bases. Sua reconciliação com a mulher e com o sócio determina a prevalência dos negócios: a firma, as aparências, a conveniência social, etc. sobre as relações amorosas: “As paixões fortes pertencem aos livros”. As pressões de seus amigos e dos demais membros de sua convivência/conveniência social o persuadem a esquecer o "acidental" adultério, reduzindo-o a um acidente pouco significativo. O que sobrevive é, realmente, a necessidade de sobrevivência em uma sociedade capitalista.

Iaiá Garcia (Machado de Assis)


Luis Garcia era um homem reservado (pai de Iaiá ) e vivia exclusivamente por sua filha, Lina, uma garota mimada, que tinha toda a atenção de seu pai. Viúvo, ele vivia em uma casa mais afastada que se enchia de alegria quando Lina, ou melhor, Iaiá Garcia, chegava da escola. Na casa ainda havia um negro que era todo dedicado ao senhor e sua filha.
No círculo pequeno de amizades de Luis estava a Sra. Valéria, também viúva. Esta tinha um filho, Jorge. E foi por ele que Valéria chamou Luis à sua casa. Acontece que ela desejava mandar o filho à guerra do Paraguai e queria que Luis a ajudasse a “fazer a cabeça do jovem”. Justificava esse desejo afirmando que era seu dever como cidadão e também em referência às glórias e méritos que tais conflitos geram aos vencedores, não acreditando na morte do filho. Porém sua verdadeira razão era fazê-lo esquecer uma grande paixão.
Na casa de Valéria vivia Estela, filha de um grande amigo do seu  finado.. E fora justamente essa moça que despertara em Jorge a paixão verdadeira. Jorge a amava e até chegou a se declarar e furtar um beijo da moça, o que a fez resolver voltar à casa de seu pai. Mas ela apenas negava o amor que sentia; quando o descobriu logo acreditou em sua impossibilidade e o trancou para sempre ao fundo de seu coração.
Jorge que fundia a realidade com romances foi à guerra e lá se manteve fiel à paixão que em carta a Luis Garcia afirmava tê-lo transformado de criança a homem. Enquanto isso Estela não sofria de amores, seu sentimento era como que esquecido e ela mantinha-se orgulhosa, firme e até mesmo fria.
Durante os anos em que Jorge ficou na guerra, Valéria mesmo não acreditando em vestígios do romance de outros tempos chamou Estela de volta à sua casa e viviam em perfeita harmonia. Como era seu intuito, a senhora falou à moça da necessidade de se casar e assim lhe disse que quando achasse o homem conveniente a avisaria.
Nestas circunstâncias iniciou-se um convívio mais intenso entre a casa de Luis Garcia e de Valéria. Iaiá encantava a todos eles e ela e Estela logo se fizeram companheiras. Em seguida a menina deu a falar de um casamento entre seu pai e a companheira. Luis viu como as duas se davam bem, Estela viu como ele era um homem digno e assim se fez o casamento deles: companheirismo e respeito.
Por fim, Jorge voltou da guerra – e cheio de glórias. Sua mãe já havia falecido. Ele também já sabia do casamento de Estela e, como sua família era amiga da família de Luis, as visitas se fizeram necessária. Ele inicialmente se abalava enquanto ela era fria como antes.
Quando Luis Garcia ficou doente, a presença de Jorge se tornou mais presente e, como o doente lhe pedira que auxiliasse a família, ele passou a ser íntimo da casa da mesma forma que Procópio Dias era. A convivência ali era calma, no entanto, Iaiá que já se tornara moça parecia sentir por Jorge um desprezo injustificável. A doença de Luis Garcia teve fim, mas seus problemas no coração logo lhe tirariam a vida.
Em certo tempo, em uma limpeza de papel que Luis fazia, encontrou ali a carta que Jorge lhe mandara lhe descrevendo seu amor fiel que se transformara de criança para homem. Achou graça de tal texto e deu-lhe para Estela ler. Ele não viu nenhuma das alterações por qual a esposa passara diante da carta, porém Iaiá viu. Em seguida a menina passou a desconfiar que houvesse entre a madrasta e Jorge um romance proibido que fosse mantido em segredo no coração dos dois.
Nesse tempo também, Procópio Dias afirmava a Jorge o amor que tinha por Iaiá e pedia-lhe seu apoio, ainda mais porque se via obrigado a uma viagem ao Rio que demoraria quatro meses ou mais.
Foi também aí que Iaiá mudou seu relacionamento com a madrasta e com Jorge. Para com Estela vivia de acordo a favorecer a paz doméstica e com Jorge se tornava amável. Este fez referência a ela sobre o amor de Procópio Dias, ao que a menina não mostrava nem um pouco de interesse. E bastaram esses meses que ele se mantinha fora para que Iaiá e Jorge iniciassem um romance, amavam-se de fato.
Quando Procópio chegou já não se sentia tão abalado por Iaiá, mas ainda lhe guardava certa paixão. Ao mesmo tempo Luis Garcia sentia o peso dos problemas cardíacos que tinha e beirava a morte. Estela, que estava ciente do romance da enteada, não só afirmou se agradar de tal coisa como também incentivou o casamento dos dois o mais breve possível para que fosse possível a Luis Garcia ter o prazer de dar a bênção à filha.
Infelizmente ele faleceu antes. Iaiá, que era profundamente ligada ao pai, ficou abalada por longo tempo e assim adiando seu casamento. Jorge, depois de certo tempo de luto, questionou à noiva sobre a data do casamento ao que ela respondeu com uma carta de rompimento. E encarregou ao negro fiel da família a entrega de outra carta a Procópio, tendo esperanças nos sentimentos que ele afirmara ter por ela.
Jorge, como resposta a carta de rompimento, enviou outra a Estela perguntando o porquê da ação de Iaiá. Estela questionou à menina que respondeu que não poderia se casar com Jorge já que ela o amava. A madrasta, extremamente irritada, agiu até convencer Iaiá de que não havia amor nenhum entre eles e assim respondeu a Jorge que a carta da enteada não passara de um capricho.
Por sorte, o negro achou melhor não entregar a carta a Procópio e assim o casamento de Jorge e Iaiá foi marcado e concretizado. Estela fora pra outra cidade onde arrumara um emprego. Seu pai, que nunca fora confiável para Luis Garcia, sempre viveu dos outros e desejava ver a filha junto a Jorge, não foi com ela.
Madrasta e enteada trocavam cartas e no dia do aniversário de um ano da morte de Luis no cemitério Iaiá encontrou ali uma coroa deixada por Estela, a qual beijou como se fosse a madrasta, que sinceramente deixara ali flores ao falecido marido.

Diva - José de Alencar

Diva é um romance urbano. Nele a heroína Emília, bela e rica, filha mimada de um capitalista carioca fica dividida e confusa frente ao amor de Augusto. Diva narra a história de Emília Duarte. O narrador, em primeira pessoa, é o homem que a ama, Augusto Amaral. Emília é uma adolescente muito retraída e tem aversão a que estranhos a toquem. Uma enfermidade a leva quase à morte. É chamado um médico recém-formado, colega de seu irmão, Dr. Augusto Amaral. Augusto dedica-se a Emília, mas ela se recusa a ser tocada e não o deixa sequer entrar no quarto. Apesar de tudo, Augusto consegue salvar a moça, o que faz com que ela o odeie, temendo que ele exija sua amizade como recompensa. Seguem-se várias discussões e brigas entre os dois, onde se revela o caráter de Emília, extremamente instável e voluntariosa. Os dois ficam assim presos em jogos de amor, amizade e desprezo que são por vezes infantis e outras humilhantes. Augusto se declara, Emília diz não o amar.
 Augusto acaba apaixonando-se por Emília, mas as atitudes dela são tão incertas que acabam por levá-lo ao desespero. Ao final, tudo se reequilibra e termina bem, quando Emília revela seu amor pelo médico. Eles vivem felizes para sempre, num romance que segue ao pé da letra o estilo folhetim: heróis perfeitos, um obstáculo para o amor (a dúvida de Emília) e um final feliz no último instante. (Meio que não importante dizer isto, mas a declaração final de amor de Emília deve ser a epígrafe do Manifesto Machista.)
No final do Capitulo III, a personagem Emília é comparada a uma Vênus moderna, a diva dos salões, explicando assim o título do livro: Diva.

Cinco minutos (José de Alencar)

A história começa no Rio de Janeiro, quando o narrador-personagem perde o ônibus e é obrigado a pegar o próximo, ele entra e procura um lugar no fundo do carro, mas os lugares já estavam ocupados, porém uma moça afastou-se um pouco e deu lugar a ele. Minutos depois, ele tenta ver o rosto da moça mas foi impossível por conta de um véu que cobria sua face. Então  ele temeu que a mesma fosse feia. Instantes depois, o braço macio dela encosta no braço dele, juntamente com sua mão delicada e ele se apaixonou de uma maneira irreverente. No entanto momentos depois a moça desce do carro sem que ele percebesse e a partir daí ele faz de tudo pra ver a amada novamente. Depois de um mês tentando descobrir a identidade da amada, ele a encontra numa ópera (La traviata) e declara-se para ela mas ela foge deixando um lenço cheio de lágrimas. Depois de outros desencontros, finalmente ele conhece a mulher. Por carta, ela revela que já o observava nos bailes, amava-o há tempos, mas não podiam ficar juntos porque ela tinha uma doença incurável. Ele se entristece com a notícia e ela pede para que ele a esqueça, mas isso se torna difícil pois ele já está apaixonado. Para prolongar seus dias de vida Carlota teria que viajar, nisso ela mandou uma carta para ele comunicando sobre sua viajem com a sua mãe. Assim que ele recebeu a carta fez de tudo para achá-la, indo até a Europa ao seu encontro.  Encontrando-a, eles começaram a viver um amor puro á espera da morte de Carlota.

Uma tarde em que ela estava ainda mais fraca, eles foram para a varanda da casa em que estavam, ela não tinha forças nem para sorrir, parecia que estava dando adeus à vida. Depois de instantes, Lúcio sentiu a respiração de Carlota parar e a mão gelar; ele a abraçou e encostou seus lábios no dela, dando-lhe um beijo e nesse momento ocorreu um milagre. Carlota ergueu a cabeça com um ar de felicidade, e dias após já tinha recuperado sua saúde e sua força, ambos estavam felizes desfrutando essa alegria. Eles se casaram e passaram a viajar bastante durante um ano consecutivo, vivendo de um amor e alimentando-se de contemplações; depois resolveram morar em uma casa fixa, levavam uma vida normal e apaixonante. No fim, a retrospectiva de sua vida amorosa é toda relatada em uma carta escrita por Lúcio para sua prima. E foi aí que ele constatou que por causa do atraso de cinco minutos, conheceu a mulher de sua vida!


Análise do livro:
Cinco Minutos conta a história do casamento do autor com Carlota. No entanto, para o leitor, parece que está escutando uma história que não é para ele, já que Alencar dirige seu texto a uma prima. O leitor aqui é uma terceira pessoa, um voyer que fica entre José de Alencar e sua prima. Ao mesmo tempo em que tenta levar o leitor a pensar que tudo é imaginário e faz parte das fantasias do autor, José de Alencar faz questão de narrar fatos verídicos da época, acontecimentos reais que marcaram o Rio de Janeiro no início do século. É tão minucioso nesse aspecto que até narra datas e horários etc. Atualmente as histórias do autor romântico passam como que quase infantis e ingênuas para o leitor moderno. São narrações em que o amor sempre vence, decisões passionais de amantes, amor e amor e amor. À época, os folhetins eram lidos pelas senhoras burgueses. Exagerando-se um pouco na dose, poderíamos dizer que Alencar lembra remotamente, os livrinhos que embalam os sonhos de moças solteiras, no entanto não se pode deixar de dizer que sua escrita, linguagem, e modo estilístico são de extrema qualidade. Foi Alencar quem dissociou-se do modelo português da escrita para definitivamente inaugurar o texto nosso, brasileiro. Os livros Cinco Minutos e A Viuvinha falam sobre a vida burguesa. Suas personagens são personagens que, no fundo, representam o ideal acabado da vida burguesa, tropicalmente reproduzida na Corte brasileira. Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está disponível, da primeira à última página, para satisfazer a todos os caprichos de sua imaginação. Sem compromisso profissional algum, o aspecto financeiro de suas peregrinações atrás de Carlota não chegam jamais a preocupá-lo.

José de Alencar não era um adepto das convenções sociais marcadas pelo tempo cronológico, ou seja, hora para fazer isso, horário para fazer aquilo...achava que os seres não podiam ficar submetidos a um aparelho com pequenos ponteiros e que esse ordenasse suas vidas. Isso fica evidente também na obra - Cinco Minutos - devido ao fato do personagem conhecer o amor de sua vida através de um atraso de cinco minutos em relação a sua rotina diária, ou seja, o atraso pode ser benéfico, segundo o autor.

Cinco Minutos é um romance bem curto que conta uma estória de amor contada na cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX. O autor usa de um artifício para contar essa estória ao leitor: ele finge que está contando o fato a prima dele através de uma carta. Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está onipresente da primeira à última página. O titulo do livro chama bastante atenção pelo o nome: Cinco Minutos. A ilustração da capa também chamou a atenção, pois havia uma mulher com uma carta na mão. Na intenção de dar aparência real à sua estória, o autor faz citações precisas de locais e horários e ainda uma mistura de realidade e fantasia, imaginação e romantismo.
O autor (José de Alencar) que participa da obra é um dos maiores escritores de ficção do nosso romantismo e escreveu vários livros que focalizam os diversos aspectos de nossa realidade. Alencar nasceu em Messejana , em 1829, e foi advogado, jornalista e político. Morreu no Rio de Janeiro, em 1877.

Na obra existem dois principais protagonistas... o narrador: que se caracteriza por ser um homem rico e sem profissão que não liga para bens matérias e seu amor Carlota: que é uma moça de 16 anos. Os dois possuem uma coisa em comum... eles são românticos... um personagem antagonista que é a mãe de Carlota e vários outros personagens secundários. O texto é desenvolvido em três cidades : Andaraí (Minas), Rio de Janeiro e Petrópolis. A obra acontece aproximadamente ao tempo cronológico de três meses.

Enfim, o livro relata um pouco da realidade vivida pelo autor envolta em fantasia, imaginação e romantismo.